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Na aldeia de Pias, em Monção, há por estes dias, um palavrão que anda na boca de toda a gente, por causa de um evento gastronómico dedicado ao cordeiro assado no forno, que se tornou fenómeno de popularidade.
A popular Feira da Foda, que começa esta sexta-feira e termina domingo, era uma feira de gado centenária em desuso na freguesia de Pias e foi relançada em 2017, com a vertente gastronómica, pelo então presidente de junta, Agostinho Correia. O ex-autarca dizia a brincar que F.O.D.A. são as iniciais de Feira Ovina do Antigamente, mas na região a população gosta mesmo é de encher a boca e pronunciar a palavra com todas as letras.
O atual presidente de junta, Gaspar Castro, garante que até do pároco a ouviu de viva voz. "Acho que já falamos disso em conversa e que ele a disse sem problemas. Já deve ter calhado falarmos do prato, da foda", afirma o autarca.
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O certo é que o padre Jorge Silva contou à TSF que em Monção a dita palavra não melindra ninguém. "Pode criar estranheza, principalmente para quem não é de cá. Agora para quem é de cá, não cria nada, porque usamos esse nome", refere, reforçando: "para o pessoal do Sul, mesmo os meus colegas [padres] do futebol, quando dizemos um palavrão ou outro, ficam muito melindrados. Para nós é perfeitamente nornal usar o nome [foda] quer para a feira, quer para irmos comer. Quase ninguém diz comer o carneiro".
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Como dizem, então, senhor padre?, pergunta a TSF. "Como vocês sabem. Não querem que o vá dizer aqui", responde.
Claro que queremos, senhor padre Jorge. E o sacerdote, lá cedeu: "Como disse, aqui é perfeitamente normal. As pessoas convidam: senhor padre, vamos comer um foda".
Ao contrário do pároco, José Pombo nem precisa que lhe perguntem para dizer e repetir a dita, ao balcão do café.
"Foda? Foda é normal, então? Isto já vem de muitos anos. Sempre existiu a palavra foda. Palavra é palavra, quem gosta, gosta, quem não gosta ponha na beira do prato", sentencia.
Em Monção, conta-se que o cordeiro assado em alguidar com arroz de forno, ganhou este nome, porque "antigamente as pessoas deitavam sal na forragem dos animais para os engordar e vender por melhor preço na feira. Uma semana depois, os animais emagreciam para metade e quem os comprava exclamava, à boa maneira minhota: 'que grande foda!'.
O prato com nome picante, dá agora mote à feira gastronómica que arrasta gente do Minho ao Algarve, de países, como Brasil, Suíça, França, Espanha, EUA, Austrália, e principalmente das comunidades de emigrantes.
O autarca Gaspar Castro, acredita que este ano, "se o tempo ajudar", vão superar "as 40 mil pessoas" da última edição em 2019. A organização a cargo da junta, estima servir "cerca sete mil refeições", com o apoio de um restaurante local, que possui fornos a lenha. E instalou três tendas gigantes com zonas de refeição, de animação e concertos, tasquinhas de petiscos e expositores de todos os setores, do vinho à doçaria e artesanato e alfaias agrícolas. O cordeiro, ou melhor, a "foda" será servida a 17 euros a dose.
Fernando Pedreira e a mulher Ana, do café "Encontro", tem preparados "300 animais e 900 quilos de arroz", para três dias de forrobodó. "Mais um ano de foda. Deus queira que corra tudo bem", pede o cozinheiro Fernando.