"Como garantimos que computadores e máquinas continuam a respeitar os humanos?"

Esta quarta-feira, o Mundo Digital foi feito a partir da Web Summit. O jornalista Rui Tukayana ouviu uma conversa feita num dos muitos palcos da cimeira em que o protagonista foi Brad Smith, o presidente da Microsoft.

No palco SaaS Monster, e perante uma plateia cheia de gente, Brad Smith falou das "Promessas e desafios que a Inteligência Artificial nos coloca".

Uma conversa, em que Brad Smith, ainda antes de falar sobre a parte mais assustadora, começou por destacar tecnologias que prometem mudar tudo nas nossas vidas. E a primeira está relacionada "com o poder computacional. Temos visto a Lei de Moore quase a falhar, mas continuamos a avançar. Acho tudo está pronto para darmos um grande salto graças à computação quântica. Penso que veremos esta tecnologia a empurrar o poder computacional para à frente durante a próxima década".

Outra tecnologia que promete mudar tudo parece inofensiva e até pouco interessante: "veremos mais data centers em todo o mundo. E estes a aumentarem de tamanho". E porquê? "Na década passada, a quantidade de dados digitais explodiu 20 ou 25 vezes". Uma tendência não vai diminuir já que "vamos ver um crescimento exponencial e contínuo na quantidade de dados e vamos precisar de avanços tecnológicos, a sério, na forma como os dados são armazenados". Para Brad Smith "a tecnologia atual não será suficiente para o ano de 2030".

Depois falou de uma área cujo impacto está para muito breve. "Vamos ver o 5G trazer para o mundo, não apenas mais dispositivos ligados à net, mas um ambiente computacional generalizado, que é como ter um computador em quase tudo. Quase da mesma maneira como a eletricidade funciona atualmente. Ela alimenta tudo à nossa volta. A computação está a tornar-se semelhante".

E por Brad Smith estimou que "veremos saltos contínuos na ciência da Inteligência Artificial. Na própria ciência de dados. Nesta década, os avanços deram-se no "deep learning" e nas redes neurais. Na próxima década, falaremos cada vez mais não apenas sobre IA, mas IGA, Inteligência Geral Artificial". Mas desengane-se: " não vai ser aquela solidariedade que vemos em filmes de ficção científica, mas veremos a Inteligência Artificial usada de maneiras que não são hoje". O que Brad Smith acredita é que ela será mais abrangente: "hoje ela funciona como que em silos muito específicos. No futuro, a IA deverá ligar os pontos entre as disciplinas, entre os avanços."

Mas então quais são os perigos que a Inteligência Artificial encerra? Quais são os desafios que temos à nossa frente? Brad Smith, da presidente da Microsoft sublinhar que "a questão mais ampla do nosso tempo passa fundamentalmente por garantir que os computadores e as máquinas continuam a responder perante as pessoas". E temos de o fazer "porque estamos a dar às máquinas o poder de tomar decisões". Assim, diz o presidente da Microsoft, temos que garantir que "sabemos quais foram essas decisões". E que as máquinas "nos respeitam". E também, "principalmente" temos de ter a certeza que "os indivíduos e as empresas que criam esses sistemas permanecem responsáveis perante o mundo em geral".

Mas sobre isto, Brad Smith lembra que nem é preciso falar no futuro. Mesmo agora, no presente, a Inteligência Artificial põe-nos desafios. O reconhecimento facial tem sido tópico de discussões acesas. Para o presidente da Microsoft, este "é o nosso primeiro teste, está a forçar-nos a lidar com questões de preconceito, com questões reais de privacidade". Com o facto das empresas tecnológicas estarem a "criar as ferramentas" necessárias para que os governos possam "implementar algo próximo à Vigilância de Estado".

Brad Smith, uma das vozes mais importantes entre as que soaram este ano na Web Summit considera que "estas são as novas questões de políticas públicas de nosso tempo, e precisamos enfrentá-las em todo o mundo".

Outro desafio que a Inteligência artificial traz consigo é o do mercado do trabalho. O que aí vem compara-se ao impacto que teve o motor de combustão no início do século XX: "Levou-nos, não apenas ao carro, mas até ao trator. Permitiu criar não apenas o camião, mas o avião. E teve impacto em todas as economias". Segundo Brad Smith, as próximas três décadas serão dominadas pela criação da Inteligência Artificial e "o que ela fará na primeiro é pegar em determinadas tarefas e automatizá-las".

O primeiro emprego a cair? Vai ser nos restaurantes de comida rápida. O presidente da Microsoft explica: "pense naquilo que faz quando vai a um restaurante destes. Pode ficar numa fila, ou num Drive-Thru e faz o seu pedido a alguém. E o que essa pessoa faz? Literalmente insere-o num computador. Bem, com a Inteligência Artificial e o reconhecimento da fala, também podemos conversar com o computador. E ele está a tornar-se bom nisso!"

E puf! lá se foram esses empregos.

É aí que surge a pergunta do jornalista que em palco entrevistava Brad Smith: "não estaremos nós a andar depressa demais?"

A resposta que surge não é nada animadora. "Acho que quando se compara o ritmo das mudanças tecnológicas com a velocidade dos governos, há motivos de preocupação. E acho que não é injusto fazer uma analogia entre o ponto da história em que estamos agora e os anos 30 do século anterior. Os anos 30, foram uma década em que os governos se voltaram para dentro, houve um aumento do nacionalismo e do populismo".

Com o fantasma da Grande Guerra ainda a ecoar na sala, o presidente da Microsoft faz mais uma pergunta que ainda carece de uma resposta: "pode a humanidade acompanhar o ritmo dos avanços tecnológicos na década de 2020?"

Assim, diz, convém avançar mas sempre com cautelas. E todos deveriam ter esses cuidados, mesmo as startups que estão na Web Summit, considera Brad Smith. É ele quem faz o alerta de que mesmo essas empresas se devem interrogar sobre as tecnologias que estão a desenvolver: "o que é que pode correr mal? Como é que evitamos que algo dê um mau resultado?"

Brad Smith sugere barreiras ao traçar uma analogia com as autoestradas. "Se colocarmos rails, ficaremos na estrada e evitaremos um acidente. Foi por isso que quando, em dezembro passado, articulámos um conjunto de princípios que nós pensamos que os governos devem seguir no que diz respeito ao reconhecimento facial, nós na Microsoft também os aplicámos imediatamente".

É por isso que o presidente da empresa garante que "nós não vamos licenciar essa tecnologia para vigilância em massa, nós não permitiremos que seja usada em situações que abram caminho ao preconceitos ou coisas do género".

Mas há mais a fazer, diz ele. Ao nível dos Governos "precisamos de novas leis, precisamos de novas políticas governamentais". Mas para isso as empresas tecnológicas têm de dar uma ajuda, de ser mais transparentes para que os Governos possam ser mais ágeis. Brad Smith considera que "os Governos precisam de se mexer mais rapidamente, mas só o podem fazer, se nós compartilharmos mais informações sobre as direções em que estamos a desenvolver a tecnologia".

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