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Se o fado é sofrimento, Portugal foi ao Catar dar um concerto frente ao Gana. E o silêncio fez-se mesmo, pelo menos por duas vezes, quando depois de marcar, a equipa das quinas decidiu sofrer.
Ronaldo, de penálti, Félix e Rafael Leão fizeram os golos lusos num jogo em que Ayew e Bukari ainda deram esperança aos ganeses, que terminaram o jogo a tentar o empate. Cristiano Ronaldo, entretanto, tem mais um recorde: é o primeiro jogador de sempre a marcar em cinco Mundiais.
Com este resultado, Portugal sobe à liderança do Grupo H, com três pontos, mais dois do que Uruguai e Coreia do Sul, que esta tarde empataram sem golos.

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Voltaram-se, finalmente, as atenções para o relvado do Estádio 974: construído com contentores, palco da estreia lusa no Catar. E, a avaliar pelo onze inicial, quem estava nas bancadas preparar-se-ia para um jogo de gabarito. É que, no 11 inicial, havia Bruno, Bernardo, Félix e Ronaldo prontos para atacar a baliza ganesa. Na defesa, Danilo foi a principal novidade e Pepe - afastado dos relvados até recentemente - ficou no banco.
Ouça o Relato TSF dos golos, por António Botelho, com sonorização de Alexandre Lima.
As atenções esta tarde centravam-se, naturalmente, no recém-jogador livre Ronaldo. Já sem contrato com o Manchester United, o português tem este torneio para mostrar o que ainda pode oferecer a quem, em janeiro, queira apostar nele. Aliás, logo na primeira intervenção recebeu uma salva de palmas que, depois de ter cantado o hino quase em lágrimas, lhe terá aquecido a alma.
Bastaram-lhe dez minutos para se ver frente a frente com o guardião ganês, Zigi. Numa perda de bola dos africanos no corredor central - zona proibida -, a bola acabou nos pés de Otávio, que lançou o capitão em profundidade. Ronaldo fez a receção orientada em direção à baliza, mas adiantou demasiado a bola.
Não finalizou, mas abriu o livro. Três minutos depois, estava a dar um daqueles saltos que já celebrizou: um bom meio metro acima de toda a gente, cabeceou ao lado.
E como é que isto tudo funcionava? Os primeiros quinze minutos de jogo mostraram um meio-campo com Rúben Neves como médio mais recuado, Otávio à sua frente, sobre a esquerda, e Bernardo à direita, entre o corredor e a zona central. Lá na frente, Ronaldo no meio, Félix à esquerda e Bruno Fernandes à direita. Mas tudo isto compunha um carrossel e, aparentemente, só Neves não tinha a moedinha para andar às voltas.
Do outro lado, um Gana sem medo. Talvez até em demasia. É que os africanos não abdicavam de trocar a bola a partir de trás, começando pelo guarda-redes, mas Portugal também não abdicava de pressionar. E Otávio, Bruno e Neves, não sendo rapazes para estarem quietos, iam criando o caos.
Aliás, por isso mesmo, aos 30 minutos, a bola acabou em Félix, que descobriu Ronaldo no interior da grande área. Despachado um defesa com um "chega para lá", virou-se e atirou para o fundo das redes, mas o árbitro Ismail Elfath entendeu que a força do encontrão anterior tinha sido demasiada. Assim, golo anulado.
Depois de uma primeira parte de controlo do jogo - com uma posse de bola de 62% - e depois de ter afastado com sucesso os únicos cruzamentos perigosos do Gana - em dois pontapés de canto -, começava a pressão final antes do intervalo. Félix ia crescendo, mas faltava entender-se com Ronaldo e, portanto, não houve mesmo golos até à pausa. A título de exemplo, num Mundial que tem tido largos minutos de compensação no final de cada uma das partes, este jogo teve apenas dois.
Marcar e adormecer faz sofrer
Fernando Santos não mexeu, ao intervalo, nos 11 que estavam em campo, mas com cinco minutos jogados na segunda parte, William Carvalho já aquecia, acompanhado por André Silva e Dalot. E foi da linha lateral que viram o Gana crescer e aproximar-se do primeiro golo.
