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A General Electric anunciou terça-feira que vai deixar de ser um conglomerado e dividir-se em três empresas independentes, focadas na aviação, cuidados de saúde e energia, a culminar um ano de reformatação de um símbolo da indústria norte-americana.
"Acabou", disse Nick Heymann, da William Blair, que segue a GE desde há anos. "Em uma economia digital, não tem espaço", acentuou, para realçar a decisão da GRE, que pode sinalizar o fim dos conglomerados, em termos gerais.
O grupo já se desembaraçou de produtos que quase todos os norte-americanos conhecem, incluindo os eletrodomésticos e, no ano passado, as lâmpadas que a GE faz desde o fim do século XIX, quando foi fundada.
O anúncio desta quarta-feira marca o apogeu dos esforços de desmantelamento, dividindo um império criado nos anos 1980, sob a direção de Jack Welch, um dos primeiros presidentes-executivos (CEO) 'superestrelas'.
A ação da GE tornou-se um dos títulos mais desejados em Wall Street, na época de Welsh, superando regularmente os pares e o mercado em geral. Na década dos 1990, este investimento proporcionou uma rentabilidade de 1.120,6%.
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Durante a era de Welsh, as receitas da GE quintuplicaram e o valor da empresa foi multiplicado por 30.
Os problemas começaram no verão de 2001, nos últimos dias de Welsh à frente do conglomerado.
À medida que a década se aproximava do fim, a GE roçou a ruína, com a chegada da pior crise financeira desde a Grande Depressão.
No centro das vulnerabilidades da GE estava a GE Capital, a vertente financeira do conglomerado.
As ações perderam 80% do seu valor entre o início de 2009 e os primeiros meses de 2009, e só recentemente começaram a recuperar à medida que está a ser desfeito muito do que Welch construiu.
Este ano, a ação está a valorizar 30% à medida que as vendas de ativos do grupo continuam e hoje subiram seis por cento, em sessão com transações elevadas do papel, que alcançou o máximo do ano.
A unidade da GE para a aviação, que é a mais rentável do grupo, vai manter a designação General Electric no nome.
A GE vai separar-se do negócio dos cuidados de saúde no início de 2023 e da energia, incluindo energia renovável, eletricidade e operações digitais no início de 2024.
A decisão de dividir a GE foi bem recebida pelos investidores, tanto no mercado, como pelos que tinham defendido esta mudança.
"A racional estratégica é clara: três empresas cotadas, bem capitalizadas, lideres industriais, cada uma com um foco operacional profundo e muita responsabilidade, uma maior flexibilidade estratégica e decisões de afetação de capital à medida", segundo um comunicado do Trian Fund Management, um dos seus principais acionistas, cujo fundador é administrador da GE.
Heymann disse que o modelo dos conglomerados deixou de funcionar em um mercado onde apenas sobrevivem os rápidos e ágeis.
O presidente executivo da GE, Larry Culp, vai ser o presidente não executivo da nova empresa dos cuidados de saúde, onde a GE vai manter uma posição de 19,9%. Peter Arduini vai ser o presidente-executivo da GE Healthcare, a partir de 01 de janeiro de 2022. Scott Strazik vai ser o presidente-executivo da empresa da energia e Culp vai liderar o negócio da aviação, juntamente com John Slattery, que vai continuar a ser o presidente-executivo.
Culp conseguiu um feito importante este ano, ao reformatar a GE com um negócio de 30 mil milhões de dólares, que integrou o negócio da GE de aluguer de aviões com a irlandesa AerCap Holdings.
Uma vez que este acordo colocou a GE Capital Aviation Services em uma área separada de negócios, Culp essencialmente fechou a atividade da GE Capital, a divisão financeira que quase afundou o conglomerado na sua totalidade durante a crise financeira de 2008.
A empresa divulgou esta quarta-feira que prevê um custo de dois mil milhões de dólares com a separação.
Entre as suas previsões está também a redução da divida em mais de 75 mil milhões de dólares até ao final do ano.
A questão que os analistas agora colocam é a de saber se outros conglomerados vão seguir o exemplo da GE, e avançar com uma "urgência de 'desfundir'", apontou a RBC Capital Markets.
"O anúncio de hoje da GE pode encorajar as administrações de várias outras empresas multi-indústrias para avançarem em movimentos agressivos de simplificação de carteiras, incluindo a Emerson, a Roper Technologies e a 3M", escreveram os seus analistas.