Coligações coloridas, escândalos e incertezas. "Super ano eleitoral" arranca este domingo na Alemanha

O "Super ano eleitoral" na Alemanha arranca com a ida às urnas, este domingo, nas regiões de Bade-Vurtemberga e Renânia-Palatinado. "Verdes" e "SPD" são apontados como os vencedores, "CDU" deverá perder votos, mas não quer perder fôlego para as eleições gerais de 26 de setembro.

Será um ano "muito relevante", sublinha à TSF Uwe Jun, professor de Ciências Políticas, e diretor do Instituto para a Democracia e Investigação Partidária de Trier (Trierer Instituts für Demokratie- und Parteienforschung). Um ano que começa com duas eleições regionais, já este domingo, e termina a 26 de setembro com a escolha de um novo chanceler, lugar ocupado nos últimos 16 anos por Angela Merkel.

"O eleitorado alemão está preparado para uma mudança, e os Verdes estão completamente disponíveis para integrar o próximo governo. Têm uma liderança muito moderada e pragmática, e tentam tudo para dar a imagem de que conseguem governar. Depois de 16 anos na oposição, o grande objetivo agora é chegar ao poder nas próximas eleições", revelou.

As votações regionais nos estados de Bade-Vurtemberga e Renânia-Palatinado, marcadas para domingo, assinalam o início de um "super ano eleitoral" na Alemanha, com o resultado das legislativas de setembro ainda indefinido.

São as primeiras duas regiões a escolher um novo governo, seguindo-se os estados da Alta Saxónia, a 6 de junho, e Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, Turíngia e Berlim, no mesmo dia das legislativas, a 26 de setembro. Além disso, decorrem ainda eleições municipais em Hesse, no próximo domingo, e na Baixa Saxónia a 12 de setembro.

"Acredito que a CDU continue a ter um lugar de extrema importância este ano, mesmo que perca as duas eleições regionais deste domingo. Esta derrota estará muito ligada a fatores regionais e à grande popularidade que têm os dois ministros-presidentes da Renânia-Palatinado e de Bade-Vurtemberga, e não tanto os desenvolvimentos nacionais", adiantou Uwe Jun.

A Renânia-Palatinado, estado federado com cerca de 3,1 milhões de eleitores, decide, no domingo, a continuação da coligação "semáforo" no poder, formada pelos Partido Social Democrata (SPD), os Verdes e os liberais do FDP.

De acordo com as últimas sondagens, o partido de Malu Dreyer deverá conseguir entre 30% a 33% dos votos, ultrapassando muito ligeiramente a União democrata-cristã (CDU).

O estado alemão de Bade-Vurtemberga, o único a ter um ministro-presidente dos "Verdes", vai a votos no domingo com o partido no poder à espera de um resultado histórico.

Winfried Kretschmann, do partido "Grüne", que governa a região de Bade-Vurtemberga, obteve, nas eleições de 2016, 30,3% dos votos. Agora, e de acordo com as últimas sondagens, pode chegar ao resultado histórico de 35%, com uma diferença de quase 10% em relação ao segundo partido mais escolhido, a União democrata-cristã (CDU).

O estado de Bade-Vurtemberga tem cerca de 7,7 milhões de eleitores. Os "Verdes" e o Partido Democrático Liberal (FDP) são os únicos que ganham em votos, segundo os mais recentes estudos. Todas as restantes formações políticas perdem apoiantes em relação ao último escrutínio de há quatro anos.

A CDU, que obtinha 27% em 2016, não vai além dos 25%. Já o SPD desce de 12,7% em 2016 para 10% agora. O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) passa de 15,1% para 12% das preferências.

"Penso que a CDU ainda tem grandes hipóteses de ser o partido mais forte nas eleições de setembro, mas, para isso tem de escolher qual o candidato que será mais bem-sucedido, Armin Laschet, recém-eleito líder do partido, ou Markus Söder, ministro-presidente da Baviera. Penso que ambos têm boas hipóteses de vencer e de chegar à chancelaria", sublinhou Uwe Jun.

"Os Verdes ocupam um lugar de relevo, e eles estão dispostos a formar uma coligação com a CDU. Mas há outras opções. Se este governo da CDU não cumprir com as expectativas este ano, restaurando a normalidade no país e resolvendo os problemas económicos, então isso não deixará o partido num bom lugar", apontou o politólogo.

O escândalo da venda de máscaras, que envolveu dois deputados da União Democrata-Cristã (CDU) e do partido irmão na Baviera, a CSU, deverá ter um impacto negativo para o partido de Merkel nas eleições regionais deste domingo.

Os deputados Nicolas Löbel, da CDU, e Georg Nüsslein, da União Social Cristã (CSU) estão a ser investigados pelo Ministério Público por terem lucrado milhares de euros pela mediação ou recomendação ao governo da compra de máscaras a determinadas empresas.

Löbel, que admitiu ter lucrado 250 mil euros com as vendas, deixou a CDU e renunciou ao seu lugar no parlamento alemão, admitindo publicamente o erro. Já Nüsslein, apesar de se ter afastado do partido, revelou querer manter o seu assento no Bundestag como independente.

"Penso que este escândalo, como lhe chamam, não é muito relevante. Estão em causa duas pessoas que o eleitorado alemão comum não conhece, por isso considero que, se nada mais acontecer nas próximas semanas, isto não irá afetar as eleições de setembro", considerou.

Uwe Jun acredita que o eleitorado alemão está "cansado" da grande coligação que governa o país, formada pela CDU-CSU e SPD, e isso será o principal fator a ter em conta em setembro.

"Em 12 dos últimos 16 anos, a Alemanha foi governada por uma grande coligação, e mesmo os quatro anos de Angela Merkel com os Liberais no poder já pouco permanecem na memória das pessoas. Por isso um novo chanceler, com um governo formado pela CDU e pelos Verdes, algo que seria impensável há anos, seria ótimo para satisfazer este desejo de mudança", adiantou o professor de Ciências Políticas.

As eleições nos estados federados alemães da Renânia-Palatinado e em Bade-Vurtemberga estão marcadas para este domingo. A Alemanha escolherá o próximo chanceler a 26 de setembro deste ano.

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