- Comentar
As autoridades britânicas de saúde estão a alertar para a existência de uma "pandemia oculta" de infeções resistentes a antibióticos, caso as pessoas deixem de lado os cuidados e responsabilidades pós-Covid. Apesar de se antecipar que os sintomas da gripe venham a ser mais frequentes ao longo deste inverno, os especialistas avisam que tomar antibióticos não é a resposta, já que bactérias resistentes podem escapar à ação dos fármacos e colocar em risco a saúde das pessoas, referem as autoridades sanitárias do Reino Unido.
De acordo com a BBC, uma em cada cinco pessoas infetadas em 2020 contraíram uma infeção resistente a antibióticos.
Se a bactéria que causa a infeção não é neutralizada com os medicamentos mais comuns, podem ser originadas complicações graves que levem até à internação hospitalar.
Os antibióticos são fármacos que só devem ser tomados ou prescritos quando realmente necessários, por exemplo, para tratar infeções bacterianas como a meningite ou a pneumonia. Também auxiliam na proteção contra infeções durante a quimioterapia, cesarianas e outras cirurgias comuns. O problema pode surgir, no entanto, quando são prescritos para tratar a tosse, dores de ouvido e dor de garganta, problemas sobre os quais têm pouco efeito ou até nenhum.
Dados do programa de vigilância da utilização e resistência a estes medicamentos mostram que, em 2020, as infeções sanguíneas diminuíram pela primeira vez desde 2016.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
As mudanças comportamentais, que incluíram menor contacto social, melhor higiene das mãos e mais consultas remotas foram alguns dos fatores que contribuíram para esta queda. No entanto, o número de infeções resistentes a antibióticos cresceu durante o mesmo período, o que, para os especialistas, é um alerta para novos aumentos por vir.
Para Susan Hopkins, conselheira de Saúde Pública e especialista em doenças infecciosas, esta resistência é uma "pandemia oculta". A epidemiologista britânica alerta que agora é necessário ter cuidado para "não sairmos do Covid-19 e entrarmos em outra crise".
As infeções graves resistentes a antibióticos "vão aumentar mais uma vez se não agirmos de forma responsável", acrescentou, em declarações à BBC. "À medida que avançamos para o inverno, com uma quantidade cada vez maior de infeções respiratórias em circulação, é importante lembrar que os antibióticos não são necessários para muitos sintomas semelhantes aos da gripe", reforça Susan Hopkins.
O conselho deixado pela especialista é, em vez disso, "cada pessoa ficar em casa quando se sentir mal", já que "tomar antibióticos quando não são necessários apenas servem para colocar em risco a nossa saúde e a dos nossos entes queridos". Ouvir os profissionais de saúde é fundamental, argumenta a especialista.
As prescrições de antibióticos vêm vindo a cair há vários anos, e ainda mais entre 2019 e 2020, principalmente para crianças menores de nove anos. Esta diminuição foi impulsionada pela redução no pedido de antibióticos para infeções respiratórias no inverno passado. As penicilinas sofreram a maior queda nas prescrições.
Contudo, registou-se um aumento nos antibióticos prescritos pelos dentistas, pela primeira vez em muitos anos, provavelmente devido ao facto de muitas pessoas não poderem comparecer às consultas presenciais.
Em 2020, as mortes por infeções resistentes a antibióticos na Inglaterra caíram ligeiramente, para 2228, depois de aumentarem nos quatro anos anteriores, mas os especialistas esperam que estas infeções aumentem de novo.
Em comunicado enviado à TSF, a Direção-Geral da Saúde (DGS) dá conta de uma parceria, com a Fundação Calouste Gulbenkian, para combater as infeções hospitalares e reduzir a resistência aos antibióticos.
A 18 de novembro, assinala-se o Dia Europeu do Antibiótico. Em Portugal, o dia será marcado pelas declarações do secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde também estará a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.