Reportagem de João Francisco Guerreiro na Bélgica
Na Bélgica, um comboio sem "pica" não anda. Há um projeto em "standby" para eliminar o agente de cobranças, mas, os sindicatos não o deixaram avançar.
À semelhança do que acontece em Portugal, as entidades que gerem os caminhos de ferro belgas apresentaram também, há dois anos, um projeto para os comboios poderem circular apenas com a presença do maquinista, mas a ideia foi de imediato rejeitada pelos sindicatos.
"Está fora de questão retirar o agente de cobranças do comboio. Porque ele não tem apenas um papel de controlo dos passageiros. Tem um outro papel, muito importante, ao nível da segurança", afirmou à TSF Philippe Delhalle, presidente do Sindicato Livre dos Trabalhadores dos Caminhos de Ferro, que representa a função pública ferroviária, frisando que muitos outros serviços se perderiam.
"Não vamos deixar que isso aconteça. Isso é certo", garantiu.
Reportagem de Lígia Anjos em França
Já em França, há muito que não existe um agente de cobrança nos transportes suburbanos e que os comboios funcionam apenas com um maquinista.
Neste país, a questão polémica é outra: os trabalhadores dos comboios contestam as mudanças que o presidente Emmanuel Macron pretende fazer no sistema ferroviário, como a privatização do setor e os cortes nos benefícios dos funcionários (que, até ao momento, não podiam ser despedidos e tinham como idade mínima para a reforma os 52 anos).
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Por estes motivos, a companhia ferroviária SNCF (Société Nationale des Chemins de fer Français) está em greve dois dias úteis por semana, durante três meses.
Reportagem de Emanuel Nunes em Inglaterra
Do outro lado do Canal da Mancha, a situação é parecida com a de Portugal. No Reino Unido, há 30 anos que um terço dos comboios já circula apenas com o maquinista. No entanto, a luta dos sindicatos intensificou-se nos últimos dois anos, com dezenas de greves, exigindo a manutenção do guarda responsável pela abertura e fecho das portas das carruagens, em prol da segurança dos passageiros.
Uma das linhas mais afetadas pelos protestos é a que liga Londres ao sul do país e na qual, todos os anos, são feitas 165 milhões de viagens.
Há dois anos que as greves nos comboios da Southern têm causado o caos na vida dos utentes. Só no verão de 2016, o mais complicado desde 1994, houve 17 greves de com duração de 24 ou 48 horas. De lá para cá, nada mudou na relação entre a empresa gestora e os sindicatos e, de tempos a tempos, acontece outra greve.
Os sindicatos dizem que os gestores só estão a pensar no lucro e a esquecer a segurança dos passageiros. A empresa defende-se dizendo que os novos comboios, que entretanto comprou, são mais seguros, e até já garantiu que manterá uma segunda pessoa no comboio mas não com funções ligadas à segurança (seria apenas uma espécie de agente de apoio ao cliente).
Estando em causa uma das linhas mais movimentadas das Grande Londres, a instabilidade laboral levou mesmo à intervenção do mayor da capital britânica, Saqid Khan, que veio a público apelar ao governo para que retomasse o controlo da empresa, pelo menos, de forma temporária. A luta sindical alastrou entretanto a outras linhas de várias regiões do Reino Unido.
Reportagem de Joana de Sousa Dias na Alemanha
Na Alemanha, esta é uma questão que nem se coloca: os comboios nunca circulam apenas com um funcionário.
De acordo com a GDL, a União dos Condutores Ferroviários da Alemanha, vários trajetos foram cancelados no último ano precisamente devido à falta de trabalhadores - uma vez que a existência de, no mínimo, dois funcionários por comboio é vista como uma medida de segurança indispensável.
Durante vários anos, a Deutsche Bahn, o principal operador ferroviário do país eliminou vários postos de trabalho, mas, em 2014, anunciou uma mudança de rumo, revelando o objetivo de contratar 10.000 funcionários até ao ano de 2020.
O principal desafio é contornar os cerca de 7.000 funcionários que pedem a reforma, a cada ano. a companhia emprega, no total, cerca de 300.000 pessoas.
*com João Francisco Guerreiro, Lígia Anjos, Emanuel Nunes e Joana de Sousa Dias