Rui Mota acredita que o técnico do SL Benfica pode ficar para além de 2024, prazo inscrito no atual contrato. Qualquer decisão sobre um novo vínculo deve ficar guardada para o final da temporada, de preferência com títulos no bolso.
O treinador português Rui Mota acredita que Roger Schmidt quer continuar no Benfica. O técnico português de 41 anos trabalhou com o alemão na China, ao serviço do Beijing Guoan, clube onde, assinala, Schmidt procurou criar raízes e preparar o futuro, sem pressa para dar um passo seguinte na carreira.
"Em média, Roger Schmidt tem estado mais do que uma temporada nos clubes por onde passa, por vezes duas ou três. Como é um treinador competente, profissional e que apresenta resultados, deixa-o sempre mais próximo de continuar", explica Rui Mota.
Foi assim no início da carreira do treinador, nos modestos Delbrücker SC (três temporadas), Preussen Munster (três temporadas), mas também no Salzburg (duas épocas), Bayer Leverkusen (duas temporadas), Beijing Guoan (três temporadas) e no PSV, dos Países Baixos, com duas temporadas completas.
"O facto de ele, no ano passado [2021/2022], no PSV, ter decidido que estava em fim de ciclo - e mesmo assim terminou a temporada com grande sucesso desportivo, tendo em conta o contexto -, foi no sentido de olhar para a carreira e dar um passo em frente." Esse passo foi anunciado ainda antes do final da temporada que terminou com a conquista da Taça dos Países Baixos.
Primeiros os títulos e só depois o contrato
"Roger Schmidt é um treinador com um plano bem definido, que sabe as metas que pode atingir. Desta forma, acredito que a renovação de que tanto se fala vá acontecer, mas isso será algo mais para o final da temporada", aponta o português Rui Mota.
A decisão do treinador só deverá chegar depois de conquistados títulos. "Ir para o Benfica foi um passo em frente, mas acredito que ele esteja sedento por títulos. Estando no Benfica tem essa possibilidade, tanto a nível nacional como numa Liga dos Campeões, [pode] conseguir chegar, não digo ao título, mas a uns quartos-de-final, umas meias-finais, está na luta pela competição."
Seja como for, o técnico alemão gosta de sentir que deixa os clubes mais próximos do sucesso. "Roger Schmidt foi de baixo para cima, sempre à procura de um passo em frente. Mesmo a passagem pela China - tal como aconteceu comigo -, foi numa altura em que os grandes nomes do futebol europeu e mundial eram atraídos para aquela liga, estavam presentes ali. Na altura também ganhamos a Taça da China, estivemos na liderança do campeonato, conseguimos o apuramento para as provas internacionais."
A próxima época já começou a ser preparada
O sucesso e o impacto do futebol de Roger Schmidt em Portugal não surpreendem Rui Mota. "Ainda antes de ele vir para o Benfica, em diversas conversas que fui tendo, sublinhei que era um treinador com perfil para o clube. Um perfil de jogo ofensivo, a aposta nos jogadores jovens. Na Luz não basta ganhar: é preciso ganhar e jogar bem, a diferença de golos também conta e, por vezes, é preciso ganhar por números mais expressivos", sublinha.
Estão lançadas as sementes para a temporada 2023/2024: "O dia-a-dia do treinador é sempre desafiante. Há castigos, lesões, transferências. Ainda mais quando falamos de um clube em Portugal, que vive das transferências dos jogadores. Os clubes têm de ser vendedores. Estamos todos cientes de que, na reabertura do mercado, há pedras nucleares da equipa que os clubes são obrigados a vender. No caso do Benfica já há algumas pérolas e alguns clubes europeus, no final da temporada, podem avançar com propostas. Roger Schmidt e o Benfica vão ter de pensar em substitutos, não só fora, mas também internamente."
O mesmo no que toca à forma com a equipa joga, se apresenta em campo diante dos adversários. "Naquilo que observei, no trabalho de perto com Roger Schmidt, existiam sempre várias nuances para os diferentes jogos. Era também uma equipa muito flexível, com jogadores que, tal como no Benfica, poderiam desempenhar várias posições e que, com as características deles, o jogo ganha logo outras dinâmicas. Mas há também o trabalho com os jovens, chamados de forma recorrente aos treinos, às convocatórias e com oportunidades na equipa principal."
O segredo da boa forma está na cabeça dos jogadores
Da última temporada no PSV sobraram dúvidas sobre a forma como a equipa se preparava fisicamente, com a ocorrência de várias lesões ao longo da temporada. Algo que não aconteceu este ano no Benfica.
"A escola alemã tende a ser mais física. Quando digo mais física, falo de um trabalho mais direto com essas questões. Em Portugal, com recurso a vários tipos de exercícios em que trabalhamos determinado momento do jogo, a parte física também está presente. No caso da escola alemã, de Roger Schmidt e dos preparadores físicos com quem trabalhei, falamos de pessoas muito competentes, com ideias muito definidas. Na altura não tivemos lesões de carga muscular ou de excesso de carga. No Benfica estamos a ver que todos os jogadores estão a dar uma resposta muito capaz."
E essa resposta também se explica com a sequência de bons resultados. "É lógico que a questão mental não pode ser separada da física: quando estamos a ganhar, a questão do cansaço desaparece. É o que está a acontecer com o Benfica, como a equipa está a ganhar, a equipa está muito confiante, mas, quando se está a ganhar, mitiga-se a fadiga", assinala Rui Mota.