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Desde o final da última semana que o número de camiões parados à beira da estrada para atravessar o Canal da Mancha voltou a disparar. A chegada ao fim do prazo para as negociações de um acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia está a fazer aumentar a preocupação das empresas.
Na estrada, as filas prologam-se no lado inglês, no acesso ao porto de Dover e ao Eurotúnel, mas também no lado francês, em Calais.
Parado nestas filas esteve o português Rogério Nunes, motorista de mercadorias. Foi a Inglaterra no último fim de semana e levou cerca de seis horas à espera para entrar no país. Agora está em França e, em declarações à TSF, admite que, com o aproximar do fim do prazo para o acordo pós-Brexit, o fluxo de camiões cresce cada vez mais.
"As empresas querem aumentar o stock porque, entretanto, vai começar a haver alfândegas e tudo isso vai atrasar. Há camiões que vão estar dois a três dias parados no mesmo sítio", frisa.
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O motoristas Rogério Nunes explica que as empresas estão com receio das alfândegas
Mas estes atrasos na estrada não significam apenas perda de tempo. Podem significar também perda de negócios. Rogério Nunes explica como a situação tem implicações para as mercadorias e, consequentemente, para as empresas e para os trabalhadores.
"Imagine que na Mauritânia apanham 30 paletes de morangos na quarta-feira. Com o tempo de transporte, chegam ao Norte de França no domingo de madrugada. Imagine que perdemos ali [no Canal da Mancha] sete, oito ou até dez horas. O morango vai chegar ao consumidor na terça-feira da semana seguinte. Já perdeu a qualidade. E depois, quanto tempo pode estar na prateleira do supermercado?", questiona o motorista.
"Agora imagine que chego a um supermercado para descarregar e o controlo de qualidade diz: "Não, isto não serve para nós. Tem de ser devolvido". Vai ser o motorista que vai ser posto em causa, porque demorou muito tempo, quando não teve nada a ver com isso", lamenta.
Mercadorias correm o risco de já não chegar em condições às prateleiras dos supermercados
Para já, este continua a ser o cenário que mais se afigura como o do futuro, uma vez que o Reino Unido e a União Europeia ainda não conseguiram chegar a um acordo para salvaguardar estas matérias. As negociações deveriam ter terminado no último domingo, mas foram prolongadas. Agora, são mais as vozes que falam num não-acordo do que aquelas que admitem um entendimento antes do final do ano.