Da COP26 à polémica das minas. O ano de 2021 no Ambiente foi só "blá, blá, blá"?

No ano em que se realizou a mais antecipada cimeira do clima de sempre, poucos passos foram dados para, de facto, travar a crise climática. Em Portugal, foi aprovada a Lei de Bases do Clima e terminou a produção de eletricidade a carvão, mas o país também não passou sem uma polémica.

No Ambiente, 2021 foi um ano de recordes, mas não dos melhores... Houve ondas de calor históricas -- com as temperaturas a rondarem os 50ºC, em vários pontos do mundo --; pela primeira vez, desde que há registo, caiu chuva (em vez de neve) no pico do manto de gelo da Gronelândia; e, segundo os especialistas, os fenómenos extremos, desde os incêndios às cheias, são o "novo normal".

A Organização Meteorológica Mundial alertou para um recorde da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera e a pandemia de Covid-19 só veio agravar ainda mais a situação. O consumo de produtos de proteção individual, como luvas e máscaras, aliou-se ao crescimento das compras online, e ao consequente aumento de consumo de embalagens e também de recipientes de plástico para 'take-away', traduzindo-se em claros impactos ambientais. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, as máscaras e luvas estão agora nas ruas, nas praias, nos rios e no mar, podendo transformar-se em microplásticos e causar um desastre ambiental.

Ao mesmo tempo, o "desconfinamento" inundou as cidades de pessoas que, sempre que puderam, optaram pelo carro pessoal, em vez dos transportes públicos, para evitar ajuntamentos. O resultado? Na capital portuguesa, por exemplo, a poluição dos carros na Avenida da Liberdade disparou, voltando a superar os limites previstos na lei.

Perante este cenário, a conferência do clima das Nações Unidas, a COP26, assumiu uma importância sem precedentes. Perto de 200 países reuniram-se em Glasgow, na Escócia, em novembro, para discutir o combate à crise climática.

Na altura, o secretário-geral da ONU, António Guterres, incitou os líderes mundiais a escutar e a agir, exigindo compromissos sérios por parte das nações participantes. Os resultados, no entanto, ficaram muito aquém do pretendido.

Se é certo que se assistiu a um acordo inédito entre os Estados Unidos e a China para reunir esforços de modo a que a temperatura do planeta aumente mais do que 1,5ºC e compromissos para diminuir a desflorestação, os países mais poluentes - como a China, a Índia e a Rússia - ficaram de fora da promessa de reduzir a poluição por gás metano.

O momento mais marcante da COP26 foi, apesar de tudo, a reviravolta final no documento que visava estabelecer o fim do financiamento da produção de energia pelo carvão. No último minuto, a Índia e a China conseguiram mudar os termos do acordo para "reduzir" -- em vez de "eliminar" - a produção pelo carvão. Nem o próprio presidente da conferência, Alok Sharma, conseguiu esconder a desilusão perante um desfecho tão desapontante e pediu desculpas.

No final, ficou a promessa de os líderes mundiais voltarem a discutir, no próximo ano, compromissos mais duros em relação à diminuição das emissões de gases com efeito de estufa e à ajuda aos países mais pobres e vulneráveis aos desastres climáticos.

A reação aos resultados da cimeira foi consensual. Tanto cientistas como ativistas classificaram como insuficientes e inadequados os passos dados para responder à crise climática. Para a jovem ativista sueca Greta Thunberg, a cimeira não passou de "blá, blá, blá".

Fora das portas das Nações Unidas, a COP26 foi acompanhada pelos protestos da Greve Climática Estudantil. Por todo o mundo, centenas de milhares de jovens faltaram às aulas, em nome de ambiente. Portugal não ficou de fora, com muitos estudantes a saírem à rua.

Além das ruas, a questão climática ocupou também o Parlamento, que aprovou a Lei de Bases do Clima - depois, promulgada pelo Presidente da República. Até 2030, Portugal vai ter de reduzir as emissões em pelo menos 55%, mas o documento vai mais longe e admite até a antecipação da neutralidade carbónica. Na Assembleia da República, o deputado e investigador Alexandre Quintanilha falou em motivo de orgulho, mostrando-se confiante de que esta é uma herança que as próximas gerações vão agradecer.

Mas o tema do Ambiente, em 2021, trouxe também espaço para polémica - desta feita, com a assinatura de contratos para a exploração de minas. O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, foi à Assembleia da República e fez questão de garantir que todo o processo foi legal e transparente.

O ano fica, apesar de tudo, marcado, em Portugal, pelo fim definitivo de uma energia muito poluente. A 20 de novembro, encerrou a central do Pego, em Abrantes, e com ela terminou a produção de eletricidade a partir do carvão. Resta saber se, em 2022, o país consegue pôr as fichas todas nas energias renováveis.

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