"É uma coincidência ou foi preciso esperar este tempo todo para haver agora um forcing por parte do governo, e seu, para negociar, na verdade é agora ao momento em que vai ser possível renegociar os CMEC, mas há aqui uma coincidência que se prende, do ponto de vista político, com a investigação judicial, isso dá-lhe mais poder político para negociar, o haver essa pressão sobre a empresa?
Não me parece. Isto é um trabalho que tem vindo a ser feito, é um trabalho de ano e meio e, portanto, quanto a isto é absolutamente uma coincidência.
Mas ficou surpreendido com a investigação judicial que está em curso?
Eu não queria comentar absolutamente nada sobre isso. Não me cabe a mim fazer qualquer comentário sobre questões judiciais, quero é dizer que para o governo é muito importante ter do lado das empresas os interlocutores com capacidade de podermos chegar a boas conclusões. Penso que as próprias empresas são as primeiras a querer, de facto, chegar a este entendimento.
O que quer dizer com isso? Se estiverem na condição de arguidos não estão nas melhores condições para negociar?
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Eu não me queria pronunciar sobre processos judiciais, portanto, sobre isso não queria dizer nada. Eu recebo no meu gabinete as empresas que me pedem para serem recebidas, se não for eu é alguém do meu gabinete, quando há projetos de investimento em Portugal, o que tem acontecido muito, por exemplo, na área do solar. Ainda ontem estive a tentar desbloquear algo que está há dez anos para desbloquear. Eu quero é que as empresas estejam com o governo numa capacidade de resolvermos os problemas, criarmos riqueza para o país, criarmos emprego, é só isso.
Imagino que já tenha recebido também António Mexia. Uma das teses que tem corrido mais em Portugal nos últimos anos é que o estado tem andado capturado pelos interesses de empresas como a EDP, não só, mas também a EDP. Sente isso, que o estado tem andado capturado?
Não, de maneira nenhuma. Uma das condições que eu escolhi para as pessoas que trabalham comigo é que não são pessoas que tenham qualquer ligação ao setor. Portanto, isso dá-me logo aqui uma grande garantia de independência. Todos nós, começando por mim, não conhecíamos muitas coisas logo de início. Eu fui deputado e durante cinco anos acompanhei o setor da energia, mas nunca tinha trabalhado no setor, o que significa que a algumas questões e a alguns dossiers tive de os conhecer melhor estudando-os e trabalhando-os. Mas eu acho que isso tem uma grande vantagem que é a de trazer também alguma ideia nova sobre essa situação. Portanto, sobre queria dizer que não sinto isso, sinto que a ERSE, por exemplo, faz um trabalho extraordinário e é independente. A Direção-Geral foi muito esquecida ao longo de muitos anos no setor da energia e acho que pode fazer um trabalho importante e acho que está a fazer um trabalho muito importante. Acho que há muito a fazer, sinto que as pessoas no setor estão motivadas para o interesse público, agora há uma separação clara entre o que é público e o que é privado.
O senhor não tem medo da EDP?
O que eu gostava de dizer sobre isto é o seguinte: aquele caso de que falei de a revisibilidade dos CMEC ser feito por duas empresas privadas mostra como é que isto era até há pouco tempo. Mas agora já não é.
Então o estado esteve capturado e agora deixou de estar?
Não sei se estava capturado ou não. Eu estou a dizer é que quem fazia as contas eram duas empresas privadas. Depois de um auditor privado aparecer, depois de dar um parecer, a ERSE lá aparecia e agora não é assim, agora é o regulador que faz as contas.
O senhor não tem medo da EDP?
Eu não tenho medo de ninguém, desde logo porque pago todos os meses a fatura e portanto não estou à espera que me cortem a eletricidade. E, por outro lado, porque acho que vivemos num estado de direito e todos os dias eu sinto que nas empresas há a mesma vontade de trabalhar de uma forma leal e transparente.
Entrevista TSF/DN para ouvir domingo, depois das 12h.