Carlos Costa avisa a banca que recomendações sobre crédito podem passar a regra porque crédito ao consumo e à habitação mantém-se elevado. O Governador defende alojamento local para estimular economia.
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Os portugueses pouparam menos, nos primeiros seis meses deste ano, e o valor de 3,3%, contra os 3,9% do mesmo período ano passado, está abaixo da média europeia. Carlos Costa encontra nestes dados "uma vulnerabilidade" que pode trazer problemas quando o Banco Central Europeu terminar o programa de estímulo, através de juros baixos
Em audição parlamentar na Comissão de Orçamento e Finanças, o Governador do Banco de Portugal manifestou a preocupação com o atual cenário.
"Estamos com taxas de poupança muito baixas, temos um problema de sustentabilidade do modelo social que é necessário para a coesão", avisou Carlos Costa enquanto defendia que a "afetação otimizada da poupança do país devia mobilizar todos".
Para os bancos, o Governador deixou um aviso: o Banco de Portugal "está pronto a intervir" se a banca não levar a sério as recomendações feitas no verão passado, sobre a concessão de crédito. Depois de, numa primeira fase, Carlos Costa ter encontrado "melhorias na avaliação de solvabilidade" dos clientes por parte dos bancos, dados mais recentes mostram que o crédito ao consumo e à habitação mantém níveis elevados.
Carlos Costa disse aos deputados que está "preocupado com a resiliência dos devedores ", pretende "evitar que o devedor caia numa situação de incumprimento" e lembrou que as restrições à concessão de novos créditos à habitação e ao consumo determinam que as famílias apenas podem gastar metade do seu rendimento com empréstimos bancários.
"Neste momento estamos num período de observação e esperamos que todos percebam que o interesse do devedor, da instituição financeira é convergente com o interesse do Banco de Portugal e da estabilidade que é evitar criar uma situação de incumprimento por exagerado otimismo na sua capacidade de reembolso ", avisou Carlos Costa sublinhando que "as recomendações podem passar a obrigações".
Em defesa do alojamento local
O Governador do Banco de Portugal considera que o património das famílias está "muito concentrado no parque imobiliário" e que os imóveis que não sejam necessários para habitação primária devem ter uma "utilização mais produtiva, que gere mais rendimento e que vai permitir gerar serviços", citando como exemplo "a revitalização da cidade de Lisboa".
"Temos uma oportunidade para tirar partido de um desvio e fazer desse desvio uma vantagem e através da valorização deste património (...) gerar rendimento, emprego e fluxos".