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Crianças, jovens e idosos. São famílias inteiras que chegam de países como a Síria, Iraque ou Afeganistão que fogem de guerras e perseguições. Muitos querem reencontrar familiares que já estão na Europa, mas têm a porta fechada ou, melhor, aberta demasiadas vezes. É o que explica um voluntário polaco que ajuda os migrantes na fronteira.
"Eles atestaram que foram empurrados de volta para a Bielorrússia pelos guardas na fronteira com a Polónia, mas depois foram outra vez apanhados pelos guardas da Bielorrússia e forçados novamente a entrar na Polónia. De certa forma ficaram encurralados", afirma à TSF.
O voluntário conta que os migrantes encontrados na fronteira estão muito mal.
"Eles precisam de comida, água, ajuda médica, primeiros socorros e cuidados de higiene. Alguns deles estavam até já em estado de hipotermia", desabafa o voluntário.
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Prestar apoio a pessoas nestas condições é agora muito difícil. O governo vedou a zona da fronteira às associações humanitárias.
"Isto ainda está a acontecer, esta crise humanitária na fronteira continua. Estamos a apelar ao governo e à União Europeia que permitam que as organizações profissionais de ajuda humanitária trabalhem porque, neste momento, isso não é possível de todo. Ao longo de todo o lado polaco da fronteira foi criada, pelo governo, uma zona interdita.
É baseada no estado de emergência que, arbitrariamente, suspende as regras democráticas", revela.
O que os voluntários têm feito é levar comida, roupas e medicamentos até aos habitantes daquela zona, que depois as entregam a quem precisa.
"Ficou tudo nos ombros da população local que vive nesta região da fronteira e eles têm feito o melhor que têm para dar alguma ajuda porque veem as condições em que estas pessoas, estes migrantes, estão", ressalva.
O voluntário afirma que a situação é insustentável e apela a que sejam respeitadas as leis internacionais.
"É ilegal, é contra as regras empurrar as pessoas de volta para este país nesta situação. Eles têm de receber ajuda humanitária básica e de serem colocados sob os procedimentos normais para quem pede asilo. Talvez consigam receber asilo ou a decisão ser o repatriamento, mas pelo menos seria tudo de uma forma segura e civilizada", sublinha o voluntário.
Se nada fizerem, a Polónia e a União Europeia limitam-se a jogar pelas regras da Bielorrússia, avisa.
"Isto é responsabilidade nossa. Lidar com a situação de uma forma que não vai alimentar a escalada de atenção e o conflito e de uma forma que dê prioridade à segurança destas pessoas que foram vítimas de abusos nesta situação criada pelo regime bielorrusso. Empurrá-las de volta não só é ilegal como é cruel, desumano e é arriscar estas vidas", acrescenta.
As organizações humanitárias já apresentaram um processo no tribunal penal internacional para que os crimes contra os migrantes na fronteira não fiquem sem resposta.