A luta pela dignidade na Ucrânia: está a nascer um ponto de invencibilidade em Avdiivka
Guerra na Ucrânia

A luta pela dignidade na Ucrânia: está a nascer um ponto de invencibilidade em Avdiivka

Nesta cidade da linha da frente no leste da Ucrânia onde permanecem cerca de duas mil pessoas, e os ataques com artilharia e força aérea são diários, está ser criado um ponto de invencibilidade. Aqui, será possível carregar o telemóvel, aceder à internet e a medicamentos, comer uma refeição quente e tomar banho. Tarefas básicas, mas de que os habitantes de Avdiivka estão privados, porque não luz, comunicações, nem água devido os bombardeamentos diários e ausência de infraestruturas a funcionar na cidade, ataques esses que se têm intensificado e alargado.

Ataques aéreos que cortam prédios ao meio passaram a ser frequentes. A cidade que é um bastião da resistência ucraniana desde 2014 fica às portas de Donetsk, que foi tomada pela os separatistas da Republica Popular de Donetsk, depois da batalha do cerco do aeroporto que os ucranianos perderam após heroica resistência.

Estes pontos são criados e geridos por uma mistura de administração local e grupos de voluntários com experiência. Este é o caso do grupo de Mykhailo Puryshev, Misha para os amigos, que já abriu vários pontos: três em Bakhmut e outro na região de Zaporijia, Orichiv.

Tudo começa com a escolha do local, uma cave que tenha bons acessos e que seja um local seguro quando há bombardeamentos. Depois é trazer comida, equipamento, combustível, colocar o gerador a funcionar, ter energia elétrica e internet com um starlink: o passo seguinte para a equipa, que demorou quase 24 horas seguidas. Um trabalho árduo. A água será para os balneários e também para beber, se bem que ninguém analisou a água.

A equipa é totalmente composta por voluntários que recebem donativos. Ao total 12, dez homens e duas mulheres. Sasha sabe de canalizações e Dima de eletricidade. É uma equipa polivalente que faz com que tudo aconteça. Vitaly veio ajudar o amigo na construção do ponto, Milena é de Avdiivka.

Aqui sente-se o cheio a tinta fresca, visto que estão a pintar o local onde será o balneário. Já há água, por isso, mais uns dias e tudo estará pronto.

Um grupo de soldados ucranianos que está a defender a parte leste da cidade de Avdiivka vem visitar o ponto. Um dos soldados, Roman, de 55 anos, vive nos arredores de Madrid há 22 anos, e fala em castelhano. Diz que quando a invasão começou decidiu logo voltar à Ucrânia.

Nascido na parte ocidental do pais, a 150 km Polónia, há um ano que está na frente de combate em Avdiivka. Para ele, o principal problema desta região é que foi gerida durante décadas por políticos corruptos que não se preocupavam com as pessoas e que as destituíram dos seus valores ucranianos.

Ontem, enquanto distribuímos comida com outro grupo de voluntários, Pavel ouvia rádio russa com um pequeno aparelho a pilhas. Muitos dos moradores dizem que estão cansados destes nove anos de guerra. Todos consideram que agora é muito pior, "é insuportável".

O ponto de invencibilidade fica no centro da cidade. A 50 metros de um prédio arrasado há duas semanas por uma bomba lançada de um avião, que deixou um prédio de cinco andares em destroços. À porta caiu um rocket com bombas de fragmentos há poucos dias.

Mas se andarmos por Avdiivka podemos testemunhar que nesta cidade fantasma não há nenhum prédio sem uma janela partida, uma casa carbonizada, uma parede desfeita, tal é o rasto da guerra nesta cidade.

Misha tornou-se conhecido por evacuar inúmeros habitantes de Mariupol na sua carrinha Mercedes que resistiu a tudo. E ainda a usa. Mesmo que Avdiivka venha a cair para o controlo russo, o que ainda parece distante dado o controlo da cidade e arredores pelo exército ucraniano, o sentido deste ponto "é oferecer estas condições mínimas a quem fica", explica Misha. Ter a possibilidade de falar com a família, tomar um banho e comer uma refeição, atividades normais mas que a guerra roubou, tornando-as uma luta pela dignidade.

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