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Bassam Barabandi começa por recordar, em entrevista à TSF, o que sentiu quando a revolução social começou no país, estava ele, na altura, colocado na embaixada da República Árabe da Síria em Washington:
"Quando tudo começou, eram sentimentos um pouco confusos. Ponto um: foi algo bom, feliz, saudável. As pessoas foram para a rua, isso nunca aconteceu antes. As pessoas sempre presumem que, quando vivem sob uma ditadura, se tornam como uma máquina. E, de repente, esta máquina começa a andar e começa a gritar quando se move. Portanto, esse tipo de sentimento é muito bonito, é muito difícil de descrever. Ao mesmo tempo, conhecendo a mentalidade do regime, eu esperava esse tipo de reação sangrenta. Mesmo assim, não esperávamos que chegasse a esse nível alto de derramamento de sangue. Portanto, era uma espécie de mistura de sentimentos e esperávamos que ele (Bashar al-Assad, o líder do regime sírio) pudesse ouvir. Quando a revolução começou, as pessoas não falavam em mudar o regime, mas exigiam mais direitos, mais democracia, uma repartição mais justa da riqueza do país. Pediam justiça social, principalmente; aí, quando o regime usou a força, e força pesada, Assad estava a mandar um recado: não ia desistir de nada. Foi quando os sentimentos começaram a mudar. Esperávamos que o regime, por pressão da comunidade internacional, dos média, das pessoas no terreno, agisse de forma mais racional. Infelizmente, Assad não o fez."
Ouça, na íntegra, o programa O Estado do Sítio, que inclui a entrevista a Bassam Barabandi
Foi então que decidiu que não continuava mais na carreira diplomática e deixou de trabalhar com as autoridades do seu país?
Ser diplomata significa representar o regime; não importa o que o regime diga, seja bom ou errado. Então, eu não conseguia encontrar justificação para os crimes do regime. E não podia dizer que essas pessoas são criminosas e foras da lei, porque é isso que ele é. Quer dizer, a minha geração, o meu povo, os meus amigos, sabíamos o que estava a acontecer. Então, para mim, era uma questão moral e eu não conseguia lidar com isso. Não pude ficar, não pude apoiar a propaganda do regime e simplesmente fui embora.
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Tem escrito que aquilo que começou como uma revolução social, depois, foi um conflito que se islamizou...
Infelizmente, os dois maiores erros que se cometeram foi levar as pessoas a ser islamitas e haver armas. Esses são dois erros principais. Ser islamita significa que a comunidade internacional não apoiou os sírios no momento certo e da maneira certa. Outros grupos vieram preencher esse vazio. Afastaram-se das atividades da sociedade civil, de justiça social, de tentar mudar as regulamentações, as leis, a democracia, os valores dos direitos humanos. Isso é o que as pessoas estavam a reivindicar. Depois, mudaram para algo completamente diferente. Não bate certo: a maioria do povo da revolução síria não é islamita.
Então, um segundo grande problema ou erro fatal foi termos armas. Eu entendo que algumas pessoas digam que precisamos de nos defender. Mas eu penso que há outros países que querem forçar tantos cenários diferentes para a Síria, fornecem as armas ao povo, assim beneficiando o regime que está a usar poder excessivo contra o povo. E todos perdemos. Na verdade, o povo sírio perdeu devido ao regime não poder ou não querer mudar o seu comportamento para com o seu próprio povo. Mais o fator islamita, mais as pessoas a empunharem as suas armas. Essas três componentes permitem-nos chegar onde estamos hoje.
E onde é que estão hoje?
Hoje toda a gente fala sobre a crise síria, mas ninguém fala sobre o povo sírio. Na Europa, falam sobre a imigração síria; não falam sobre a crise síria. Na Turquia, falam sobre os refugiados sírios, não falam sobre a crise síria. Os russos e os iranianos falam sobre os seus próprios interesses na Síria. Isto é, os iranianos querem estar na fronteira da Síria com Israel por causa da questão nuclear, para chantagear o Ocidente. A Rússia quer o porto marítimo para projetar poder no Mediterrâneo. Toda a gente tentou descobrir como se posicionar dentro da Síria para o seu próprio interesse. E ninguém fala sobre os sírios.
