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O regime iraniano negou estes casos até esta semana quando, depois de muita pressão, anunciou a abertura de uma investigação. Os ativistas apontam o dedo a grupos extremistas religiosos que se opõem à educação das raparigas.
O diretor-executivo do centro iraniano de direitos humanos quer, por isso, que António Guterres crie um comité de especialistas da UNICEF e da Organização Mundial de Saúde para investigarem o que está a acontecer. Hadi Ghaemi fala em atos de terrorismo e defende que se o regime é incapaz ou incompetente para travar os envenenamentos, então a ONU tem de intervir.
Ouça as declarações de Hadi Ghaemi à TSF.
Entrevistado pela TSF, manifesta a convicção de que estes ataques não poderiam acontecer sem o apoio do regime e que os extremistas responsáveis, tal como o governo, têm pavor do potencial e poder das raparigas. Este iraniano, exilado em Inglaterra, acrescenta que se trata de uma nova campanha de intimidação semelhante às que foram desenvolvidas durante os protestos contra o uso obrigatório do hijab.
Hadi Ghaemi garante a situação das jovens é muito difícil, "há muita pressão, muitas delas foram presas, violadas e até assassinadas".
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"A repressão é enorme e, por agora, as autoridades conseguiram controlar as jovens do ensino secundário, mas é óbvio que elas estão dispostas a manifestar-se outra vez. A revolução depende, no entanto, mais dos jovens universitários. Muitos foram detidos e outros passaram à clandestinidade, mas penso que eles vão ser o motor do próximo movimento de protesto. Agora estão à espera de alguma orientação porque não querem continuar a ser mortos por nada", referiu.
Hadi Ghaemi admite que, por causa das detenções, execuções e tortura, os protestos pararam em quase todo o país. As exigências, no entanto, não tiveram resposta por parte do regime e, mais cedo ou mais tarde, tudo vai acontecer outra vez: "O problema vai regressar em breve quando o governo continuar a não dar resposta às exigências. O regime não fez qualquer esforço para ouvir as queixas dos manifestantes e pelas informações que tenho há muito debate sobre como regressar às ruas com um plano, com uma organização e com uma voz. Durante os meses de protestos, as pessoas de todo o país manifestaram-se de forma espontânea contra a República Islâmica e isso despertou a consciência nacional."
Para o diretor-executivo do centro iraniano de direitos humanos, estes debates estão a empurrar a oposição e a pressioná-la para tomar uma posição. As pessoas podem não ter um partido político ou organização, mas têm as mesmas exigências. Ghaemi explica que agora é preciso encontrar forma de transformar essa unidade num poder real para combater o regime e derrotá-lo. As pessoas querem saber o que vai acontecer a seguir.
Até que a população se consiga unir, Hadi Ghaemi afirma que a comunidade internacional tem de ajudar porque o regime tem de ser isolado e responsabilizado. "Esperamos que a Europa e outros países como a Austrália, Nova Zelândia, Japão ou o Brasil, países que têm embaixadores no Irão, os retirem de forma coordenada como forma de protesto. Também queremos que os diplomatas iranianos nesses estados sejam chamados aos ministérios dos negócios estrangeiros. Outro aspeto que é fundamental é prevenir que ao abrigo de um acordo nuclear a Europa e os Estados Unidos abram caminho a uma ajuda financeira ao regime. Se eles disserem que é necessário esse acordo devem ligá-lo aos direitos humanos."
O ativista, ouvido pela TSF, deixou ainda um apelo às pessoas para que tentem acompanhar o caso dos prisioneiros políticos. Acredita-se que existam mais de 10 mil no país e muitos estão em greve da fome para protestarem contra as condições de detenção, as sentenças arbitrárias e o isolamento. Os prisioneiros não têm acesso a advogados, as famílias não os podem visitar e por isso Ghaemi defende que todos pressionemos Teerão para que liberte estas pessoas.