"Existem várias propostas em cima da mesa, maioritariamente na região Centro, também existe alguma coisa no Norte. Mas é Norte e região Centro [as áreas para onde se equacionam a proibição de pesca da sardinha]", disse Ana Paula Vitorino à agência Lusa, sublinhando estarem as zonas a serem delimitadas pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e pelos pescadores.
À margem da conferência o Valor dos Oceanos, a decorrer em Lisboa, a ministra precisou que estão a ser "mantidas conversas e reuniões de reflexão com as comunidades piscatórias para juntamente com o IPMA, já com informação científica, para se poder delimitar áreas em que não haverá pesca de todo, porque são áreas importante para a reprodução da espécie".
Produtores acreditam em medida temporária
As organizações de produtores da Pesca da Sardinha têm marcada para uma reunião, na próxima quinta-feira, com o Ministério do Mar.
Em declarações à TSF, Humberto Jorge, da Associação Nacional de Produtores de Pesca do Cerco (ANOPCERCO), lembrou que já foram avançadas algumas medidas, entre elas a interdição da pesca, no último encontro da Reunião de Acompanhamento da Pesca da Sardinha.
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Ouvido pela jornalista Maria Augusta Casaca, Humberto Jorge, da ANOPCERCO, afirmou que a pesca só estará interdita durante um período de tempo limitado
Na última semana, o Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES) recomendou a suspensão da pesca da sardinha, em Portugal e Espanha, em 2018. Porém, a ministra do Mar adiantou, na altura, que o Governo ia propor que os limites de captura se fixassem entre 13,5 e 14 mil toneladas.
Ana Paula Vitorino disse ainda que tem que ser garantido um ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade do stock e das comunidades piscatórias e acrescentou que foi estabelecido um pacote de medidas, no qual se encontra o Projeto Sardinha 2020, de modo a acatar as recomendações do ICES.
Na intervenção desta manhã na sessão de abertura da conferência, Ana Paula Vitorino explicou que no caso da sardinha a "virtude não está nos extremos", ou seja, no fim total das capturas, nem no pescar milhares de peixes.
"A virtude estará algures no meio" e "fica muito aquém daquilo que os pescadores gostariam e um bocadinho acima do que as ONG [Organizações Não Governamentais] gostariam", referiu Ana Paula Vitorino, informando sobre as "ações complementares" para defender o "stock nos momentos de maior fragilidade, o que se cruza com o conhecimento e a investigação".
"Quais são as áreas em que efetivamente no nosso país em que não podem haver capturas? Pela primeira vez, vai definir-se em Portugal áreas de no catch (áreas de não apanhar) relativamente à sardinha. [Vai saber-se] onde não vai haver pescaria", informou.
Além do projeto de investigação que está a ser promovido pelo IPMA, avançará um projeto de repovoamento.
No passado dia 21, a Comissão Europeia informou que não proíbe a pesca da sardinha, mas recomenda às autoridades portuguesas que encarem com seriedade as quebras nos stocks da espécie devidas à sobrepesca e ao aumento da poluição.
Um porta-voz do executivo comunitário reiterou que Bruxelas está consciente da importância socioeconómica e cultural da pesca em Portugal, razão pela qual "está muito preocupada com o estado potencialmente precário da pesca de sardinha ibérica", salientando que "as autoridades têm que levar isto muito a sério".
IPMA tem projeto para determinar taxas de mortalidade, crescimento e reprodução da sardinha
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) pretende avançar com um projeto para determinar taxas de mortalidade, de crescimento e de reprodução da sardinha, em função da alteração das variáveis ambientais.
Trata-se do projeto Sardinha 2020 - Abordagem Ecossistémica para a gestão da pesca da sardinha, desenvolvido pelo IIPMA, tendo com objetivo identificar a distribuição, abundância e recrutamento dos peixes pelágicos (sardinha, biqueirão e a cavala), segundo avançou à Lusa fonte do instituto.
De acordo com a mesma fonte, o projeto, que aguarda aprovação da Autoridade de Gestão Estrutura de Missão para o Mar 2020, "pretende determinar taxas de mortalidade, de crescimento e de reprodução da sardinha, em função da alteração das variáveis ambientais".
As variáveis em causa serão "constrangidas através de experiências em cativeiro, tanques e jaulas oceânicas, monitorizando a subsequente libertação no mar", explicou. O projeto Sardinha 2020 quer também desenvolver modelos do ecossistema para avaliar o impacto das relações interespecíficas e da pesca na dinâmica conjunta dos stocks de peixes pelágicos.