"O país não avança sem ciência, é verdade, e a ciência não avança sem emprego científico, também é verdade, mas, a sustentabilidade e o impacto do presente esforço exige um compromisso coletivo de 'stakeholders', do Estado de continuar a aposta na ciência como opção de politica publica, das universidades e das empresas, que devem investir com estratégia e não apenas aproveitar os créditos fiscais", salientou José Manuel Mendonça, presidente do conselho de administração do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).
José Manuel Mendonça, que falava dos 'desafios da valorização do conhecimento gerado nos centros de investigação', à margem da terceira sessão da 'Convenção Nacional do Ensino Superior 2020-2030', que decorreu hoje na Reitoria da Universidade do Porto, lembrou também que a promoção do conhecimento é compreendida por uma "cadeia de valor complexa, não linear e reinventada".
"É preciso entender e gerir de forma explicita as atividades de investigação sem que isso signifique cortar a liberdade científica dos investigadores, constranger a criatividade, criação ou matar o sentido de risco, isso seria dramático", frisou.
Presente no debate esteve também Alcibíades Guedes, presidente do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) que salientou os "desafios" inerentes às colaborações em projetos com o tecido industrial português.
"Cerca de 70% dos nossos projetos são com a indústria, portanto, dá-nos a perspetiva daquilo que é trabalhar com a indústria e as dificuldades que daí advém. Por um lado, os desafios são sempre multidisciplinares e sempre complexos e tem um 'timing' e precisam de uma solução com algum grau de integração", apontou.
Segundo o presidente do INEGI, são "fundamentais estímulos" que permitam o reconhecimento dos investigadores que entendem fazer "um percurso mais ligado à indústria e à sociedade".
"Acho que enquanto não se mudar isso, não se melhora verdadeiramente o problema da universidade. Temos uma ótima relação com a universidade, mas sentimos que um desafio de um projeto com uma empresa fica sempre em segundo ou terceiro plano", disse.
No debate promovido pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) participou também Vítor Vasconcelos, presidente do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), que ao mencionar a diferença entre as áreas de investigação representadas no painel, lembrou que o CIIMAR "está ainda a fazer o caminho que as áreas da engenharia e tecnologia já fizeram há alguns anos atrás".
"É fundamental que a investigação seja feita em ambientes interdisciplinares e multidisciplinares. Cada vez mais temos de ser abertos e temos tido experiências nesse sentido, em que a colaboração entre centros de investigação da mesma área ou áreas complementares é essencialmente fundamental", afirmou.
Vítor Vasconcelos concluiu sublinhando que o centro de investigação marinho tem feito para que a investigação "seja cada vez mais valorizada através da criação de novos produtos, processos e serviços que possam estar ao serviço da sociedade".