Um comboio que transportava produtos químicos tóxicos descarrilou, na noite de 3 de fevereiro, em East Palestine, no leste de Ohio, numa pequena vila com cerca de 4700 habitantes, a cerca de 80 quilómetros a noroeste de Pittsburgh. O acidente provocou um incêndio que danificou 12 carros, sendo que na estrada que liga Madisson, Illionois, e Conway, Pensilvânia, estavam outros 150 veículos. Receando uma grande explosão, devido aos químicos transportados pelo comboio, as autoridades apressaram-se a criar uma zona de evacuação para conseguir neutralizar a carga em chamas.
Segundo o The New York Times, não houve feridos ou mortos neste descarrilamento. No entanto, vários moradores da área relataram fortes dores de cabeça e mal-estar.
Operado pela Norfolk Southern, o comboio transportava produtos químicos e materiais combustíveis, com o cloreto de vinila, um gás tóxico inflamável, a ser uma das maiores preocupações dos investigadores.
De acordo com o jornal norte-americano, um relatório preliminar sobre o que causou o acidente deverá ser conhecido em duas semanas.
Escolas fechadas e residentes retirados do local
Após o descarrilamento, devido ao receio de uma explosão, entre 1500 a 2000 residentes foram obrigados a abandonar a zona e as escolas estiveram fechadas durante uma semana, assim como algumas estradas. A Norfolk Southern fez uma doação de 25.000 dólares (aproximadamente 23 mil euros) para ajudar a Cruz Vermelha norte-americana a montar abrigos e a lidar com o fluxo de pessoas.
Poucos dias depois, os moradores foram autorizados a voltar para casa depois de as amostras de qualidade do ar terem apresentado quantidades de contaminantes abaixo dos níveis preocupantes.
Descarrilamento e incêndio com fumos tóxicos. Quais os impactos ambientais?
A poluição do ar, do solo e da água foram as maiores preocupações dos investigadores. Uma semana após o acidente, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana adiantou que 20 carruagens transportavam materiais perigosos e produtos químicos, entre os quais cloreto de vinila, acrilato de butila, acrilato de etil-hexila e éteres monobutílicos de etileno glicol.
Depois de fazer uma monitorização do ar exterior, bem como do interior de 290 residências, a Agência de Proteção Ambiental não detetou contaminantes em "níveis preocupantes", apesar de os moradores ainda sentirem maus odores.
Devido ao risco de explosão, as autoridades fizeram uma libertação controlada dos materiais tóxicos que estavam em cinco das carruagens. O conteúdo foi depois desviado para uma trincheira e queimado.
Foram também tomadas medidas de precaução em toda a região, principalmente nos locais que usam a água do rio Ohio.
A West Virginia American Water, que fornece serviço de água em 24 estados, não detetou nenhuma alteração na água deste rio. Ainda assim, a empresa instalou uma captação secundária no rio Guyandotte caso fosse necessária uma fonte alternativa.
Numa conferência de imprensa, Tiffani Kavalec, chefe da divisão de águas superficiais da Agência de Proteção Ambiental de Ohio, disse que testes detetaram dois contaminantes químicos em alguns afluentes do rio Ohio.
"Estamos bastante confiantes de que esses níveis baixos não estão a ser passados aos clientes", garantiu, em declarações citadas pelo The New York Times, acrescentando que os processos de tratamento de água devem conseguir filtrar os contaminantes.
"Um desastre ambiental complexo"
Mais de dez dias depois do descarrilamento, o senador JD Vance considerou que este é um "desastre ambiental complexo", que exigirá vários estudos de longo prazo.
"Muitas perguntas permanecem sem resposta, nomeadamente, a qualidade do sistema de travagem usado, a durabilidade das peças de reparo nos comboios e a abordagem regulatória do Departamento de Transportes para o sistema ferroviário do nosso país", disse.
A Agência de Proteção Ambiental de Ohio está a trabalhar numa limpeza em duas etapas, começando com a remoção de materiais do local.
Em 2017, os regulamentos que exigiam atualizações do sistema de travões para comboios que transportavam materiais perigosos foram revogados.
O Departamento de Transporte dos EUA, citado pelo The Guardian, adianta que cerca de 4,5 milhões de toneladas de produtos químicos tóxicos são transportados por comboio, a cada ano, e uma média de 12 mil carruagens que transportam materiais perigosos passam por cidades e vilas todos os dias.
O último acidente ocorreu na cidade de Lac-Megantic, no Quebec, em 2013, quando um comboio desgovernado descarrilou e explodiu, fazendo 47 mortos. Em fevereiro de 2020, um comboio com petróleo bruto descarrilou e explodiu nos arredores de Guernsey, Saskatchewan, e, uma semana depois, um comboio que transportava etanol descarrilou e incendiou-se no Kentucky.
Segundo o grupo de defesa da saúde pública Rail Pollution Protection Pittsburgh, apenas em Pittsburgh houve oito descarrilamento de comboios nos últimos cinco anos.