Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
1 - EXÉRCITOS DIGITAIS
Esta campanha EUA 2020 não terá comparação com nada. Os duelos presidenciais na América são, tradicionalmente, maratonas de várias semanas com quatro ou cinco eventos diários, em que os candidatos se juntam, corpo a corpo, com os apoiantes, a bater à porta de famílias indecisas nos estados que podem ser fundamentais para o Colégio Eleitoral. Quase tudo será diferente desta vez. O modo, quase inacreditável há poucos meses, como a Convenção Democrata está a decorrer é um bom exemplo disso. Quem imaginaria que Joe Biden fosse investido sem sequer estar presente em Milwaukee? Que os diferentes oradores, em vez de experimentarem um palco cheio de luzes e flashes dos fotógrafos, entregam o seu discurso num formato vídeo digital, para ser consumido apenas online? Ora, isso vai ter fortes impactos na dinâmica desta corrida. Numa primeira análise, isso poderá beneficiar Biden e prejudicar Trump. Joe não é particularmente carismático: e menos exposição pode reduzir o risco de "gaffes" ou falhas relacionadas com a idade avançadas. Donald baseia parte da sua força eleitoral nos discursos junto do seu "povo" cegamente fiel e muito pouco informado. Com muito menos contacto pessoal, o democrata corre menos riscos, o republicano-Presidente-incumbente perderá oportunidade de exalar a força raivosa da sua mensagem populista e demagógica que incendeia as suas hostes. Mas há um outro lado que temos de ponderar melhor: no "exército" digital, Trump parece ter vantagem sobre Biden. Tem mais anos de caminho, tem maior domínio do algoritmo. O discurso do ódio viraliza mais que a mensagem responsável e construtiva. Se o que vai decidir é digital, Donald Trump pode ter vantagem. Veremos.
2 - NÃO, OS DEBATES NÃO VÃO CONTAR ASSIM TANTO
Está toda a gente a dizer que "os debates vão ser decisivos" e que "Joe Biden se pode espalhar ao comprido frente a Trump". Acho que isso está muito longe de ser uma garantia. Nas suas duas vertentes. Em primeiro lugar: os debates entre os candidatos têm tido, progressivamente, menos relevância e impacto de audiência ao longo do tempo. Tem a ver com a redução do tempo de atenção, com a redução do fenómeno de "todos estarem a ver a mesma coisa". E também com o tribalismo: como um debate tem regras e há que respeitar o outro lado (os dois candidatos terão as mesmas oportunidades de falar), isso não é um modelo que agrade a uma parte importante da base Trump, que não se revê nesse respeito democrático e prefere olhar só para o seu campeão e espezinhar o adversário. Depois, convém olhar para o que se passou em 2016: Hillary ganhou claramente os três debates, sob todos os indicadores, mas depois não foi eleita. Acontecera o mesmo em 2004 com John Kerry. E em 2012 Barack Obama arrancou com um péssimo desempenho no primeiro debate contra Mitt Romney - mas mesmo assim, venceria folgadamente a eleição, um mês depois. Não vão ser os debates a decidir isto.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Trump aguentar todos os estados do Sul, ou redutos como Geórgia ou Arizona podem mesmo estar em aberto?
UM ESTADO: Mississipi
Resultado em 2016: Trump 57,9%-Hillary 40,1%
Resultado em 2012: Romney 55,3%-Obama 43,8%
Resultado em 2008: McCain 56,2%-Obama 43,0%
Resultado em 2004: Bush 59,5%-Kerry 39,8%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 1 vitória democrata, 11 vitórias republicanas)
-- O Mississipi tem 3 milhões habitantes: 57,5% brancos, 9,6% hispânicos, 37,7% negros, 1,1% asiáticos; 51,4% mulheres
6 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Mississipi - Trump 50/Biden 41
(Millsaps College/Chism Strategies 2-4 junho)