"Pelé era a imagem do que o Brasil tem de melhor"

João Gabriel de Lima, jornalista e colunista do Estado de São Paulo conta na TSF a reação emocionada de um país perante a morte do símbolo maior da identidade nacional brasileira.

"O que eu tenho visto aqui na imprensa brasileira e também em grupos de amigos, grupos de WhatsApp, é que era uma notícia esperada", começa por nos dizer o conceituado jornalista brasileiro João Gabriel de Lima, atualmente radicado em Portugal e, de momento, de férias no Brasil. Pelé estava há algum tempo "num estado muito grave e alguns temiam que ele morresse durante a Copa do Mundo, inclusive". Mas, apesar de ser uma notícia esperada, é "um grande choque para o país. É como se o país tivesse parado, todos os jornais dando manchetes e várias reportagens a respeito do Pelé. Todas as pessoas absolutamente chocadas porque o Pelé era um pouco a imagem do que o Brasil tinha de melhor. Era aquilo que quando um brasileiro viaja ao exterior, a primeira, a primeira coisa que se pergunta ao brasileiro quando chega numa alfândega de qualquer país e se ele era da terra do Pelé". É como se o Brasil tivesse perdido aquilo que é sua a grande referência enquanto país. Foi algo bastante chocante para o país, apesar de ser uma notícia esperada.

A imprensa brasileira já não falou mais do facto de o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já ter fechado o elenco do governo com a lista completa dos ministros. Domingo há tomada de posse de Lula em Brasília. Partindo do princípio que o Brasil declara dias de luto nacional., será que Isso, de alguma forma, pode conflituar com a cerimónia de posse? Há algum risco da posse presidencial ser adiada? João Gabriel de Lima entende que não:

"É muito interessante mesmo essa sua observação, porque a grande notícia hoje era: finalmente o Lula definiu o elenco dos ministros, que é algo que se esperava há muito tempo. Foi uma negociação muito complicada, envolveu vários partidos políticos e, finalmente, hoje Lula definiu Essa era a manchete de todos os jornais. E aí, de repente, a gente teve essa notícia da morte do Pelé. Mas isso não muda. Eu acho que existe um clima muito forte no Brasil da posse do Lula e vamos ter a posse. Vai haver o show de posse. Eu acho que isso é uma coisa que é muito brasileira, não? O país está de luto com Pelé, mas a alegria por ter uma posse do novo presidente da República, a festa que estava preparada, ou seja, o Brasil não deixa de fazer uma festa por estar a viver um momento de luto brasileiro, não deixa de conciliar, de alguma maneira, as duas coisas".

O jornalista conta-nos que a retrospetiva das melhores jogadas do Pelé que agora apareceram agora em todas as emissoras de televisão, canais de internet, etc., nem todas são jogadas de golo e existem algumas jogadas em que o Pelé erra o golo e existem algumas jogadas em que o Pelé prepara o golo para outros fazerem. "Aqui no Brasil é meio uma unanimidade que o golo mais bonito do Brasil em todas as Copas foi o último golo contra a Itália na Copa de 1970, em que a bola passa por todos os jogadores até chegar ao Pelé. E o Pelé poderia talvez avançar e fazer o golo. Mas ele prepara uma jogada para o Carlos Alberto chegar pela direita e chutar para o golo". Pelé é "o grande ídolo de uma geração solidária, com vários jogadores muito bons e era muito esse futebol coletivo, esse futebol de pé para pé, que consagrou o Brasil. E então o Pelé, um pouco símbolo desse futebol coletivo, são jogadas em que o time inteiro participa. E é esse o fato de ser um jogador de equipa". O colunista do Estado de São Paulo refere que "o Brasil, de uma certa maneira, tem que se reencontrar com essa coletividade, com essa solidariedade, depois de um período de muita divisão no país".

"Nunca o vi jogar ao vivo". Quando Pelé ganhou os primeiros títulos, João Gabriel de Lima não era nascido. Depois, "era muito pequeno para gostar de futebol como quando o Pelé ganhou a Copa de 1970, que é o grande momento do Pelé. Mas sempre foi uma referência para todo o mundo, mesmo quem chegou depois dele. As jogadas do Pelé, os golos do Pelé, os títulos do Pelé. Eles sempre aparecem, sempre apareciam como referência no Brasil, em todas as Copas do Mundo, em todos os grandes momentos patrióticos, digamos assim".

Mesmo quem nunca viu Pelé jogar ao vivo conhece os principais golos do craque. E compara: "da mesma maneira que o francês que não viveu Proust leu Em busca do tempo perdido ou da mesma maneira que um alemão que não viveu era de Beethoven, mas conhece as obras de Beethoven, porque faz muito parte da sua cultura? O Pelé, as jogadas do Pelé, a arte do Pelé fazem muito parte da cultura brasileira. Talvez mesmo como algumas das coisas mais importantes da cultura brasileira".

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