No verão, o governo e as autoridades de saúde da Suécia prepararam-se para o que pensaram ser o futuro pior cenário. A realidade revelou-se mais grave do que se previa.
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A Suécia, que tem mantido menos restrições do que a maioria dos países europeus face à Covid-19, está a debater-se com os efeitos de uma segunda vaga da pandemia no país.
Depois de inicialmente ter adotado uma estratégia de combate à pandemia atípica, limitando-se apelar à responsabilidade individual e sentido de dever cívico dos cidadãos, com poucas proibições, sem restrições à circulação e mantendo abertas escolas, cinemas, ginásios, cabeleireiros, bares e restaurantes, em novembro o país decidiu pela primeira vez apertar as regras.
Foi proibida a venda de álcool a partir das 22h00, imposta a obrigação de encerramento de bares, restaurantes e clubes noturnos a partir das 22h30 e limitadas as reuniões em espaços públicos a um máximo de oito pessoas (limite até então fixado em 50 a 300 pessoas, dependendo do caso).
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Medidas tardias, que não foram suficientes para travar o número elevado de novos contágios, lamentou o diretor de saúde da região de Estocolmo, Björn Eriksson, em declarações à AFP, alertando para a "pressão extrema sobre o sistema de saúde" do país escandinavo.
A capital é o epicentro da pandemia, e debate-se, sobretudo, com a falta de profissionais de saúde.
"As autoridades de saúde pública prepararam três cenários diferentes no verão. Preparámo-nos para o pior, mas a realidade é duas vezes pior do que se temia", explica Lars Falk, diretor do serviço de cuidados intensivos no hospital Karolinska, em Estocolmo.
"Acredito que fracassamos", disse esta quinta-feira o rei da Suécia, Carl XVI Gustaf, que raramente comenta assuntos da atualidade, numa entrevista ao canal de televisão SVT. "Muitas pessoas morreram, é terrível."
No início desta semana, o número de internamentos por Covid-19 na Suécia igualou o pico de abril, com quase 2.400 doentes em hospitais, mas apenas 10% estão em unidades de cuidados intensivos, metade do que se registou durante a primeira vaga, na primavera.
Com números recorde de novos casos diários - em média são infetadas mais de seis mil pessoas por dia - e mais de 7.800 mortes desde o início da pandemia (um número muito mais alto do que os vizinhos Noruega, Finlândia ou Dinamarca) a taxa de sobremortalidade na Suécia superou 10% em novembro e de acordo com o gabinete nacional de estatística deve piorar nas próximas semanas.
Foi registado um total de 8.088 mortes por diversas causas em novembro - a maior mortalidade já registada no país escandinavo desde o primeiro ano da gripe espanhola (1918-1920).
Mais de 90% das mortes do país são de pessoas com mais de 70 anos e mais de metade ocorreu em lares de idosos.
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Apesar das críticas de uma comissão independente, que considera que as autoridades de saúde não tomaram medidas para proteger os idosos e desvalorizaram a eventual chegada de uma segunda vaga, o primeiro-ministro Stefan Löfven recusou falar em fracasso da estratégia nacional.
"Acho que os especialistas não anteciparam uma segunda vaga porque estavam mais atentos a focos localizados", justificou Stefan Löfven em declarações ao jornal Aftenposten esta semana.
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