Teixeira dos Santos: "Os bancos podem estar a arriscar demais"

Ex-ministro e próximo presidente do BIC pede veículo financeiro para malparado na banca - e avisa que os banqueiros não devem hesitar. Está preocupado com a CGD e Novo Banco. E antevê um OE difícil.

Teixeira dos Santos não poupa nas palavras. Como presidente da Comissão que avaliou a nova administração da Caixa Geral de Depósitos diz que "o processo se está a arrastar" demais, causando "desgaste" na instituição pública. E acrescenta dúvidas também sobre "o montante da recapitalização da Caixa": "Não se percebe bem o porquê do montante e enquanto isso não for esclarecido causa sempre um ruído que não é desejável". Para o homem que vai liderar o BIC Portugal - já a partir de segunda-feira -, "há um ano já se falava de uma necessidade de recapitalização", mas bem menor do que hoje, admitindo que "o período eleitoral" tenha sido decisivo sobre o adiamento de uma solução para o banco.

Mas Teixeira dos Santos tem mais preocupações quanto ao sistema financeiro. Diz que um falhanço na venda do Novo Banco seria "sinal de dúvidas quanto ao país e ao sistema financeiro", afirmando claramente uma preferência pela venda - "não gostaria que se nacionalizasse".

E avisa também os presidentes dos outros bancos portugueses que não devem resistir à ideia de criar um veículo financeiro para resolver o malparado - resistência que vê "com apreensão" . "Em 2008 não quiseram apoio público", mas depois tiveram que recorrer a ele - só adiando um problema, lembra o ex-ministro das Finanças. "Agora, podem estar a arriscar o mesmo, mas o tempo pode não o permitir - e levar o sistema financeiro para uma solução muito pior. Teixeira dos Santos apoia, por isso, a ideia de Carlos Costa e António Costa. E lembra que a Europa prometeu em 2012 que o Mecanismo Europeu de Estabilidade podia ser usado para recapitalizar os bancos - "agora parece que se esqueceu disso". Mesmo assim, Portugal deve olhar para a solução que Itália está a tentar e seguir-lhe os passos.

Sanções, Plano B, OE 2017

Afirmando-se de acordo com a existência de sanções para países incumpridores, Teixeira dos Santos admite que a Europa deve avaliar se a aplicação nestas circunstâncias é a adequada - "no tempo, condições e o seu contexto". E critica a Comissão por ter "preconceito político com o Governo atual" e estar a exigir um Plano B Governo português "quando tudo leva a crer que o défice este ano fique abaixo dos 3%". António Costa não deve, assim, avançar já com o plano, embora o Governo esteja a pôr todas as fichas numa boa execução orçamental deste ano. O ex-ministro diz esperar, por isso, que "haja já uma ideia de que medidas adicionais" pode aplicar, se e quando forem necessárias.

Teixeira dos Santos diz, mesmo assim, esperar um Orçamento de 2017 "restritivo". E isso só mudará (permitindo políticas de estímulo económico) "se houver recuperação da confiança no país ou se houver uma ação coordenada na Europa, que desconfia que não virá.

A síntese dos principais momentos da entrevista está registada em vídeo (mesmo aqui em cima). O som da entrevista completa pode ser ouvido aqui em baixo.

Ouça na íntegra a entrevista do diretor da TSF, David Dinis, a Teixeira dos Santos

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