Estão as equipas em Portugal a regressar ao 4x4x2 como diz Rúben Amorim?
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Estão as equipas em Portugal a regressar ao 4x4x2 como diz Rúben Amorim?

O técnico do Sporting admite mudar a forma como tem apresentado as suas equipas no futuro. Promete uma revisão da matéria e explica que há agora, em Portugal, mais equipas a jogar em 4x4x2. Os treinadores Manuel Machado e João Henriques analisam tendências, e explicam como pensam os técnicos em Portugal.

O Benfica de Roger Schmidt deixou de lado o 3x4x3, utilizado por Jorge Jesus. Mas há outros exemplos que fazem Rúben Amorim anunciar uma reflexão sobre a forma como o "seu" Sporting se apresenta em campo. Tanto em Braga como nos leões, Rúben Amorim optou por um modelo com três defesas centrais. Admite agora, pela primeira vez, conduzir a equipa por um outro caminho, embora admita que ainda vai ter de parar para pensar sobre o assunto.

"Em Portugal as equipas estão a jogar muito o 4x4x2. A forma com que o Vizela se apresenta - não foi o caso contra nós -, o Benfica, etc. Nós também vamos fazer essa avaliação e ver como vamos jogar para o ano", explica Rúben Amorim em conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Arouca, para as meias-finais da Taça da Liga, em Leiria.

Três centrais: primeiro estranharam-se, depois entranharam-se

Ouvido pela TSF, Manuel Machado discorda dos argumentos de Rúben Amorim. "A questão da linha de quatro é permanente", não uma tendência recente, algo novo acrescentado ao caderno dos treinadores nacionais, começa por explicar Manuel Machado.

"Sou do tempo, há duas ou três décadas, quando comecei a trabalhar no futebol profissional, em que a utilização de três centrais era muito mal vista. As administrações dos clubes, perante essa opção do quadro técnico, manifestaram-se muito contrárias. Nestes últimos anos houve uma retoma desses sistemas de três defesas", nota o experiente treinador.

No ombro a ombro com os rivais pelo título a questão levantada pelo treinador do Sporting cai por terra. "Amorim ganhou com três centrais, com mérito. O Benfica na gestão de Jorge Jesus também utilizou três centrais, com equipas de sucesso e outras de menor sucesso. A única equipa que se manteve com linha de quatro foi o FC Porto de Sérgio Conceição, e também tiveram épocas de sucesso e outras que não tiveram sucesso, mesmo mantendo a linha de quatro".

"Quando o Rúben [Amorim] diz que há muitas equipas a trabalhar numa linha de quatro, não falamos de nada de novo. Não será por isso que terá necessidade de alterar o seu próprio modelo por uma coisa que sempre existiu", indica Manuel Machado.

"Se formos atrás, fazer um levantamento do número de equipas que usavam uma linha de três há dez, ou 15 , ou há 20 anos, veremos que há muito poucas equipas a jogar dessa forma. Normalmente só acontecia na gestão dos 90 minutos, num momento em que havia uma vantagem que era preciso defender e, por isso, metia-se mais um central", aponta.

João Henriques e a presença na área adversária

O técnico João Henriques admite que há, entre os candidatos ao título, uma procura de maior número de opções ofensivas, da qual o Sporting destoa. "O sistema é muito dinâmico, é uma questão de números", explica o treinador que em 2022/2023 já passou pelo Marítimo. "As equipas que pretendem ter um jogo com mais presença na área, na nossa liga, tanto Benfica como FC Porto, têm utilizado dois avançados: sejam eles mais móveis ou mais fixos", nota.

"O Benfica tem usado dois avançados - Rafa com Gonçalo Ramos -, o Sporting tem usado apenas um avançado, quando o tem, se é que se pode usar esse nome, o de ponta de lança. O FC Porto usa muitas vezes Evanilson com Taremi. Há uma tendência para ter mais presença de jogadores, os chamados pontas de lança nos sistemas". E poderia acrescentar nesta lista o SC Braga de Artur Jorge, com Abel Ruiz, Vitinha ou Banza.

