Biden pede colaboração com Republicanos "para terminar o trabalho" em discurso otimista

Numa altura em que procura relançar a economia do país, o presidente norte-americano tentou acalmar a ansiedade económica que afeta uma parte significativa da população dos EUA, pedindo a colaboração da oposição.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, entregou um discurso otimista e de unidade no seu segundo Estado da União, pedindo aos Republicanos que trabalhem em conjunto com o seu Governo "para terminar o trabalho".

Num momento em que procura relançar a economia do país, Biden tentou acalmar a ansiedade económica que afeta uma parte significativa da população norte-americana, pedindo na terça-feira a colaboração da oposição.

"Aos meus amigos Republicanos, se pudemos trabalhar juntos no último Congresso, não há razão para não trabalharmos juntos neste novo Congresso. As pessoas enviaram-nos uma mensagem clara. Lutar por lutar, poder pelo poder, conflito pelo conflito, não nos leva a lugar nenhum", disse o chefe de Estado.

Foi a primeira vez que Biden se dirigiu ao Congresso desde que os Republicanos conquistaram o controlo da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento dos Estados Unidos, nas intercalares do ano passado.

"Essa sempre foi a minha visão para o país. Restaurar a alma da nação, reconstruir a espinha dorsal da América: a classe média, unir o país. Fomos enviados aqui para terminar o trabalho", frisou o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).

Em declarações à TSF, Diana Soller, investigadora do instituto português de relações internacionais, considera que este foi um discurso "otimista", mas que deixa algumas dúvidas.

"Esse lado tão otimista não me parece condizer nem a com aquilo que a América é neste momento, nem aquilo que vai ser nos próximos dois anos. Portanto, é um discurso virado para o futuro, mas não estou certa que seja um futuro absolutamente realista e como bases sólidas para se concretizar."

Embora Biden não tenha feito qualquer referência a uma eventual recandidatura, Diana Soller diz que o discurso do Estado da União fez lembrar um discurso de lançamento de campanha.

"Parece-me que é um discurso de lançamento de campanha eleitoral. Não é que os discursos do Estado da União não sejam discursos que normalmente até certo ponto laudatórios daquilo que cada administração fez até ao momento, mas neste caso vai no sentido muito mais de um futuro e de um conjunto de soluções que ainda estão por alcançar."

Embora ainda não tenha anunciado oficialmente os seus planos para as presidenciais de 2024, Biden já afirmou que tenciona recandidatar-se e era esperado que adotasse um discurso de tom eleitoral no Estado da União.

Biden optou por dar especial destaque às conquistas económicas e legislativas que alcançou ao longo dos últimos dois anos e lançou o mesmo apelo várias vezes ao longo do discurso: "Vamos terminar o trabalho".

"Nos últimos dois anos, o meu Governo reduziu o défice em mais de 1,7 biliões de dólares [1,58 biliões de euros] - a maior redução de défice na história americana. No Governo anterior, o défice americano aumentou quatro anos consecutivos. Por causa desses números recorde, nenhum Presidente acrescentou mais à dívida nacional em quatro anos do que meu antecessor", disse Biden, referindo-se a Donald Trump.

"Quase 25% de toda a dívida nacional, uma dívida que levou 200 anos para ser acumulada, foi adicionada apenas por esse Governo", acrescentou, sendo apupado pelos Republicanos presentes no Congresso.

Apesar de ter defendido uma colaboração com os Republicanos, Biden ameaçou a oposição com vetos à legislação.

"Não se enganem. Se o Congresso aprovar uma proibição nacional do aborto, eu irei vetar. (...) Se tentarem fazer alguma coisa para aumentar o custo dos medicamentos prescritos, vou vetar", avisou.

Durante mais de uma hora, Biden apresentou-se perante ambas as câmaras do Congresso dos Estados Unidos, num discurso que começou pouco depois das 21h00 (02h00 de hoje em Lisboa), numa das cerimónias mais importantes da política norte-americana.

Tentando transmitir uma mensagem de esperança e de prosperidade económica, o Democrata afirmou que os Estados Unidos estão "em melhor posição do que qualquer país do mundo" para reanimar a economia, apesar dos efeitos da guerra na Ucrânia e da pandemia de Covid-19.

O líder norte-americano dirigiu-se aos "lugares e pessoas que foram esquecidos", em referência à classe trabalhadora que tradicionalmente foi a base do Partido Democrata e que, nos últimos anos, se aproximou mais dos Republicanos e de Donald Trump, em particular.

"Enquanto estou aqui, criámos um recorde de 12 milhões de novos empregos - mais empregos criados em dois anos do que qualquer Presidente jamais criou em quatro anos", afirmou.

Para Diana Soller, "Biden apresentou como solução para a economia americana e como razão de crescimento da economia americana um protecionismo que já vinha há efetivamente de Donald Trump, mas que Biden parece apreciar."

Esse caminho, aponta, "é muitíssimo negativo para a Europa porque acaba por tornar a Europa um bocadinho refém desse protecionismo americano que que fará tendencialmente as exportações europeias para a América cair".

O ênfase de Biden nos seus feitos económicos ocorre num momento de fortes críticas por parte da oposição Republicana à sua política económica.

A Casa Branca e os Republicanos do Congresso estão atualmente a travar um debate sobre o aumento do teto da dívida, sem saída imediata à vista, já que cada lado se isola na sua posição.

Os Republicanos exigiram que o Governo Democrata aprove cortes orçamentais em questões como saúde ou educação para que deem 'luz verde' no Legislativo à suspensão do limite da dívida, que atualmente é de 31,4 biliões de dólares (cerca de 29 biliões de euros) e que foi atingido a 19 de janeiro.

Referindo-se ao ataque ao Capitólio perpetrado por apoiantes de Trump em janeiro de 2021, Biden saiu em defesa da Democracia norte-americana.

"Há dois anos, a nossa democracia enfrentou a sua maior ameaça desde a Guerra Civil. Hoje, embora lesada, a nossa democracia permanece inflexível e intacta", disse em tom firme.

Abordando temas fraturantes nos EUA, o Democrata aproveitou para defender o direito ao aborto, uma reforma abrangente da imigração, a proibição de acesso a armas semiautomáticas e criticou a violência policial, na presença da mãe e do padrasto de Tyre Nichols, um jovem negro que foi recentemente espancado mortalmente por agentes das forças de segurança norte-americanas.

"Não há palavras para descrever o desgosto e a dor de perder um filho. Mas imagine como é perder um filho às mãos da lei", disse Biden, num dos momentos mais emocionantes da noite, sendo aplaudido de pé.

Joe Biden terminou o discurso com uma mensagem de confiança: "Enquanto estou aqui, nunca estive tão otimista sobre o futuro da América. Só temos que nos lembrar quem somos. Somos os Estados Unidos da América e não há nada além da nossa capacidade se trabalharmos juntos. Que Deus vos abençoe a todos. Que Deus proteja as nossas tropas", concluiu.

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