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Sandra Pereira, eurodeputada do PCP, garante que o partido se bate pela soberania de cada Estado na União Europeia, o que se aplica à situação vivida no Afeganistão, mas também à aplicação dos fundos europeus nos planos de recuperação e resiliência. É com "preocupação" que a eurodeputada vê que "foi anunciada [por Ursula von der Leyen, no discurso do Estado da União] a continuação de uma militarização na União Europeia" e, de uma forma geral, mais investimento no "militarismo".
Ursula von der Leyen admitiu que a UE adotará como prioridade ter presença exclusivamente europeia em missões militares, isto é, sem a participação das Nações Unidas. Defendendo ainda a União Europeia da Defesa, a presidente da Comissão Europeia lembrou que hoje os ataques podem ser igualmente danosos se forem perpetrados contra a cibersegurança, e anunciou a possibilidade de renunciar à cobrança de IVA aquando da aquisição de equipamento de Defesa produzido na Europa. São decisões que o PCP critica, frisa Sandra Pereira, em entrevista à TSF, na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo. "O Afeganistão está aí para mostrar que isso não é necessário. O que é preciso é que cada país seja soberano nas suas opções de desenvolvimento e que não haja esta ingerência e desestabilização que tem ocorrido um pouco por todo o mundo."
"No Afeganistão esta operação existe há mais de 40 anos. Nos últimos 20 anos, foi invadido pelas forças dos Estados Unidos da América, mas também pela NATO, portanto, com o apoio de sucessivos governos em Portugal e de outros Estados-membros da União Europeia." Sandra Pereira salienta que a continuação da "ingerência" naquele país "não é opção, depois de 20 anos de agressão e de invasão", e argumenta que "aquilo que é preciso é a União Europeia ajudar a construir um caminho de resolução pacífica dos conflitos, com cooperação, respeitando aquilo que está na carta dos princípios das Nações Unidas e no direito internacional".
A deputada portuguesa no Parlamento Europeu acredita que os fundos devam ser canalizados para outros propósitos mais urgentes, e denuncia: "De quadro financeiro para quadro financeiro, a despesa com a militarização aumenta."
A eurodeputada lembra também que a semente da invasão do Afeganistão foi a guerra contra o terrorismo e que essa sustentação não deve ser feita agora. "O Afeganistão deveria mostrar que essas ameaças não existem, e aquilo que existe é operações de desestabilização daqueles territórios, com objetivos estratégicos dos países que os invadem", afirma Sandra Pereira.
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O caminho para uma União da Defesa tem sido trilhado, o que o PCP vê "com muita preocupação", por se opor ao princípio de "defesa de soberania de cada país". É uma preocupação que se reflete ainda nos aspetos económicos. Sandra Pereira defende que os PRR devem ter em conta as necessidades de cada país e não o que é imposto pela UE. "Há uma série de imposições. Os países são obrigados a fazer as ditas reformas, e muitas vezes isso não corresponde às necessidades daquilo que é o país."
A eurodeputada assinala que os despedimentos coletivos "dispararam" entre 2019 e 2020, e que Portugal deveria ter como prioridades a criação de emprego público e a valorização do trabalho e dos salários, de forma a ter um país "mais preparado" para crises futuras.
"Há 30 ou 40 anos, tínhamos muita produção nacional. À medida que a integração foi sendo aprofundada na União Europeia, nós deixámos de produzir aquilo que tínhamos capacidade de produzir, tornámo-nos mais dependentes." Agora, o PCP quer que o caminho se reverta, até porque "Portugal tem um potencial imenso de produção". Nos próximos anos, advoga Sandra Pereira, será necessário ter em conta os aspetos sociais da transição ecológica e digital.
Nos últimos anos, ressalva, foram feitos cortes sistemáticos no SNS e na escola pública, "mas foi o SNS que deu a resposta de que precisávamos durante a pandemia". Trata-se de um fator que expõe a importância do setor público, aclara a eurodeputada, que reivindica o mesmo propósito que o PCP tem reclamado a nível nacional: o apoio aos trabalhadores. Falta "proteção a muitos trabalhadores que eram precários e que, sendo precários, foram os primeiros a serem descartados, sem qualquer proteção durante a pandemia", salienta. "O desemprego tem aumentado brutalmente em tempos de pandemia."