Costumávamos ser 22 milhões de pessoas, metade agora está fora da Síria e a outra metade dentro da Síria. Mas quando se ouve, vê ou lê todos os artigos ou entrevistas no mundo sobre a Síria, eles falam sobre o Irão, Turquia, Rússia, Israel, América, não vemos as pessoas falarem sobre os sírios. E isso, por si só, é uma tragédia. Estamos a falar de seres humanos... e é um número grande, quase 12 milhões dentro da Síria e quase o mesmo número fora da Síria. Aqui é onde estamos agora. Por causa dos erros e conflitos de interesses entre as potências regionais, nós perdemos o nosso caso. Não podemos falar hoje pelo Estado sírio; "Quem é você, sírio? Quem representa você, Síria? Qual é a sua voz como partido político ou oposição política?" Nós, a sociedade civil, éramos os mais ativos, mais profissionais, capazes de viver na Europa; longe da polarização do Oriente Médio. Muitos conseguiram. Você pode ver que há tantos casos na Europa agora contra o regime... Mas isso não resolve o problema. O problema é puramente político, um problema político dentro da Síria.
E o que pode a sociedade civil fazer?
Nós, coletivamente, eu e outros sírios, quer dizer, o nosso trabalho hoje é apenas lembrar que esse caso, essa tragédia, ainda está aí. Se não está nos média, não significa que está resolvido. Essa tragédia está aí, essa matança está aí, a fome está aí. Portanto, o nosso trabalho é principalmente consciencializar, não temos o poder de mudar nada. Mas não queremos ficar calados para então nos dizerem 'se vocês não se importam, nós não nos importamos'. Tentamos chegar a todos os governos, a todos os meios de comunicação ou outras organizações civis internacionais, apenas para manter este tipo de pressão, pois nós, como pessoas, acreditamos no nosso país. Precisamos da ajuda de todos para resolver o problema. Se ficarmos calados, ou se apenas dissermos 'a comunidade internacional não se importa mais, então vou continuar com a minha vida'.... Isso não funciona.
Nesta altura, é difícil não dizer que a Rússia e Bashar al-Assad ganharam a guerra e são eles que definem as regras...
Repare, aos russos, em primeiro lugar, esta guerra serve para testar todos os tipos de novas armas que eles têm. Eles tentam usar de tudo e falam abertamente nisso. Número dois: basicamente, alegam que estão na Síria para proteger o regime de Assad. Na realidade, o que eles querem é dizer à Europa que 'agora temos uma presença em Latakia, temos uma base militar, fazemos parte do Mediterrâneo pela primeira vez nos últimos 200 anos". E eles não querem desistir disso; e sempre que são pressionados pela UE, por exemplo, sobre a Síria, eles apenas tentam empurrar mais refugiados para a Europa. Quer dizer, eles tentam chantagear os europeus, através dos refugiados sírios. Não sei... não vejo que seja uma vitória da Rússia. Você sabe, esse comportamento não funciona, Assad não está a controlar o país ainda. Se os russos se retirarem amanhã, Assad retira-se amanhã também. Ou se os iranianos mudarem de ideias, Assad vai embora. Quer dizer, ele não pode sobreviver sem a Rússia e o Irão. E eles sabem disso. Portanto, não sei o que é que querem dizer com vitória.
Eles destruíram um terço do país; está documentado por relatórios da ONU. Não conseguem chegar a um acordo político, não conseguem fornecer nenhum apoio económico ao povo sírio. Se o Ricardo se recorda, na semana passada, pediram aos israelitas que pagassem para dar a vacina do Corona ao regime sírio. Sabe, isto é como um quadro de Picasso, coisas surrealistas. Estão aí com as forças russas no terreno, não precisam de 1 milhão de euros de Israel para comprar uma vacina para a Síria, são uma potência ocupante! Portanto, não sei o que eles querem dizer com vitória, apenas destruíram todas as outras forças. Mas também não é sustentável para eles.
Porque é que diz que foi um enorme erro os norte-americanos terem apoiado apenas os curdos e que as coisas não vão mudar no Grande Médio Oriente enquanto isso não for alterado?
