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Em França, em 2018, os atos antissemitas aumentaram 74%. O relatório publicado pelo Ministério do Interior foi divulgado esta semana e mostra que foram registados 541 atos contra judeus, entre os quais 81 ações violentas. O caso mais falado terá sido o assassinato, em março, de Mireille Knoll, uma idosa judia com mais de 80 anos. Dois suspeitos estão a aguardar julgamento.

© Benoit Tessier/Reuters
Já este ano têm-se multiplicado as ações em cemitérios, onde nas campas de judeus têm aparecido cruzes suásticas e frases antissemitas. No fim de semana, no 13º bairro de Paris, os habitantes encontraram vandalizadas duas caixas do correio pintadas em homenagem à politica francesa Simone Veil. Christian Guémy, o autor das imagens, quis restaurar imediatamente as caixas. O trabalho foi acompanhado por um dos filhos de Veil e pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo.

© Benoit Tessier/Reuters
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Depois de terminar o restauro, Christian Guémy escreveu no Twitter: "Está feito. Os retratos foram restaurados. Não vamos ceder ao antissemitismo e às provocações, vamos defender a memória de Simone Veil, os valores que defendia e as suas lutas. Agradeço à Sra. Veil, que muito me ajudou, pelo seu apoio e sabedoria."
Já o filho, Antoine Veil, disse à RTL que não achava que a mãe ficasse surpreendida com o que aconteceu. "Ela tinha poucas ilusões sobre o antissemitismo," acrescentou.

Simone Veil
© Benoit Tessier/Reuters
Simone Veil, cujo nome de solteira era Simone Jacob, foi deportada para Auschwitz quando tinha 15 anos, depois foi enviada para Berger-Belsen. Foi nos campos de concentração alemães que morreu grande parte da sua família. Apenas ela e a irmã sobreviveram.
Depois da guerra estudou Direito mas não foi como advogada que se tornou conhecida. Foi ministra da Saúde com o Presidente Valéry Giscard d"Estaing, deputada na Assembleia francesa e no Parlamento Europeu. Entre 1979 e 1982 foi presidente do Parlamento em Estrasburgo. Ainda na politica ficou conhecida pela defesa da despenalização do aborto. Muitos franceses acreditam que a lei foi alterada em 1974 graças ao seu trabalho e empenho.

Simone Veil
© Susana Vera/Reuters
Entre o ano 2000 e 2007 tornou-se a primeira presidente da Fundação para a Memória do Shoah (holocausto). A Fundação foi criada para divulgar o papel da França durante a 2ª Guerra Mundial e para dar a conhecer as perseguições de que foram alvo muitos judeus franceses. A missão acabou por ser alargada, passando a instituição a dar apoio aos sobreviventes, a trabalhar na preservação da cultura judia, a dedicar-se ao estudo de outros genocídios e à luta contra o antissemitismo. Esta terça-feira, a Fundação fez um apelo à sociedade civil francesa para se mobilizar contra atos que considera abjetos.
Simone Veil morreu em 2017 com 89 anos. No ano passado o corpo foi transferido para o Panteão. É a quinta mulher na História de França a quem foi dada esta honra.