O general que preside ao grupo de militares que analisa questões de segurança e conflito acredita que não estão criadas as condições para uma invasão da Ucrânia, nem para uma guerra na Europa. O que deve acontecer, explica Pinto Ramalho à TSF, é um "conflito militar limitado ao longo do tempo" na zona leste da Ucrânia com a comunidade internacional a reclamar vitória por ter evitado uma invasão efetiva.
"Com 150 mil homens, a Rússia não tem capacidade para invadir a Ucrânia nem tomar conta de Kiev e ocupar um país de 40 milhões, em termos técnicos não é assim", assegura o antigo chefe do Estado-Maior do Exército. Para este militar, "é muito mau o que se está a passar na Ucrânia" e o cenário mais provável é o de que exista um "conflito militar limitado" e longo. A Rússia deverá empregar a coação militar com vista ao desgaste, num conflito que naturalmente terá "mortos e tudo o que isso representa".
Um cenário de bombardeamentos aéreos, ainda que possível, não é provável. "Não sei o que vai acontecer, mas se imaginarmos que de repente a Rússia faz um ataque aéreo indiscriminado a Kiev, um bombardeamento que causa dezenas, centenas de mortos civis... Como é que a comunidade internacional reage a uma coisa destas? Poderá não entrar em guerra com a Rússia, mas efetivamente a retaliação política e económica cairia sobre a Rússia."
E mesmo sob o regime em vigor na Rússia, o general duvida de que uma ação militar desta natureza fosse aceite pelos próprios russos, "que não são pessoas que não pensam nos acontecimentos".
"Com 150 mil homens, a Rússia não tem capacidade para invadir a Ucrânia"
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A sucessão de posicionamentos assumidos pela comunidade internacional leva o general a acreditar que todos os intervenientes vão acabar por reclamar vitória enquanto sublinham o papel fundamental que tiveram no conflito.
Os Estados Unidos têm condições para dizerem que, "com a política que desenvolveram, de denúncia da invasão, a travaram" e a NATO, tal como a União Europeia, poderão dizer que "melhorou e se consolidou".
Por seu lado, a Ucrânia pode dizer que "resolveu o problema do leste" e que "não tem condições para entrar para a NATO", um objetivo visto como conseguido pela Rússia. Já o "défice de audição de que Putin se queixava terá sido compensado com as sucessivas conversas com Biden e com os líderes europeus que foram a Moscovo", construindo uma imagem de "interlocutor indispensável".
"Estão criadas oportunidades para todos saírem de cara lavada, se todos puderem dizer que ganharam - ou que obtiveram êxitos - é excelente", explica o militar, uma vez que fica esvaziada a crise. Deste processo "saem francamente mal os ucranianos", que também estão em desvantagem no que respeita ao poderio militar, embora "melhores do que em 2014".
General reflete sobre a possibilidade de todos saírem "de cara lavada" do conflito.
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Com a Rússia a apoiar os separatistas pró-Kremlin na fronteira leste da Ucrânia, o Governo de Kiev já pediu apoio e o Estados Unidos falam numa disponibilização de "armas defensivas", algo que Pinto Ramalho tem "muita dificuldade" em descrever, porque a fronteira entre estas e as "armas ofensivas é muito difícil de estabelecer".
"O que há é operações ofensivas e operações defensivas", mas uma espingarda "tanto é uma arma ofensiva como uma arma defensiva". Ou, por exemplo, as armas anticarro, que têm sido apresentadas como "defensivas".
"É por destruírem os carros de combate? E se o carro de combate estiver parado e o destruir? É uma arma ofensiva ou defensiva? É uma definição muito complexa", sustenta o militar. Para já, o que está em causa é um "problema de vontade de combater. Vamos ver até que ponto é que isso vai acontecer".
A dificuldade de definir o que é uma arma defensiva ou ofensiva.
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