Tópicos chave
É provavelmente o brinco mais famoso da história do futebol português. Na década de 1970 interrompeu um Benfica - Sporting e os jogadores procuraram-no no relvado do antigo Estádio da Luz. Os ex-jogadores Toni e Augusto Inácio estiveram em lados opostos nessa partida e recordam, na TSF, o momento icónico.
"O brinco do Vítor Baptista não era pechisbeque. Era mesmo valioso", começa por dizer, entre risos, Toni. O antigo jogador do Benfica alinhou de início no dérbi lisboeta de 1978. Estava em andamento a 16.ª jornada do campeonato e este poderia ser mais um jogo entre rivais da capital, se não fosse o minuto 54.
Vítor Baptista, na altura avançado encarnado, abre o marcador com "uma jogada de grande qualidade técnica". Toni viu bem de perto: "O Vítor faz uma receção orientada com o peito e depois, sem deixar cair a bola, faz um golo de grande qualidade, de grande bandeira."
Os defesas do Sporting ainda tentaram impedir, mas o esforço foi em vão. Augusto Inácio foi um deles. Nessa partida jogou a defesa central. "Lembro-me que o Basto Lopes estava a jogar a defesa direito no Benfica. Quis meter a bola para o seu extremo direito, mas não sei que desvio a bola levou, que tentei adivinhar [a trajetória], mas veio mais para dentro do terreno. Tento saltar, não chego. O Laranjeira vem-me tentar cobrir. No meio estava o Vítor Baptista. Dominou a bola com o peito e faz um golaço", recorda o antigo jogador leonino.
Apesar de o que aconteceu a seguir ser um dos momentos mais insólitos do futebol nacional, Toni prefere sublinhar o golo: "Deveria seguir-se a comemoração natural, mas o Vítor Baptista começa a olhar para o chão. Eu estou ali nas imediações e, em lugar de o abraçar, andei ali à procura do brinco."
"Valia 12 contos"
No meio da jogada do golo, o acessório que Vítor Baptista usava sempre nos jogos tinha caído. De repente, jogadores de ambas as equipas e, segundo alguns rumores, até o árbitro, começaram à procura do brinco. Augusto Inácio recorda que "à medida que a bola ia para o centro do terreno, para recomeçar o jogo", alguns jogadores do Sporting e do Benfica "estavam a olhar para o chão para ver se encontravam o brinco. Não se encontrou e o jogo desenrolou-se".
Terá durado, segundo Toni, pouco mais de meio minuto. Mas o certo é que nunca o encontraram. No final da partida, "tratadores da relva" e "alguns jogadores" procuraram e nada, nem mesmo nos dias seguintes à partida. "Era como uma agulha num palheiro. Se houvesse um detetor de metais, era diferente", graceja Toni.
Vítor Baptista, no apito final desse dérbi que o Benfica acabaria por ganhar por 1-0, com o seu golo solitário, ficaria inconformado por ter perdido o seu brinco. De tal forma que, confessou na altura, perdeu dinheiro, já que o prémio do jogo era inferior ao valor de tão precioso objeto.
O companheiro de equipa Toni confirma a história. O ex-jogador diz que o brinco "valia 12 contos" [o equivalente a 60 euros nos dias de hoje] e que, no final, Vítor Baptista foi ter com os dirigentes do Benfica "para ver se lhe pagavam o brinco". Mas a tentativa saiu frustrada. "Eles não se deixaram comover", acrescenta o antigo médio das águias.
A intenção de "O Maior", como era conhecido, terá ido mais longe. Augusto Inácio revela uma história contada por jogadores do Benfica: "Ele realmente usava um brinco, mas disseram-me que no jogo não o usava. Fez aquele teatro todo para que houvesse um motivo para que o Benfica, ou o seu presidente, tivesse pena e lhe desse dinheiro para comprar um outro brinco."
"Passou a ser quase um farrapo"
O certo é que Vítor Baptista tinha acabado de ficar sem o objeto que contribuía para a sua imagem pessoal única. Regressaria pouco tempo depois ao Vitória de Setúbal, clube ao qual o Benfica o tinha ido contratar em 1971, sete anos antes. Passou depois por outros clubes, mas o pico de forma já tinha passado. O final de carreira precipitou-se.
Augusto Inácio, com lamento, lembra que "Vítor Baptista entrou num esquema que não o beneficiava enquanto atleta e foi realmente uma pena porque como jogador foi grandioso". Toni acompanha a ideia: "Ele, infelizmente, atolou-se na droga e teve um final de vida muito triste. Nunca mais foi o Vítor, passou a ser quase um farrapo."
Os maus negócios e as noitadas ajudaram a estrela a apagar-se aos 50 anos. Morreu na noite da passagem de ano de 1998 para 1999. Teve um AVC e acabou por falecer no hospital, numa altura em que sofria de hepatite C e cirrose. Ficou para sempre conhecido como o "Rapaz do Brinco". Um brinco nunca encontrado.