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Nos metros finais da subida ao alto da Senhora da Graça, Maurício Moreira olhou para trás e viu apenas uma última curva ultrapassada. Amaro Antunes vinha um pouco mais atrás, de amarelo na camisola e na bicicleta, marcada a rigor pela equipa junto ao local onde coloca as mãos, no guiador. Moreira sabia que poderia festejar, mas teria de ficar à espera para saber qual o tempo do rival. Antunes corria contra o tempo e contra a sensação de que esta volta lhe poderia escapar por entre os dedos.
Nos corredores, a discussão entre jornalistas fica mais acesa. Maurício é um especialista no contrarrelógio individual, o que sobre desta volta. Mas os 42 segundos de vantagem podem ser um entrave demasiado grande. Ou talvez não. "Arrancar à morte e chegar a morrer", avança Amaro Antunes. "Tive um percalço no final, estragou completamente as minhas contas que tinha na minha cabeça. Fisicamente sinto-me bem, mas isto faz parte do desporto, faz parte da volta. É ciclismo. Há que levantar a cabeça e pensar no que vem amanhã".
Moreira desenha um sorriso tímido por baixo da máscara. "Sei que posso andar bem na crono, mas também sei que os rivais vão dar tudo para ganhar", admite. "Foi um orgulho ver os meus companheiros dar tudo por mim. A vitória [na Senhora da Graça] dá confiança. Mas há que perceber como reage o corpo", admite, "há que ir", e tentar vencer a Volta para a Efapel.
Para Alejandro Marque, o minuto e 16 de diferença para a liderança com que parte para Viseu apagam as expectativas. "As coisas estão muito complicadas. Maurício foi o homem mais forte da volta, só mesmo um percalço mecânico ou uma queda... esta volta já tem um nome". A aposta de um especialista, um baixar de expectativas de quem ainda tem Frederico Figueiredo (Efapel) e Joni Brandão (W52/FC Porto) na frente.
Mas Marque não poderia deixar de nomear outro vencedor. Para ele, como para todo o pelotão, os elogios a Gustavo Veloso são necessários na hora da despedida. Se Veloso admitiu a meio do percurso desta volta que havia perdido o seu "sonho" - voltar a vencer, agora com 41 anos e na despedida do ciclismo -, o trabalho que fez na estrada, que lhe tolheu o corpo até ao último dia com marcas visíveis de quedas, tinha como destino traçar o caminho do amigo - e vizinho galego - Marque.
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