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É a primeira visita de alto nível em dois anos. O chefe da diplomacia grega vai encontrar-se com o seu congénere Mevlüt Çavuşoğlu, um dia depois do inicialmente previsto, por força de compromissos de ambos, com uma reunião da Aliança Atlântica. Dias antes de sair de Atenas, Dendias louvou a "atitude positiva de Ancara, que exprimiu a intenção de relançamento das relações bilaterais", nomeadamente sobre o diferendo marítimo no Mediterrâneo oriental, que tem décadas. Este ano, já houve - por pressão da União Europeia - dois encontros entre as partes, após cinco anos de total ausência de diálogo.
As últimas negociações, a 15 de março, foram ensombradas por uma nota da diplomacia turca, enviada na véspera, endereçada a Israel, Grécia e à União Europeia, afirmando que os trabalhos de construção de cabos submarinos no Mar Mediterrâneo, numa zona de águas disputadas entre os dois países, carecem de autorização por parte da Turquia.
A complexidade da questão vem do facto de essas águas serem consideradas uma possível fonte de reservas de gás natural. A Turquia alega que a Grécia, indevidamente, reivindica grandes extensões dos mares Egeu e Mediterrâneo.
Ouça aqui a antecipação do encontro
Há uma série de outros assuntos que mancham a relação entre Grécia e Turquia, incluindo a extensão das respetivas plataformas continentais, os voos sobre o mar Egeu, para além da histórica questão de Chipre, a ilha dividida entre cipriotas gregos e cipriotas turcos (cuja república, na parte norte, só é internacionalmente reconhecida - e financeiramente apoiada - pela Turquia). Mas não só. Também as divergências relacionadas com o fluxo migratório no mar Egeu têm marcado a agenda da discórdia entre dois dos parceiros da NATO que, proporcionalmente, mais investem em defesa, com Atenas a acusar Ancara de facilitar a saída de migrantes das suas costas e Ancara a denunciar as "devoluções imediatas" de refugiados por parte da guarda costeira grega.
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O país de Erdogan, que tem a mais longa linha costeira no Mediterrâneo oriental, rejeita as alegações quanto a fronteiras marítimas feita por gregos e cipriotas, alegando que o excesso de reclamações viola os direitos turcos, e também da República Turca do Norte do Chipre.
Apesar da reunião prevista para esta quinta-feira, nos últimos dias, Atenas e Ancara não evitaram sinais de intransigência face ao principal ponto de discórdia, a delimitação das zonas económicas exclusivas (ZEE) no Mediterrâneo, onde os dois países pretendem promover prospeções e a exploração de jazidas de gás natural.
Ancara contesta o facto de a Grécia querer projetar uma zona económica a partir das suas ilhas, como estabelece a lei marítima internacional, reclamando que a partilha das ZEE também contemple a longitude das zonas costeiras continentais. Com o objetivo de dar uma dimensão internacional à sua reivindicação, a Turquia assinou, em dezembro de 2019, com o Governo da Líbia, um memorando que fixa o limite entre as ZEE dos dois países (descrito no início da semana pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, e pelo novo primeiro-ministro interino da Líbia, Abdul Hamid Dbeibah, como "benéfico para ambos os países"), numa zona também reclamada pela Grécia, e com Antenas a responder através de um acordo similar com o Egito. Aliás, no mesmo dia do encontro entre Erdogan e o novo chefe do governo líbio, o MNE grego Dendias deslocou-se à Líbia, onde se reuniu com o vice-primeiro-ministro Hussein Al Qatrani, cerca de uma semana após ter acompanhado o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis numa visita oficial à capital líbia.
As hostilidades entre gregos e turcos atingiram um ponto alto no ano passado, quando Ancara enviou um navio de pesquisa acompanhado por uma flotilha da marinha para águas próximas à costa turca que a Grécia afirma pertencer-lhe, reivindicação apoiada pela UE.
A imprensa turca alega que os líderes do país têm "enfatizado repetidamente" que Ancara é a favor de resolver os problemas pendentes na região por meio do "direito internacional, relações de boa vizinhança, diálogo e negociações", pode ler-se no Daily Sabah (Diário da Manhã, jornal pró governamental na Turquia). "Em vez de optar por resolver os problemas com Ancara por meio do diálogo, Atenas, em várias ocasiões, recusou-se a sentar-se à mesa de negociações e optou por juntar-se a Bruxelas, numa postura mais dura contra a Turquia", refere o matutino.
Na visita à Turquia, o ministro Denias não vai deixar de visitar o líder da igreja ortodoxa grega em Istambul.