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Milhares de afegãos têm tentado escapar, desde as primeiras horas da manhã de segunda-feira, depois de os taliban terem tomado a capital, Cabul. Imagens do aeroporto internacional Hamid Karzai International Airport apinhado e de pessoas presas às asas de um avião descrevem, após o abandono dos Estados Unidos da América, um cenário que a imprensa norte-americana compara à partida do Vietname. Pelo menos seis afegãos terão morrido no caos, alguns caindo mesmo dos aviões e outros até abatidos por militares norte-americanos.
André Costa Jorge, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, acompanha com preocupação os últimos acontecimentos, reconhecendo que uma nova crise humanitária é possível. "A porta neste momento já está aberta, mas nesta fase talvez seja a oportunidade para nos prepararmos para o pior, o cenário mais difícil. Estamos a tempo, criando condições para acolhimento de refugiados."
Para o responsável, o Afeganistão tomado pelos taliban "é, do ponto de vista dos direitos humanos, profundamente preocupante".
André Costa Jorge admite que haja uma nova crise humanitária.
"Provavelmente iremos assistir a fuga de pessoas; muitas dessas pessoas tornar-se-ão vítimas do percurso, de maus tratos, vítimas da indiferença e do próprio conflito", alerta André Costa Jorge, ouvido pela TSF. O coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados pede, por isso, que a comunidade internacional demonstre que aprendeu com o passado. "A comunidade internacional não deve criar muros, não deve tornar impossível a deslocação destas pessoas, deve garantir a proteção dos deslocados, concretamente os países vizinhos, mas também a União Europeia", sintetiza. Para isso, salienta, espera deos restantes países "uma atitude, aprendida com o passado, de não tornar estas pessoas mais vítimas do que elas já são".
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O responsável defende que erguer muros não é solução.
André Costa Jorge garante que "levantar muros tornará muito mais difícil a vida dos refugiados e deslocados", e dá o exemplo do que aconteceu na Grécia, quando as fronteiras fecharam e milhares de refugiados, inclusive afegãos, permaneceram em campos no território grego.
Portugal tem adotado uma postura adequada, na perspetiva do coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados. "O Governo português tem estado bem, no sentido em que se ofereceu para participar em programas de acolhimento de refugiados, o que Portugal tem vindo a fazer de uns anos a esta parte." Trata-se de uma "medida positiva, para que as pessoas não fiquem em campos de refugiados, em situações muito precárias e complicadas, como sabemos", argumenta o também diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados.
André Costa Jorge deixa um elogio ao Governo.