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O chef António Loureiro tem várias peculiaridades que o caracterizam bem e de forma inconfundível. A mais conhecida tem vindo a ganhar adeptos e consta de evitar desperdícios ao máximo, e outra, conexa a essa, é a sustentabilidade. Acompanhar o chef Loureiro é toda uma grande instrução. O espaço do restaurante A Cozinha por António Loureiro coloca cozinheiros e comensais no mesmo plano e a partir de um certo momento sentimo-nos como num retiro espiritual, em que tudo segue um mesmo ritmo.
O chef António Loureiro nasceu para ser cozinheiro e a forma como ele encara a refeição dos seus clientes é digna de enorme louvor. O seu atual menu de degustação tem o sugestivo nome de Caldos e Brasas e a abordagem é de grande simplicidade.
Começa à boa maneira do Norte, com uma sopa de peixe e marisco, de sapateira, gamba da costa e salmonete. Segue-se o Bosque do Minho, composto por cogumelos, salsa e vegetais da época. Interlúdio vegetariano que é bem vindo. É depois servido o parfait de galinha e beterraba, que consta de galinha-amarela, beterraba e Moscatel do Douro. Numa abordagem jocosa, vem o prato bacalhau e bacalhau, lombo de bacalhau, sames - ou bexiga natatória - língua e sabayon de bacalhau. Jogo brilhante de texturas com muito sabor.
Chega o momento da Codorniz, que é codorniz grelhada na brasa, milhos e pele crocante, o assunto da textura é determinante para o chef Loureiro. O último prato de peixe do menu é robalo e lingueirão, assessorados por tapioca. Tudo oferecido com muita definição e ligeireza. Temos um prato de carne apenas, constituído por galinha, cogumelos e nabo. Configuração de enorme elegância e acerto de temperos a toda a prova.
Segue-se a primeira sobremesa, que consiste de ananás dos Açores e eucalipto, a frescura é perfeita para fazer o corte com o restante conteúdo da refeição. O chef chama-lhe carinhosamente sopa de eucalipto. Terminamos em beleza com a segunda sobremesa, intitulada Bosque do Minho, consistindo de creme de avelãs, chocolate e bagas. Estamos, sem dúvida, no universo da alta cozinha, em todo o mais pequeno passo há intenção e nada acontece por acaso. Só mesmo da mente de um intérprete genial da cozinha portuguesa.