Crise sanitária ameaça Festa do l'Humanité pela primeira vez

A Festa do l'Humanité, festival político-cultural criado em 1930, pode vir a não acontecer em setembro, pela primeira vez desde a Libertação, por causa da epidemia do coronavírus.

A Festa do l'Humanité, manifestação cultural e musical emblemática de esquerda, organizada anualmente, no mês de setembro, no Parque de la Courneuve, na região parisiense, pelo jornal quotidiano Humanité, pode vir a ser anulada devido à crise sanitária consequente da epidemia do coronavírus.

Patrick Le Hyaric, diretor do quotidiano Humanité confirma uma situação sanitária "instável" e "imprevisível", "a festa está programada para os dias 11, 12 e 13 de setembro, mas temos 50% de risco que ela não aconteça... seria a primeira vez desde o fim da Segunda Guerra mundial".

A organização depende de autorizações decretadas pelas autoridades competentes, como confirma Le Hyaric, "dependemos evidentemente de autorizações... devemos ter mais informações no início do mês de Junho", tendo em conta o anúncio de uma segunda fase, com novas medidas de levantamento do confinamento.

O presidente no jornal Humanité confirma os riscos que corre ao manter o evento, "mesmo que tenhamos luz verde para avançar, se as autoridades mudarem de ideias durante o verão, porque por exemplo há uma nova vaga de contaminações, será um enorme risco a correr, para nós. Começamos agora a investir fundos... em caso de anulação, são fundos que não recuperamos e o nosso jornal, tanto quanto os outros organizadores, não podem permitir-se esse risco".

Todos os anos, vários representantes do Partido Comunista e associações que lhes são próximas encontram-se para debater os problemas atuais da sociedade. Mais do que um evento político, esta festa popular convida sobretudo a concertos, mas também à descoberta de atividades culturais e de divertimento, tais teatro, leitura, desporto, exposições e gastronomia.

No passado dia 28 de abril, o primeiro-ministro francês Edouard Philippe anunciou na Assembleia da República que "todos os eventos de mais de cinco mil pessoas são interditos até Setembro", o que levou à anulação de muitos festivais, tais o Festival de Cannes, Avignon, Solidays, We Love Green, ou o Days Off 2020, na Filarmônica de Paris.

Octávio Espírito Santo, diretor de fotografia de cinema, ativista político associativo, confirma que "a Festa do l'Humanité não é só um simples festival de música ou de teatro, é polivalente, foi durante muitos anos uma fonte de receitas para o partido comunista francês mas principalmente um meio de divulgação das suas ideias".

O evento contabilizou a participação de 600 000 pessoas em 2019, sejam 200 000 pessoas por dia. Nesta medida, e tendo em consideração a situação sanitária atual, mesmo que o evento aconteça, a famosa "Vila do Mundo", que reúne tradicionalmente os stands de partidos e associações de esquerda vindos do estrangeiro, será seguramente sacrificada, sendo muito dificilmente concretizável.

"Macron e o seu governo dirigem cada vez mais de uma forma Monárquica a República", afirma Octávio Espírito Santo, confirmando que lhe parece crucial um debate de ideias neste momento, num festival que pediria adaptações às circunstâncias, "com certeza não são 500 000 pessoas a frequentar o l'Humanité, com certeza será mais virado para questões políticas e de gestão. Se as condições o permitem, e dentro da criatividade do momento", defende a realização da "Festa de l'Humanité, para o jornal e para as organizações políticas que a apoiam" tanto quanto "em Portugal, a Festa do Avante!".

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