Temos de diferenciar entre os curdos sírios e os curdos que não são sírios. Vamos falar sobre os curdos sírios: eles sofreram muito com o arabismo e com o regime alauita, não há dúvida, dos anos 1960 até hoje, eles sofreram com o regime. É claro que eles nunca tiveram permissão para ter o seu próprio idioma, ou trabalhar no governo, ou entrar no exército ou na universidade. Ou mesmo para ter um bilhete de identidade. Você pode imaginar pessoas, de 1960 a 2011, que não têm a identidade do país em que moram? Eles sofreram, não há dúvida disso. E a revolução deu-lhes a oportunidade de ganhar os seus direitos. Igual para os outros sírios que têm bilhete de identidade, mas não têm direitos. Essa é a diferença entre nós e os curdos. Esperávamos, então, que todas essas pessoas que sofrem com o regime, que é todo o povo sírio, se reunissem. Quando os americanos fizeram uma parceria com certas partes dos curdos, que é o PKK, um grupo comunista, que está na lista negra da Europa e dos Estados Unidos como um grupo terrorista, quando se faz uma aliança com eles, o que se espera? O PKK estabeleceu a sua própria entidade apoiada pelos Estados Unidos, mas eles dizem na sua literatura ou nos seus livros, "queremos o nosso próprio Estado, queremos ter o nosso próprio Estado separado". Separar de quem? Os EUA tornam-se uma potência de ocupação na área árabe. Então, hoje, os árabes enfrentam três, quatro ou cinco opções: ou se juntam à Turquia, ou às forças iranianas, ou às forças russas, ou aos americanos. Quem beneficia desse caos é o Estado Islâmico. O ISIS está a enviar propaganda, estamos de volta à mesma propaganda que afirma: "estamos a defender os sunitas contra os muçulmanos xiitas, contra os curdos". E tentamos dizer aos americanos que, se não fizerem um novo contrato social na região, entre os árabes e os curdos, onde possamos ter um novo modelo para a nova Síria, estamos a perder dinheiro e energia, e não vão conseguir o que desejam.
As forças internacionais estão lá, as forças do regime estão lá, as forças iranianas estão lá, competindo para obter mais legitimidade dos habitantes locais. Enquanto os americanos estiverem a apoiar um grupo que se quer separar da Síria, geograficamente, e que representa 20% da população, temos os ingredientes para outra guerra civil. São os ingredientes de mais instabilidade e o ISIS beneficia disso. O Irão beneficiou, a Rússia beneficiou, o regime beneficia... os americanos têm todo o dinheiro lá e as suas forças. Portanto, devem ter palavra no assunto e dizer, a alto e bom som, que isso não funciona. Infelizmente, eles estão a ouvir, mas muito lentamente, e também agem muito lentamente.
Mas o que espera da Administração Biden?
Penso que o governo, quero dizer, não apenas o governo e o Congresso ou os média, acho que toda a sociedade americana em Washington DC está 100% focada na China. Isso significa que precisam de ter relações muito boas com a UE, não podem enfrentar a China apenas por si próprios. Então, vamos ver com certeza uma relação mais próxima com a UE. Isso é 100% certo. Esse é o primeiro ponto. Segundo: em relação a toda a questão do Médio Oriente, eu acho que estão bem, no fundo... eles dizem 'vamos tentar encontrar o modelo para um acordo e vamos deixá-lo para vocês resolverem'. Então, desse ângulo, creio que eles serão mais agressivos na solução da questão nuclear iraniana. É uma prioridade de 100% para eles; pensam 'é assim que tornamos esta área mais estável ou menos conflituosa. Acho que eles deixaram claro que também querem resolver a questão do Iémen. E acredito que a Síria estará sob as questões iranianas. Caso resolvam o acordo nuclear com o Irão, estariam a resolver três grandes problemas: Líbano, Síria e Iraque, a influência iraniana nesses países. Eles não vão fazer como Trump para dizer ao Irão "vocês devem ir embora". Em vez disso, eles perguntarão ao Irão: qual é o vosso interesse nessas áreas? Portanto, pelo menos sabemos como lidar com isso para encontrar algum terreno comum. Eles esperam trabalhar nesse desenho.
A influência das milícias xiitas iranianas é real?
