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Não sei falar deste lugar tão especial sem primeiro me deter na figura e personalidade do seu proprietário e mentor. Luís Filipe Ferreira é um empresário de mão cheia e cumpre na perfeição o paradigma da proximidade. Sem especificamente fazer por isso, é sem dúvida um dos grandes restauradores de Lisboa. Conhece os meandros do luxo como muito poucos, ele próprio trabalhou de corpo e alma no universo têxtil, a que se seguiu vasta temporada no mundo automóvel topo de gama. A epifania da restauração que está na base do nascimento do Bom de Veras tem de ter em conta todo um passivo de excelência para verdadeiramente se entender.
Absolutamente magnético na forma cativante como exerce a sua função, Luís Filipe conhece muito bem a sua clientela e sabe corresponder às suas vontades mesmo antes de serem explicitadas.
As minhas entradas favoritas nesta casa mágica são ovos mexidos com farinheira, que encontramos em tantos sítios, mas que aqui são muito especiais. As mais que vezeiras gambas al ajillo, que aqui são processadas como relíquias finas, têm um notável recorte técnico, integração. E o estaladiço de queijo de cabra e compota de pimentos.
Nos peixes há um prato de bacalhau fresco confitado sobre brás de espargos que faz parte do património da casa e é delicioso. Até os canónicos filetes de peixe-galo com arroz de tomate têm a capacidade de nos elevar até ao estado de imponderabilidade, tal a correção de temperos e acerto de texturas. E o polvo à lagareiro surpreende a cada garfada.
No capítulo das carnes, estamos igualmente bem, muito bem até. São brilhantes as iscas de fígado à portuguesa. Fininhas, saborosas e muito originais. Da prodigiosa cozinha saem bochechas de porco suadas em vinho tinto que apetece sempre repetir. E há uma panóplia de molhos que acompanham a gosto o excecional bife do lombo deveras bom: à portuguesa (azeite, alho e louro); mostarda; café; ou três pimentas.
A oferta de vinho é exemplar no acerto com que acompanha o cardápio. E exemplares são também as sobremesas desta casa que tanto nos chama e cativa.
Basta provar as farófias para aquilatar devidamente o nível estratosférico da ciência doceira que se pratica. Completada pelo belíssimo strudel de maçã com amêndoas. E pela extraordinária tarte de maçã. E pelo compromisso firme e natural de fazer desta a nossa casa.