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É a muitos milhares de quilómetros de distância que Andrés Malamud chora a morte de Maradona. Foi o avô quem lhe falou dele pela primeira vez. Nessa altura Diego Armando tinha 16 anos e o avô, que era adepto de uma equipa rival, não perdia os relatos do Argentinos onde o jovem craque jogava. "Vai ser o melhor do mundo", dizia-lhe.
"Com inteligência pode-se ser egoísta, o Governo foi egoísta com estupidez", é o lamento de Andrés Malamud, professor argentino que vive em Portugal, sobre o modo como aconteceu o adeus a Maradona
Mais de quarenta anos depois desse prognóstico, é em Portugal que Andrés Malamud acompanhou o cortejo fúnebre de Maradona. Diz que sofre mais porque está longe e falta-lhe alguém com quem partilhar a dor relativa à morte de alguém cujo percurso, diz, "é uma narrativa perfeita daquilo que é a Argentina".
Agora todo um país chora a morte de uma divindade. Um "D10s" que, num jogo frente aos ingleses conseguiu definir com um par de golos "incríveis" como é o seu país. "Um golo foi com batota, o outro foi o melhor dos mundiais. Não há descrição mais cabal e completa daquilo que é a Argentina: é uma montanha russa".
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E a provar que é um carrossel de altos e baixos, está o funeral de El Pibe. Andrés Malamud nem quer acreditar naquilo a que assiste através da televisão. É certo que "a família tinha pedido que o velório fosse curto. O governo levou isso em consideração, mas foi tremendamente incompetente".
O corpo de Maradona foi levado para a sede do Governo, o Palácio Rosa. Milhares de pessoas não o conseguiram velar. Andrés Malamud lembra que a Bombonera, o Estádio do Boca Juniors, "onde foi tão feliz", teria sido um palco melhor e mais seguro.
"Este foi o ato de utilização política", que Andrés Malamud diz não criticar, porque todos se tentariam aproveitar, "mas é de uma absoluta incompetência".
"Com inteligência, pode ser-se egoísta. Este Governo foi egoísta com estupidez", remata.