É engraçado... todas essas tragédias, não sei qual é a palavra certa, a relação entre o Irão e a Rússia e o regime na Síria é realmente um caso de estudo. Irão e Rússia estão a fornecer biliões de dólares para a operação militar, salários, armas, para todas as coisas relacionadas com a operação militar. Eles não têm limite de dinheiro para gastar. Especialmente se estão a montar uma nova milícia ou a reforçar as suas próprias forças. Portanto, é realmente claro quanto dinheiro deles é gasto. Os iranianos dizem que estão a gastar entre três e quatro mil milhões por ano, os russos dizem que o número oficial é de 3 mil milhões por ano. Portanto, em conjunto, temos pelo menos 7 mil milhões por ano do Irão e da Rússia, para a militarização do conflito. Ao passo que, quando é trabalho entre o governo sírio e o governo russo, ou do governo sírio para governo iraniano, os russos e iranianos dizem: 'não temos dinheiro, podemos oferecer uma linha de crédito, podemos conceder empréstimos, e vocês têm que pagar de volta'. E como o país está em guerra, não há como retribuir, não há rendimentos. Então, eles pedem fundos soberanos, garantias soberanas da riqueza natural síria. É assim: o iraniano dá os seus dois mil milhões e diz, 'sabe, nós precisamos do fosfato', as minas de fosfato nesta área, o que é igual a 2 mil milhões; os russos consideram toda a sua base militar como reembolso dos empréstimos da Rússia. Então, quando eles trabalham de governo para governo, eles trabalham de forma muito gananciosa para dizer, 'nós não temos dinheiro para te dar, nós damos linhas de crédito, nós damos empréstimos e vocês têm de pagar de volta, e se vocês não pagarem, devem dar-nos algo no terreno. Então, hoje somos um país que não tem receita nenhuma, porque o governo não exporta nem importa. Eles estão a viver das linhas de crédito da Rússia e do Irão. Vendem propriedades sírias, propriedades do governo sírio, como edifícios. Ontem, começaram a vender prédios antigos, prédios históricos em Damasco, para a Rússia. E recursos naturais. Isto mostra exatamente como esses países estão a ajudar a Síria. Não estão a ajudar nada. Voltamos onde começámos: esta já não é uma guerra síria. Trata-se de uma competição regional para ficar com parte da Síria, sob o lema "apoiamos o regime legítimo".
Acredita que haverá um fim para todo esse cenário?
Na verdade, eu penso que é impossível. Se quisermos ser realistas, duvido que haja qualquer força que possa tirar a Rússia da Síria, até mesmo a América. Na administração anterior, eles foram muito abertos para dizer: "Rússia, vocês estão a patrulhar uma zona onde têm influência histórica. A escolha é vossa. Vamos embora, não estamos a competir convosco, mantenham a vossa base, não nos interessa".
Vamos colocar a questão de uma maneira diferente. Esses países, potências regionais, querem a terra da Síria, não estão aqui por motivos ideológicos, nem de projeção de poder, de poder político. A Rússia precisa da terra em Tartus para dizer aos europeus "estamos aqui". Os iranianos precisam da terra para dizer "estamos ligados de Teerão a Beirute". Os turcos precisam da terra, para dizer "estamos nesta terra, temos os pés aqui". Há forças turcas na Síria. As pessoas não falam sobre eles. Mas são entre a 35 a 40 mil, exército oficial, em Idlib. E também dizem: 'estamos aqui para proteger os EUA e a Europa de novas ondas de refugiados. Portanto, temos que estar dentro da Síria. E precisamos de outra coisa. Devemos entrar na Síria para lutar contra o PKK '. Os israelitas precisam das terras para se proteger do Hezbollah e das milícias pró-iranianas no sul da Síria. Então, quando você olha, não é uma guerra de ideologia ou como a guerra fria - o mundo livre e o comunismo; esta guerra é diferente porque cada potência regional, precisa de terras. E esse é o problema na Síria. Não é como a guerra fria onde há comunistas de um lado e um mundo livre do outro; não é ideologia. Então, basicamente, se houver um acordo na Síria, o acordo dirá, 'dividiremos a Síria em cinco países, como esfera de influência, o norte à Turquia, o sul para Israel, no mar para a Rússia e no meio para o Irão, e então é 'sírios, aproveitem o que vocês têm". É aqui que estamos. Na verdade, é para lá que vamos.
