"Não fazia sentido estar a fazer maior um pagamento de dividendos quando sabia que depois teria de pedir aumento de capital ao Estado", é deste modo que António de Sousa, antigo responsável pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), justifica o facto de ter "resistido a pressões" para aumentar o pagamento de dividendos ao Estado.
"Resisti a essas pressões porque a CGD não pode fazer aumentos de capital a não ser com dinheiro vindo do Estado. As minhas explicações foram aceites e o assunto morreu por si", explicou António de Sousa.
António de Sousa diz que "por duas vezes" isso lhe foi sugerido e detalha: "Foi com Joaquim Pina Moura (governo de António Guterres) e Manuela Ferreira Leite (governo de Durão Barroso).
"Já tive também empresas privadas em que me aconteceu exatamente a mesma coisa. O acionista quer mais dividendos e tem direito, porque o capital é dele", disse ainda António de Sousa.
A antiga ministra, Manuela Ferreira Leite, quando foi ouvida pelos deputados admitiu que quando a CGD registou lucros de 700 milhões de euros por ano, tentou aumentar o valor dos dividendos de 50 para 60%.
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"Nem eu fui além de tentar obter uma maior participação, nem ele respondeu a essa vontade", disse, na altura, Ferreira Leite, numa referência a António de Sousa.
Questionado, hoje, pelos deputados da comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, António de Sousa rejeitou ter sido alvo de "interferência política" para a concessão de crédito.
"O que nunca houve foi nenhuma interferência na operação normal da CGD, isso nunca houve. É que nem é possível discutir esse assunto com o acionista, só com o Banco de Portugal", precisou.
Participação no BCP visou evitar que "o grupo fosse totalmente para as mãos dos espanhóis""
António de Sousa explicou ainda aos deputados que a participação que a CGD teve, durante quatro anos, no BCP resultou de um acordo preparado por Pina Moura e foi considerado "uma grande vitória por se ter evitado que o grupo fosse totalmente para as mãos dos espanhóis", na altura, o Banco Santander.
"Na altura havia a ideia de que devia haver capital português nas grandes empresas portuguesas, e como o BCP não tinha grandes acionistas portugueses entendeu-se que era importante ter 6% a 8% do BCP para defender o controlo português".
António de Sousa sublinhou que a solução não lhe agradava e que mesmo quando a CGD era a principal acionista do BCP com uma participação acima de 20% isso "não trazia qualquer interesse para o banco público".
"O interesse técnico de gestão da CGD não era nenhum. Era tentar vender logo que possível", sublinhou o então responsável pela Caixa.