- Comentar
Vamos começar pelo golo do empate do Benfica: jogadores bem posicionados para atacar, jogadores a movimentarem-se sem bola, a bola a circular entre eles, e Rafa, já dentro da área, a correr com a bola a procura do momento certo para rematar. Este golo é a antítese do jogo que o Benfica promove. E é muito por este motivo que se explica a crise em que os encarnados vivem neste momento.
Claro que há factores extrínsecos, há erros individuais, há exibições paupérrimas. Há jogadores que não se mostram ao nível que o Benfica precisa, sobretudo neste momento em que tudo corre mal, mas não há problema maior do que as dificuldades colectivas que a equipa enfrenta.

Leia também:
Santa Clara vence pela primeira vez na Luz. Veja o resumo do jogo
Com bola, e é para mim esse o grande factor diferenciador entre uma equipa grande e as outras, o Benfica não se associa, apressa-se a esticar o jogo ou então a colocar algum jogador a transportar rapidamente para a frente. Tudo é feito e pensado em função das acelerações e falta-lhe pausa - a pausa de Weigl, o melhor em campo de muito longe. Essa incapacidade que a equipa demonstra de gerir os ritmos do jogo faz com que nos momentos de stress os jogadores não estejam preparados para responder colectivamente, nem para lutar contra o seu ímpeto individual de querer resolver tudo depressa. É também para isso que ter conforto com bola, que trocar a bola, serve. Por vezes, diz-se muitas vezes que as equipas fazem posse por posse, que não são objectivas, e que a posse não significa mais golos. Tudo isso é verdade. O problema que se ignora, é o efeito que isso tem nos hábitos da equipa. Esquece-se frequentemente que ter a bola é a melhor forma de defender. Não o sou eu que o digo, mas sim a regra do jogo que dita que apenas pode estar uma bola em campo.
O treinador não joga, quando está em capo não toma decisões pelos jogadores, não executa. Bruno Lage não pode fazer com que Nuno Tavares não cometa o erro que potenciou um dos golos do Santa Clara, nem a decisão de Vlachodimos de não sair dos postes para agarrar bolas perto de uma zona de acção que deveria ser sua. Mas pode fomentar, na equipa, a calma que um grande precisa para ser grande. Isto é, estimular dinâmicas colectivas que façam os jogadores perceberem que juntos, que com todos, têm mais sucesso do que sozinhos ou com poucos.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Por isso é que o golo do Benfica não é exemplo, a equipa está montada em função das situações em que tem espaço, e não para criar espaço. Isto leva a que não seja capaz, mesmo em vantagem, de conservar a bola tempo suficiente para frustrar as expectativas do adversário em recuperar a bola, e com isso ganhar o conforto, o tempo e o espaço para respirar melhor sem pressão. Como é uma equipa habituada a reagir para acelerar, e não a agir para criar momentos de aceleração com a estrutura montada para se defender de uma perda, não está trabalhada para ser paciente, não tem a cultura de procurar a melhor decisão para definir os lances com bola.

Leia também:
O último a marcar apagou a Luz. Santa Clara vence Benfica
Desde que Lage chegou, o Benfica nunca jogou como uma equipa que tem mais argumentos individuais que o seu adversário, e na maioria das vezes em que foi dominante deveu-se mais à postura do adversário do que ao mérito do colectivo encarnado. Porque entre a estratégia e a transição ofensiva, há um milhão de situações em que o Benfica tem a bola e não há condições para sair rápido, ou para colocar a estratégia em prática que o colectivo, e por isso também o individual, não está habituado a resolver.
Notas individuais: A exibição de Nuno Tavares merece destaque pela negativa. É verdade que o jovem formado no Seixal tem qualidade de execução nos cruzamentos, mas isso é muito pouco para fazer valer uma aposta como titular naquilo que se pede a um jogador em campo. Nem é pelo erro no golo, mas reparem que não acertou um gesto técnico em que lhe era pedido mais precisão, em que era necessário colocar a bola num sítio em concreto. Tem muito que crescer até mostrar qualidade suficiente para se assumir no Benfica.
Julian Weigl foi, uma vez mais, sublime. Acerta todas as decisões com bola, e tem a dificílima missão de gerir uma equipa que não quer saber da gestão do ritmo do jogo. Qualidade técnica, passes que colocam os colegas em melhores condições para atacar. É uma pena não o vermos jogar uns metros mais adiantado, tendo em conta o momento de forma de Gabriel (absolutamente fora do jogo).
* A Economia do Golo