"É uma questão de ideia de jogo. Os treinadores muitas vezes vão atrás de modas, outras vezes adaptam-se ao plantel que existe". Essencial, diz o treinador João Henriques, é o espaço dado ao treinador para impor uma ideia consistente. Para tudo é preciso "tempo", acrescenta.

"No FC Porto houve alterações de dinâmicas, sempre com o mesmo treinador, à medida que iam passando jogadores diferentes. Mas a ideia do treinador está bem vincada, com muita presença na área e dois avançados. É subjetivo pensar naquilo que os outros fazem."

Um problema de qualidade do plantel e não do número de defesas

"O problema do Sporting está muito para além do modelo", resume Manuel Machado. "Tem que ver com aquilo que corporiza, com a qualidade dos jogadores que tem à disposição, por confronto com os jogadores que tinha. O Sporting tem vindo a descalçar o plantel em termos qualitativos. Por força disso, o treinador vê-se confrontado com problemas de rendimento, que não vão passar por uma alteração do modelo."

Para o técnico de 67 anos, a mudança para um modelo de quatro defesas não resolve os problemas dos leões. "Como observador externo, não me parece que a alteração do modelo, com estes mesmos jogadores, vá alterar o rendimento. É a maior evidência de um certo declínio competitivo que o Sporting apresenta. Ou seja, vende-se este, aquele e o outro, mais à frente, e não se consegue equilibrar o plantel com aquisições da mesma qualidade, é evidente que o rendimento - independente do modelo tático - vai cair."

"O Sporting tem vindo a vender de forma constante os seus melhores jogadores e isso penaliza. São os jogadores que fazem a diferença dentro de campo, (...) quando se tem um abaixamento da qualidade do grupo que se gere, é evidente que, independentemente de sistemas táticos e do aumento da carga de trabalho, as coisas não vão resultar", nota Manuel Machado.

Há exemplos de sucesso com todas as ideias

João Henriques acredita que há vários caminhos possíveis para os treinadores. "Aquilo que vi foi muita gente atrás da linha de três centrais, ou três centrais mais dois laterais. Outros treinadores mantiveram a ideia de base. Por vezes é uma ideia de moda, das pessoas se sentirem mais seguras em função daquilo que têm à frente. Nós olhamos uns para os outros, vemos ideias novas, é importante não nos fecharmos nas nossas bolhas e percebermos porque é que os outros têm razão. Não é tentar imitar ou fazer plágio, mas sim perceber qual a tendência evolutiva do jogo. Mas há muitas equipas da Primeira Liga que têm linhas de cinco", explica.

Dois exemplos saltam à vista, são "casos de sucesso". O primeiro é "o Casa Pia, que está a fazer um campeonato fantástico com linha de cinco". E depois, o Arouca, "uma equipa que está a ter sucesso, mas que não usa só a linha de cinco, é mais flexível, por vezes usa uma linha de quatro e, outras vezes, uma linha de cinco. Depende sempre das dinâmicas que se criam dentro das equipas", aponta João Henriques.

Já Rúben Amorim "é um treinador que tem uma ideia muito vincada. Desde que a apresentou, tanto em Braga como no Sporting, com um sistema muito claro. Naturalmente, com o tempo, vai criando novas ideias, novas alternativas, dinâmicas diferentes consoante os jogadores que tem. As palavras dele são no sentido da evolução dele como treinador, tentando perceber o que a equipa pode dar mais tendo em conta o sistema de base que a equipa tem", explica João Henriques sobre as temporadas do atual técnico leonino na elite.

"Eu próprio já tive situações em que tive de colocar três centrais, o que não vai ao encontro daquilo que é a minha ideia. Mas era o que tinha à disposição", resume.

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