Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
1 - BIDEN, OS LATINOS E A FLORIDA
Em junho, Joe Biden tinha 12 pontos de avanço sobre Donald Trump na Florida. Um mês e pouco depois essa vantagem evaporou-se (empates técnicos, Trump à frente numa ou noutra sondagem, Biden com 3 ou 4 pontos de avanço noutras). O que se terá passado? Essencialmente, um recuperar da narrativa económica Trump, sobretudo nos segmentos entre os 30 e os 60 anos. Mas só isso não explica tudo. Há um problema, nas últimas semanas, de Biden com os latinos da Florida. Porquê? A resposta é complexa. As campanhas de desinformação e "fake news" podem explicar parte. Os chats WhatsApp de língua espanhola, grupos do Facebook e programas de rádio na Flórida foram inundados com pontos de discussão conspirativos. Falam de George Soros como "líder de um estado profundo global". Garantem um Presidente Biden entregaria a América "aos judeus e aos negros" e (que paciência...) que os líderes democratas operam secretamente dentro de um círculo de pedofilia satânico. Dava para rir, se não tivesse alcance. Incrivelmente, este tipo de teorias tem ganho alcance em setores de latinos da Florida. É claro que este tipo de maluquices será sempre minoritário e tendencialmente marginal no espaço comunicacional. Mas fica muito difícil avaliar o grau de influência que vai ter na eleição. Num estado como a Florida, tecnicamente empatado, tudo pode contar. E isto, perturbadoramente, pode mesmo contar muito.
2 - SINAIS PREOCUPANTES NA CAROLINA DO NORTE
O voto por correspondência será muito importante nesta eleição (prevê-se que salte de 25% para perto de 50% do total de votos). Ora, se esses votos não forem expedidos e contados de forma atempada e competente, é de prever uma grande confusão na noite de 3 de novembro. Os receios sobre problemas de equidade já não são apenas receios - são já factos. Na Carolina do Norte, onde já se vota há alguns dias, os votos rejeitados por algum tipo de irregularidade são quatro vezes mais, em proporção, para os negros (4,7%) do que para os brancos (1,2%). Num estado competitivo como a Carolina do Norte, com imprevisibilidade quanto ao vencedor, isso é preocupante para Biden - que precisa do voto negro para bater Trump. Quanto menos negros votarem, maiores são as probabilidades de reeleição de Trump.
UMA INTERROGAÇÃO: Será que os votos por correspondência vão mesmo ser contados de forma expedita e atempada?
MODELO PREDITIVO ECONOMIST
Probabilidades eleição: Joe Biden 85%-Donald Trump 15%
Probabilidades de quem irá vencer voto popular: Joe Biden 97%-Donald Trump 3%
Previsão Colégio Eleitoral: Joe Biden 329-Donald Trump 209
MODELO PREDITIVO FIVETHIRTYEIGHT
Probabilidades eleição: Joe Biden 77%-Donald Trump 23%
Previsão voto popular: Joe Biden 52,8%-Donald Trump 45,9%
Previsão Colégio Eleitoral: Joe Biden 330-Donald Trump 208