Perto de um milhão de pessoas estão este sábado de volta às ruas em França para um dia de protestos contra o aumento da idade da reforma. Para já, os sindicatos esperam conseguir forçar Emmanuel Macron a recuar enquanto o Parlamento debate outras medidas inseridas no pacote laboral, com a Assembleia Nacional e o Senado a avançar para uma votação final ainda este mês.
Em Paris, mostram as imagens das televisões francesas, há já vários episódios de confronto entre manifestantes e polícia, com vários focos de incêndio e material destruído nas ruas. Os organizadores do protesto estimam que estejam 300 mil pessoas na cidade.
As autoridades policiais dizem que na capital francesa foram detidas 26 pessoas e que, entre os manifestantes, se encontravam encapuzados que atacaram diversos estabelecimentos comerciais.
Rafael Rodrigues é comerciante no centro da capital francesa e descreveu este sábado, em declarações à TSF, os efeitos que estes protestos têm tido.
"Há mais de uma semana que há greves e muitas manifestações" e um dos serviços que está em greve é o da "recolha do lixo", o que em Paris "é muito, muito complicado".
Nas ruas da capital francesa vê "por enquanto um cortejo, sem manifestações selvagens", mas teme que com o avançar do tempo possa haver "problemas" com a polícia, à imagem "do que já aconteceu com os coletes amarelos".
Com o aumento da idade mínima de reforma para os 64 anos já aprovado pelo Senado francês, Rafael Rodrigues teme que uma posição de força do Governo francês possa aumentar a contestação a curto prazo.
"Se o Governo não ouvir o que se passa na rua, se calhar depois vai ser um pouco pior, não sei o que se vai passar", confessa o comerciante, lamentando que seja "sempre em Paris que se sofre mais".
Sindicatos acusam Governo de "brincar com o fogo"
Os sindicatos franceses acusam o Governo de "brincar com o fogo" ao ignorar a forte contestação social às alterações ao sistema de pensões e reformas, considerando que a posição do executivo francês é "uma provocação".
"O que é preciso fazer mais?", questionou-se Philippe Martínez, líder da confederação sindical CGT, na frente da manifestação que percorre Paris esta tarde, naquela que já é a sétima jornada de grandes mobilizações nacionais desde janeiro contra a alteração do sistema de reformas.
Martínez foi mais além e desafiou o Governo de Emmanuel Macron a consultar os cidadãos, se está tão seguro que a sua iniciativa é a necessária e a única possível.
"Hoje a única coisa que podemos dizer é: se [Macron] está tão seguro de si mesmo, que consulte os franceses", disse o líder da CGT, em resposta à postura do presidente francês face à contestação nas ruas dos sindicatos, que esta semana pediram, sem êxito, ser recebidos no Eliseu.
Também Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) afirmou, na manifestação de hoje, que os que dirigem o país "devem abandonar esta forma de negação do movimento social", apelando também a uma consulta aos franceses.
"De tanto se brincar com o fogo, fazem-se disparates", advertiu o sindicalista.
Os sindicatos adiantaram que esperam uma grande jornada de luta, porque o apoio ao movimento social contra a reformas das pensões é, nas palavras de Martínez, "mais do que absoluto".
Disseram também que, apesar de o processo parlamentar prosseguir de forma acelerada, a batalha ainda não está perdida e prometeram seguir com a contestação nas ruas, mas sem cair "na violência e na radicalidade", garantiu Berger.
O que está em causa?
Na quinta-feira, o Senado francês, com a maioria de direita, votou o adiamento da idade mínima de reforma de 62 para 64 anos, o principal ponto da alteração proposta pelo Governo para o sistema de pensões.
A votação aconteceu no final de uma maratona parlamentar de 15 horas de discussão sobre aquele artigo, tendo a esquerda apresentado centenas de emendas para impedir o debate e a direita recorrido a um dispositivo excecional para as ultrapassar.
Além do processo parlamentar, que pode terminar na próxima semana, o grande obstáculo para Macron têm sido os protestos na rua, organizados por todos os sindicatos, reunidos numa união considerada sem precedentes em França.
O Governo justificou o aumento da idade de reforma para responder à degradação financeira dos fundos de pensões e ao envelhecimento da população.
Uma sondagem publicada pela BFMTV este sábado revelou que 63% dos franceses aprovam os protestos contra as iniciativas do Governo e 54% são também a favor das greves e bloqueios em alguns sectores.
Cerca de 78%, no entanto, dizem acreditar que Macron acabará por conseguir que a reforma seja adotada.