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Em praticamente todos os países, o presidente ucraniano teve o cuidado de mencionar acontecimentos nacionais para que cada população se pudesse identificar com o que os ucranianos estão a passar.
Nos Estados Unidos Zelensky lembrou Pearl Harbour em 1941 e 11 de setembro de 2001, dois ataques inesperados que chegaram pelo céu e que os americanos não conseguiram travar. Perante o senado e o congresso, o chefe de estado lembrou que a Ucrânia está a viver esses ataques todos os dias e todas as noites. O discurso foi feito a 16 de março, numa altura em que Kiev pedia aos aliados para fecharem os céus da Ucrânia.

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Nas cortes espanholas Zelensky recordou o ataque contra Guernica durante a guerra civil e o quadro que todos conhecem. A obra de Picasso mostra a tragédia que é a guerra e o sofrimento porque faz passar as pessoas, em especial os civis.
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O presidente ucraniano pediu aos espanhóis para imaginarem Guernica multiplicada por muitas cidades porque é isso que está a acontecer na Ucrânia. Pediu-lhes que entendam que estão a ser criadas artificialmente condições para que, em Mariupol, mais de 100 mil pessoas estejam há semanas a viver sem água, comida e medicamentos.
Aos deputados sul coreanos Zelensky evocou a colisão entre dois mundos, uma realidade que eles bem conhecem. De um lado estão pessoas que vivem a vida pacificamente, que só querem harmonia para elas e para os filhos e que pensam no futuro. Do outro lado estão pessoas que foram humilhadas pelo próprio país durante décadas, atiradas para a pobreza e sem esperança de justiça. Tudo para que os governantes as possam usar em qualquer situação como por exemplo invadir o país vizinho.

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Por várias vezes nestes discursos Zelensky pediu aos outros povos para imaginarem que a guerra era no país deles. Foi isso que fez perante o parlamento canadiano onde falou diretamente para Justin Trudeau pedindo-lhe que imaginasse ser acordado às 4 da manhã com explosões. Os filhos também ouviram. Escuta um míssil a atingir o aeroporto de Otava. Os filhos abraçam-no e perguntam "pai o que está a acontecer?" Nessa altura tenta encontrar as palavras certas para explicar-lhes que começou uma guerra e que várias cidades do seu belo país estão a ser destruídas.
Nos parlamentos da Finlândia e Estónia o chefe de estado lembrou o passado negro que têm com a Rússia e a ameaça que sentem atualmente. Zelensky defendeu que é preciso fazer tudo para que o passado não se repita e, neste momento, isso passa por apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Ouça a reportagem de Margarida Serra sobre os discursos de Volodymyr Zelensky
Na Roménia, o presidente ucraniano regressou ao final dos anos 80 quando Ceausescu foi executado. Ele recordou que há muitas décadas que o ditador romeno, a mulher e as forças de segurança arrastavam o país para o fundo. Criavam pobreza, sofrimento e isolamento não apenas do resto do mundo, mas de tudo o que era moderno no mundo.
O regime apoiava-se apenas na intimidação, repressão, brutalidade, engano e os romenos revoltaram-se, defenderam-se porque Ceausescu já não ouvia ninguém. É isso que acontece com os que na Rússia promoveram a guerra na Ucrânia. Perderam o contacto com a realidade e estão dispostos a sacrificar milhões de vidas para transformarem ideias loucas em realidade.

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Volodymyr Zelensky é judeu e desde muito cedo pediu a Israel para tentar mediar o conflito com Moscovo. Falando perante o Knesset, o presidente recorreu às memórias da Segunda Guerra Mundial. Lembrou, por exemplo, que o partido nacional-socialista foi criado no dia 24 de fevereiro de 1920. Um partido que matou milhões de pessoas, destruiu cidades e tentou apagar países. A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022. Uma invasão que já causou milhares de mortos e deixou milhões sem casa. Os ucranianos estão agora espalhados pelo mundo, à procura de segurança, como os judeus também já estiveram.
O líder ucraniano garante que a Rússia não está apenas a realizar uma operação militar, a guerra tem por objetivo destruir os ucranianos, as crianças, as famílias. Quer apagar o estado da Ucrânia, as cidades, as comunidades, a cultura. Tudo o que faz dos ucranianos ucranianos. É por isso, diz Zelensky, que a Ucrânia tem o direito de fazer a comparação com a Segunda Guerra. Esta é uma guerra pela sobrevivência, como foi para os judeus a guerra de 39-45.
Na Alemanha, Zelensky optou por apontar as pedras que o país tem posto no caminho da Ucrânia. Quando avisaram que o Nordstream 2 era uma arma que a Rússia podia usar, os alemães disseram que era apenas economia. O presidente ucraniano diz que é cimento para erguer um novo muro.

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Quando pediram para serem membros da NATO, a Alemanha disse que essa hipótese não estava em cima da mesa, nem estaria num futuro próximo e agora, diz o chefe de estado ucraniano, está a atrasar a entrada na União Europeia. Zelenskyy diz que são tudo pedras, pedras para um novo muro. Já os negócios alemães com o país que trouxe de novo uma guerra brutal à Europa são o arame farpado no cimo desse novo muro.