Depois de ontem Juncker ter criticado a Alemanha e a França, dizendo que estes países não decidem pela Europa, hoje, em Florença, Cavaco Silva alinhou nas críticas.
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É um valente puxão de orelhas e um recado dirigidos sobretudo a Merkel e a Sarkozy.
Cavaco diz que a austeridade e as dificuldades de liquidez que os países mais endividados estão a enfrentar devem ser «compensadas por políticas de crescimento promovidas pela União Europeia» e por «políticas expansionistas por parte dos países superavitários». Ao mesmo tempo, sublinha, é preciso que o BCE faça uma «prudente redução da taxa de juro de referência».
O Presidente da República confessa que tem «assistido com preocupação à desvirtuação do método comunitário». Cavaco explica: tem emergido um directório - leia-se Alemanha e França - que «não é reconhecido nem mandatado» e que se «sobrepõe às instituições comunitárias e limita a sua margem de manobra». Por isso, Cavaco sublinha que «é ao Conselho Europeu e não a um directório de alguns países que cabe a orientação política» da Europa.
E puxa pela memória: Alemanha e França já violaram os limites do défice nos primeiros anos deste século e o Conselho Europeu deixou que isso passasse «incólume». Essa é, aliás, uma das causas que está na origem da crise, para o chefe de Estado português. Por um lado, houve uma «deficiente supervisão por parte das instituições europeias». Por outro lado, foram levadas a cabo «políticas erradas» por parte dos estados membro.
Mas o «factor decisivo» para Cavaco foi o «mau escrutínio do rumo das finanças públicas nalguns estados», nomeadamente na França e na Alemanha. Precisamente os mesmos estados que agora se assumem como um directório «não mandatado».
Cavaco não se limita às críticas, aponta também saídas para a crise: é preciso «mais do BCE», recapitalizar e financiar a banca, pensar em eurobonds e aprofundar a governação económica europeia.
Cavaco lembra que «estão a ser exigidos duros sacrifícios ao povo português» e a resposta tem que ser conjunta: a Europa tem que enfrentar a crise «com as medidas adequadas e em tempo certo».