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"Temos quatro ou cinco pessoas no mesmo quarto ou na mesma cama. Comem no chão, porque não há espaço para uma mesa na cozinha. Há fendas nas janelas, paredes enferrujadas. O frio entra, o que quer dizer que as crianças não conseguem dormir ou ficam doentes e faltam às aulas."
A descrição de Alex Firth lembra-nos a Londres de Charles Dickens, mas o coordenador da Human Rights Watch (HRW) fala no presente. Nos dias de hoje, há crianças a viver em casas sem condições, nos alojamentos temporários para onde são encaminhadas pelas autoridades municipais.
O problema é denunciado num relatório conjunto da HRW e da Childhood Trust, que entrevistou 75 pessoas, que vivem ou viveram num alojamento temporário. "Encontrámos padrões consistentes de casas temporárias de má qualidade a serem dadas pelos concelhos locais", afirma Alex Firth. Na maioria, as casas estão sobrelotadas, degradadas e a falta de isolamento faz crescer a humidade e o mofo tóxico nas paredes. "Uma menina de 7 ou 8 anos, que tinha mofo sobre a cama, ficou com apneia de sono e teve de fazer várias operações ao nariz", conta Alex. Devido ao frio que entrava pela janela, outra rapariga, de 15 anos, ficou em hipotermia e esteve dois meses sem ir à escola, lê-se no relatório "I want us to live like humans again" (Quero que possamos viver como humanos outra vez).
Ouça aqui, na íntegra, a entrevista da TSF com Alex Firth
"Deixamos quase de nos sentir pessoas", relata uma mulher que viveu num alojamento temporário, onde pendurava o router em cabos eléctricos destapados no tecto, para que o filho pudesse usar a Internet, nos trabalhos da escola. As crianças estão em maior risco e os seus direitos estão a ser violados, alertam a HRW e a Childhood Trust, que acusam o governo britânico de falhar na política de habitação e na protecção destas famílias.
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"A pobreza infantil está num nível muito elevado", salienta Alex Firth. "Há cada vez mais famílias sem casa, que não conseguem pagar a renda ou estão a fugir da violência doméstica." Pelas contas da HRW, na última década, o alojamento temporário subiu 55% e a pandemia veio agravar o cenário. Londres tem os "níveis de pobreza infantil mais altos do país. É uma cidade profundamente desigual", acrescenta Alex Firth, que pede urgência nas medidas, porque a situação "está a piorar, à medida que as temperaturas caem e a inflação sobe (...) Precisamos, desesperadamente, de mais habitação permanente a custos comportáveis, em especial habitação social. É uma necessidade desesperada em Londres e no resto do país".
Em Inglaterra, 96 mil famílias em situação de sem abrigo vivem em alojamentos temporários.
* A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico