Transparência, regulação e um capitalismo preocupado em servir as pessoas podem ser a solução para uma tecnologia mais humana e a chave para uma sociedade menos desigual.
A pandemia amplificou e tornou visíveis as desigualdades sociais, mas a responsável pela área digital da empresa de mobiliário sueca IKEA acredita que esta crise trouxe também a possibilidade de "um grande reset" - o reiniciar da máquina - numa sociedade que já não era sustentável. Durante a conferência da Web Summit "Tecnologia: a chave para nos tornar mais humanos", Barbara Martin Coppola defende que a simplicidade, a inclusividade e a transparência são os alicerces de uma tecnologia mais humana e usada como uma "força do bem".
Para Barbara Martin Coppola é fundamental adaptar a tecnologia para ser mais simples no uso, mais democrática e inclusiva, com mais valor, mais transparente, e, ao mesmo tempo, torná-la menos "um jogo de elite", como hoje se apresenta.
A responsável digital dá o exemplo da aplicação da IKEA, na qual é possível os utilizadores verem que dados pessoais estão a ser usados, sem "menus escondidos". Nesse sentido, Barbara Martin Coppola deixa um desafio: "Queria encorajar outras empresas a pensar como podem construir uma interação mais sustentável e humana",
Coppola sustenta que a tecnologia não pode ser usada apenas para fazer dinheiro, mas sim como "uma força do bem para as pessoas, para a sociedade e para o ambiente". Para tal, a responsável digital da IKEA defende uma tecnologia mais centrada nas pessoas, permitindo que os utilizadores tenham acesso a serviços benéficos sem perderem a privacidade e o controlo dos seus dados pessoais.
O capitalismo ao serviço das pessoas
Na mesma conferência, Meredith Whittaker, a fundadora do AI Now Institute -que estuda as implicações sociais da inteligência artificial -, defende que, antes de se pensar no que a inteligência artificial pode fazer pelas pessoas, é preciso resolver problemas estruturais, como o acesso aos cuidados de saúde.
A também responsável pela paralisação histórica de 2018 Google Walkouts considera que "a pandemia é um grande exemplo de algo que está para lá dos problemas tecnológicos", mostrando a "vulnerabilidade de algumas populações".
Por isso, Whittaker diz ser fulcral haver regulação na área da tecnologia que não sirva apenas o capital, mas que vá ao encontro dos interesses e das vontades das pessoas, democratizando a tomada de decisões.
No mesmo plano, Bárbara Martin Coppola acrescenta que "se fizermos do capitalismo algo benéfico para as pessoas, a sociedade será muito mais sustentável".
Conselhos para os líderes mundiais
As duas especialistas deixam conselhos aos líderes mundiais que se veem a braços com desafios tecnológicos e humanitários.
Barbara Martin Coppola aconselha estes líderes a "serem curiosos" e a darem um passo em frente no sentido de "questionarem os modelos vigentes". Já Meredith Whittaker recomenda que os decisores não se rodeiem apenas de engenheiros e especialistas em ciências da computação para lidarem com os desafios tecnológicos, pois a tecnologia está infiltrada em áreas que fogem a estes domínios, nomeadamente a área da saúde.