«O facto de não termos previsto a inconstitucionalidade de algumas medidas propostas no ano passado também foi uma infelicidade», disse a responsável numa entrevista publicada hoje pelo semanário, realizada em Washington, na sede do FMI.
Christine Lagarde aponta ainda a elevada taxa de desemprego, os elevados custos de financiamento das empresas portuguesas face aos praticados a nível europeu e a dificuldade em reduzir as rendas excessivas em setores não transacionáveis.
Questionada se uma reestruturação da dívida pública portuguesa estaria completamente fora de questão, a líder do FMI diz apenas que este cenário «não está em cima da mesa» e que «as autoridades portuguesas estão determinadas a fazer o que têm a fazer e conduzir o programa até ao final para reganhar o acesso aos mercados».
Sobre a polémica instalada quanto às melhorias dadas no empréstimo à Grécia e possível extensão aos restantes países sob programas de ajustamento - Portugal e Irlanda -, a responsável defende que se tratam de «condições específicas» que estão «associadas a um nível de confiança dos investidores e a um escrutínio reforçado por parte dos credores».
«Não penso que, quer Portugal quer a Irlanda, queiram isso. A determinação para honrar compromissos face aos credores faz parte de um longo caminho a percorrer para restabelecer a confiança no país. A capacidade de conduzir o próprio programa dentro dos termos e condições normais está relacionada com assumi-lo e garantir que é concretizado», afirmou.
Quanto a uma nova revisão das metas orçamentais, a responsável diz que é necessário assegurar que o trabalho e as reformas ficam feitas e ver o desempenho do programa antes de fazer ajustamentos, e que ainda assim o FMI tenta não se «focar em metas nominais» desde que haja financiamento disponível.
A diretora-geral do FMI considera que o programa português «está a correr bem», e que está «no caminho certo, com uma parte significativa do ajustamento orçamental concretizada e com as reformas em curso» e que isso a deixa «muito confiante» no sucesso do programa e que Portugal não irá seguir o caminho da Grécia.
Nestes primeiros 18 meses do programa, Christine Lagarde considera que os maiores avanços foram os realizados a nível das reformas estruturais, em especial no mercado de trabalho, e que a consolidação orçamental foi decisiva, elogiando, no entanto, a «determinação coletiva».
«O que mais me surpreendeu foi a determinação coletiva do país no caminho para a recuperação, incluindo membros da coligação, sindicatos e a opinião pública. Nem toda a gente está contente, muitas pessoas estão frustradas, muitas estão a fazer enormes sacrifícios e muitas perderam os seus empregos. Mas há um sentimento coletivo de que existe uma saída e que tem de ser feita conjuntamente», afirmou.