Impeachment pode estar para breve. Protestos da esquerda e direita abalam imagem de Bolsonaro
A insatisfação já vem de várias forças do espetro político. A gestão da pandemia foi a gota de água e agora o Brasil está na expectativa de que a eleição para novo presidente da Câmara dos Deputados possa abrir caminho para a destituição de Jair Bolsonaro.
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O Brasil tem sido palco de novos protestos contra Jair Bolsonaro. As manifestações são organizadas por grupos de esquerda, mas também pela direita.
Entre os manifestantes há muitos brasileiros que ajudaram a eleger Bolsonaro, mas a pandemia está a ser um ponto de clivagem de opiniões no Brasil. Raul Francisco Magalhães, um especialista brasileiro em Ciência Política, conta à TSF que a gestão da pandemia por parte de Bolsonaro foi a gota de água para muitos apoiantes do Presidente.
"Quando a população percebe, por exemplo, que noutros lugares os processos de vacinação estão mais adiantados, porque os governos desses se preocuparam em fazer a sua parte, a opinião sobre Bolsonaro, sobretudo entre os setores mais escolarizados, foi ficando complicada", assinala Raul Francisco Magalhães.
Como a situação económica também se agudizou, dado o avanço da pandemia, estão reunidos os fatores para uma quebra na popularidade do chefe de Estado brasileiro.
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Bolsonaro também começa a perder apoio entre as classes mais desfavorecidas devido ao fim do auxílio emergencial, um pacote de ajuda aos trabalhadores independentes. O politólogo Raul Francisco Magalhães explica que o Presidente do Brasil reúne apoio "nas classes mais populares", o que está "diretamente ligado a um auxílio emergencial" a que se opunha, mas o Congresso o exortou a materializar. "As pessoas identificam esse auxílio emergencial como uma ação do próprio Presidente. Normalmente são pessoas que não acompanham política e que apenas reagem à política."
O apoio de emergência acabou em dezembro de 2020, e agora, com a escalada da situação epidemiológica, "sete entre os dez brasileiros que só recebiam o auxílio" podem abalar a imagem do Presidente brasileiro. "Está previsto que ele deve despencar nas próximas sondagens", analisa Raul Magalhães.
O investigador da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, sublinha que antes da pandemia Bolsonaro tinha já perdido apoio à direita, com a saída de Sérgio Moro do Governo. "Depois da saída de Sérgio Moro, houve um abalo sobretudo em alguns setores da direita que consideravam que era necessário manter a agenda da luta anticorrupção. Nesse momento, para a própria sobrevivência, o Presidente começou a aproximar-se daquilo que no Brasil nós chamamos centrão: são deputados de pouca estruturação ideológica que concordam em votar com o Governo, de alguma maneira garantir a sustentabilidade do Governo a troco de determinadas emendas parlamentares."
A aproximação ao centrão compromete qualquer compromisso ou estratégia anticorrupção, defende Raul Magalhães.
Com mais de 60 pedidos de destituição contra Bolsonaro, o impeachment só segue em frente dependendo de quem for eleito para novo presidente da Câmara dos Deputados. O deputado Arthur Lira será pró-Bolsonaro se vencer e "tem um poder de agenda muito grande". Já o deputado Baleia Rossi faz parte da oposição e celebrou um acordo que vai "de uma certa direita-centro a uma certa esquerda". O PT comprometeu-se a apoiar Baleia Rossi, esclarece o doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e professor titular do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. "Se o deputado Baleia Rossi vencer a presidência da Câmara, o caminho para o impeachment de Bolsonaro está aberto. É um grande projeto em que podemos imaginar a união destes dois setores."
* e Catarina Maldonado Vasconcelos