Presumo que continue a falar com familiares e amigos na Síria. Como é atualmente a situação no terreno?
É corona, corona, corona, em todos os lugares. Não há medicamentos, não há hospitais, não há equipamentos. Não há médicos, na verdade, infelizmente, os médicos foram os primeiros a morrer do coronavírus. Mais de 200 médicos foram mortos ou morreram por corona, porque, como sabemos, os médicos estão na linha da frente. Não há equipamento, não há nada lá para derrotar essa doença. Em segundo lugar, a inflação está a ficar muito alta. Os preços são muito altos. Falta de tudo. O regime diz que é por causa das sanções; nós dizemos que não é sobre as sanções, é por causa da guerra. Porque, há dez anos, o regime ou o governo da Síria tinham reservas no banco central em torno de 35 mil milhões de euros. Hoje estão sem nada, estão a viver de linhas de crédito. Portanto, não se trata de sanções. É sobre usar mal o dinheiro, usá-lo na matança. Isso é o que acontece há 10 anos. Toda a gente está em muito mau estado economicamente, falta tudo no mercado. Não há oportunidades de trabalho, como pode imaginar. E mesmo dentro da área controlada pelo regime, agora as pessoas falam em revolução social ou económica. As pessoas simplesmente precisam de comer, não têm mais pão nem leite, o básico do básico não existe. E se existe, é extremamente caro. Digamos que os salários dos funcionários públicos, dos empregados médios, há dez anos, eram de 300 a 400 dólares. Há dois anos, passaram a ser de cerca de 100. Hoje são 7 a 10 dólares por mês! E como você pode imaginar, os salários caem, mas os preços sobem. Então, as pessoas estão a morrer à fome. Aí voltamos aos russos e iranianos, as maiores potências no terreno. Eles dizem: "não temos dinheiro para sustentar a vossa economia, mas podemos dar-vos um empréstimo e receber garantias". Essa é a equação. Portanto, não há rendimento real para o regime, não há exportação ou importação, a infraestrutura foi destruída. Então as coisas estão muito más, muito más. Para onde estamos a ir, na verdade, não sabemos. Portanto, os russos esperam que os europeus venham ajudar. Os europeus dizem: "como podemos ajudar, se vocês ainda estão a empurrar mais refugiados em direção às nossas fronteiras?". Tem de haver mudanças substanciais em Damasco, para que as pessoas se sintam seguras para voltar, ou, pelo menos, levar o dinheiro de volta para o país. Aí, teremos algo para trabalhar. Por enquanto, os russos dizem: "somos vencedores, ganhamos a guerra. Então colocamos os termos da vitória, portanto, aproveitem o que têm". E assim estamos. Tão triste, é deprimente. Quer dizer, é o que é. Como sociedade civil, como sírios que vivem na Europa e na América, estamos aqui apenas para dizer aos europeus ocidentais que vocês não podem deixar 10 milhões de pessoas ou mais de 10 milhões de pessoas morrer de fome porque não querem agir. Não precisamos de nenhuma ação militar vossa, zero! Ação militar, interferência zero. Mas vocês não podem ignorar este caso, porque não sabemos como vão ser as consequências nessa área do mundo. Ninguém sabe. Portanto, quanto mais rápido chegarmos a uma solução política, melhor para todos. Ignorar isso não ajuda ninguém.
Acordo político com mudança de regime?
Vamos falar sobre mudança de regime. Temos a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que fala sobre uma transferência gradual, pacífica, organizada de poder, pelo menos até as eleições sob a supervisão da ONU, sob um novo padrão de fazer eleições, com transparência, esse tipo de coisas. Portanto, estamos a pedir aos europeus ou à comunidade internacional que implementem o que acordaram. O país já está destruído. Então, qualquer intervenção militar não vai mudar nada, só piora muito. Em vez disso, os europeus ou os americanos deveriam colocar mais pressão sobre o Irão e a Rússia para começar a fazer algo politicamente, dar confiança ao povo e aí, sim, nós voltaremos, o que ninguém está a fazer agora.

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