Tópicos chave
Minuto 51 dos quartos de final do Mundial de 1986. Joga-se o Argentina-Inglaterra. Maradona preparava-se para marcar, com a mão, o primeiro de dois golos que marcaram a história do futebol para sempre.
A mítica camisola azul da seleção argentina de futebol envergada por Maradona aquando da eliminação da Inglaterra (2-1) no Mundial México 1986 foi arrematada por um recorde de cerca de 8,8 milhões de euros, anunciou esta quarta-feira a leiloeira Sotheby's.
A quantia de 9,3 milhões de dólares suplanta largamente os 5,6 milhões de dólares (5,3 milhões de euros) angariados no leilão da camisola da estrela norte-americana de basebol da década de 1920 Babe Ruth, em 2019.
No final do encontro dos quartos de final do México 1986, após o golo apontado com a mão e o denominado "golo do século", em que Maradona fintou diversos adversários e o guarda-redes Peter Shilton, a camisola foi trocada por "el Pibe d'Oro" com o médio inglês Steve Hodge, que a manteve quase 35 anos, antes de ser emprestada para exposição a um museu de futebol britânico.
Sete licitantes viram a peça num leilão que começou a 20 de abril e terminou na manhã desta quarta-feira, adianta a Sotheby's. "Esta camisa histórica é uma lembrança tangível de um momento importante não só na história do desporto, mas na história do século XX", assinalou o coordenador da leiloeira para streetwear e colecionáveis modernos, Brahm Wachter, citado pela AFP.
"Esta é, sem dúvida, a camisola de futebol mais cobiçada alguma vez foi leiloada, por isso é apropriado que agora detenha o recorde de leilão de qualquer objeto deste género", disse ele.
O primeiro golo do lendário jogo entre Argentina e Inglaterra aconteceu pouco depois do intervalo, quando Hodge, no limite da grande área inglesa, intercetou um passe em direção à própria baliza. Maradona correu para a área, saltou com o guarda-redes inglês Peter Shilton e enviou a bola para a baliza. Mais tarde, assumiu que o golo tinha sido marcado "um pouco com a cabeça de Maradona, um pouco com a mão de Deus".
Quatro minutos depois, Maradona deixou cinco defesas ingleses para trás antes de passar por Shilton e marcar aquele que foi votado como "Golo do Século" num inquérito da FIFA em 2002.
Camisola às avessas?
No início do mês, Dalma, a filha de Maradona, lançava um véu de dúvidas sobre o leilão: afirmava que a camisola que ia ser vendida seria a que o pai tinha usado na primeira parte do jogo - que não teve golos - e não na segunda, quando assinou o bis.
"Este antigo jogador pensa que tem a camisola da segunda parte, mas é uma confusão. Ele tem a da primeira", disse.
Mesmo assim, a Sotheby's garantiu ter a camisola certa. Uma porta-voz reconheceu à AFP que "havia de facto uma camisola diferente, usada por Maradona na primeira metade do jogo, mas há claras diferenças entre essa e a que foi usada durante os golos. Assim, antes de colocarmos esta camisola à venda, fizemos extensas diligências e uma investigação científica para nos certificarmos de que era a camisola usada por Maradona na segunda parte e nos dois golos".
O processo de comparação da camisola com fotografias da época "examinou detalhes únicos de vários elementos do objeto, incluindo remendos, riscas, e a numeração".
A este processo junta-se que o próprio Maradona comprovava a proveniência da camisa no seu livro "Tocado por Deus", lembrando-se de a ter dado a Hodge no final do jogo.
Diego Armando Maradona, que somou 91 internacionalizações e 34 golos pela Argentina, morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, após sofrer uma paragem cardíaca na sua vivenda em Tigre, na província de Buenos Aires.
A carreira de Maradona enquanto futebolista, de 1976 a 1997, ficou marcada pela conquista do Mundial 1986, ao serviço da Argentina, e por dois títulos italianos e uma Taça UEFA pelo Nápoles, emblema pelo qual alinhou de 1984 a 1991.
'El Pibe' representou ainda Argentinos Juniors (1976 a 1980), Boca Juniors (1981 e entre 1995 e 1997), FC Barcelona (1982 a 1984), Sevilha (1992/93) e Newell's Old Boys (1993/94).