Kudus fugiu a Rúben Neves e disparou pelo corredor central. Chegado à entrada da grande área, rematou forte e rasteiro, obrigou Diogo Costa a voar e mais de dez milhões a suspirar de alívio. Fernando Santos não esperou mais, até porque não podia: Otávio saiu lesionado, entrou William.
Depois de uns minutos para reajustar, Portugal lá voltou a criar perigo. Guerreiro deu de trivela para Félix, que lançou Ronaldo no espaço. O português dividiu o lance com Salisu, caiu, e Elfath apontou para os 11 metros. Era penálti para Portugal, ainda que muito contestado pelos ganeses.
Ronaldo assumiu, respirou fundo, rematou e marcou. Bola para a esquerda - o mesmo lado para que Zigi mergulhou - rematada com força e altura. Seguiu-se o óbvio "Siiiiu", que ecoou por todo o estádio 974. Era o primeiro golo de Portugal neste Mundial e a confirmação de mais um recorde para Ronaldo: é o primeiro jogador a marcar em cinco fases finais de Mundiais.
Mas Portugal não estava a jogar sozinho e cedo se esqueceu disso. Kudus - que encheu o campo - subiu descaído sobre a esquerda e tirou um cruzamento rasteiro que, de um só golpe, traiu Danilo e Raphael Guerreiro. Ayew, capitão e experiente avançado, só encostou para o empate.
A resposta veio do banco. Rafael Leão entrou para o lugar de Rúben Neves e foi já dentro do campo que viu a resposta portuguesa materializar-se. Primeiro, foi Bruno Fernandes quem ajudou a desbloquear o jogo. Lançou João Félix no espaço, descaído sobre a direita, e o avançado português picou sobre Zigi para o 2-1.
Inspirados, os lusos "foram para cima" e chegaram ao terceiro por Rafael Leão. O avançado incluído pela FIFA no top 20 de melhores do mundo surgiu sobre a esquerda já dentro da grande área, abriu o corpo e rematou cruzado e rasteiro para o 3-1. Uma vez mais, a assistência foi de Bruno Fernandes.
Conseguida a vantagem de dois golos, Fernando Santos abdicou de Cristiano Ronaldo, Bernardo e Félix, que viram do banco o Gana marcar mais um. Foi Bukari quem, depois de mais um cruzamento sobre o lado esquerdo, fez o remate certeiro para o 3-2. Nisto tudo, Palhinha, João Mário e Gonçalo Ramos já estavam em campo.
"Só" faltavam nove minutos de compensação e o Gana não dava sinais de abrandar: Kyereh e Semenyo entraram para os lugares de Abdul Samed e Salisu. Começava a praticar-se a arte portuguesa de sofrer, com direito a um erro de palmatória no último minuto do prolongamento.
Sozinho na sua própria grande área, e com a bola na mão, Diogo Costa não viu que tinha um adversário nas costas. Tranquilo, colocou a bola no chão e, quando se apercebeu do que fez, já um adversário a tinha nos pés. Sorte lusa, azar ganês, Bukari escorregou e Danilo chutou para longe. Foi a guitarrada final.
A camisola vestida e o telemóvel desligado
Ainda a bola não tinha começado a rolar e já o primeiro-ministro, António Costa, vestia a camisola. Palavras do próprio, que usou o Twitter para desejar boa sorte aos jogadores portugueses, a pouco mais de meia hora do início da partida. "Neste jogo de estreia do Mundial de Futebol, desejo boa sorte à seleção portuguesa. Estamos todos com a camisola vestida", pode ler-se na curta mensagem do chefe do Governo português.
Já no Catar, perto dos protagonistas, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que tentou falar com Fernando Santos, mas o selecionador nacional "tinha o telemóvel desligado".
"Sei que está em grande forma e os jogadores também, foram-me contando que a disposição é ótima. Começou bem com o outro jogo, vamos ver se continua bem", afirmou o Presidente da República.

A emissão especial da TSF em Lisboa acompanhou, ao vivo, o Portugal-Gana, num relato de João Ricardo Pateiro com comentários de Óscar Botelho
© DR
Onze de Portugal: Diogo Costa; João Cancelo, Rúben Dias, Danilo e Raphael Guerreiro; Rúben Neves e Otávio; Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix; Cristiano Ronaldo.
Onze do Gana: Ati Zigi; Seidu, Djiku, Salisu, Amartey e Rahman; Partey e Abdul Samed; Kudus, Iñaki Williams e André Ayew.

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