Guerra faz disparar fabrico de próteses em Odessa

Clínica privada de Odessa aumentou entre 20 a 30% a produção. Militares e civis amputados são os principais pacientes

Sob o olhar atento do fisioterapeuta, Anna Ruda-Mazur caminha devagar entre as duas barras paralelas. Pé ante pé, cautelosa, vai calcando o piso azul do aparelho de reabilitação, que range a cada passo dado. A mão esquerda ampara-a no fim da pista de poucos metros. Dá meia volta e recomeça o exercício.

No Centro de Cuidados Protéticos e Ortopédicos Tellus, em Odessa, a ucraniana de 39 anos, diabética, habitua-se à prótese que colocou no pé direito no início do mês, 15 dias antes do previsto. "Já fui amputada em junho, mas houve uma pausa por causa do conflito. Recomendaram-me vir ao Tellus. Há muitos anos, o meu pai esteve noutra clínica com o mesmo problema, mas eu não queria ir para lá. Até na América me recomendaram este centro".

Anna é, por estes dias, uma exceção à regra. Se antes da guerra, o centro clínico produzia próteses para pessoas com deficiência ou doenças crónicas, agora a maioria dos amputados são militares e vítimas colaterais das explosões, bombardeamentos e minas que há um ano varrem a Ucrânia. "O número de pacientes que servimos aumentou, naturalmente, de forma significativa. São militares e civis que sofreram ferimentos", afirma Pylyp Mataovskyi.

De acordo com o vice-diretor para o trabalho médico, as próteses mais procuradas são para os membros inferiores, do pé até à coxa, mas também têm sido feitos muitos dispositivos para substituir antebraços e ombros.

Dois pisos abaixo da sala onde decorre a reabilitação de Anna, o ruidoso som das máquinas anuncia a fábrica onde a magia acontece. Ferramentas, moldes e próteses semi-feitas abundam nas mesas e, junto a uma das portas, um trabalhador afina uma perna de plástico num aparelho giratório. Os componentes que chegam de empresas de todo o Mundo, nomeadamente da alemã Ottobock, da americana Freedom Innovation e da japonesa Nabtesco, são montados e ajustados em Odessa. Cada prótese pode demorar apenas dois dias a fazer. De acordo com Pylyp Mataovskyi, a guerra fez aumentar a produção entre 20 a 30%, mas a clínica perdeu metade dos funcionários, que se mudaram para escapar do conflito. "É suficiente para o trabalho", garante.

Por outro lado, o movimento migratório traz as vítimas para a cidade do Sul da Ucrânia. Chegam de Kherson, Mykolaiv, Lugansk e Donetsk, as regiões mais bombardeadas do país. Tratar de militares amputados é, segundo o ortopedista, a maior preocupação da clínica. "Selecionamos o tipo de equipamento mais adequado para os nossos pacientes, especialmente no que diz respeito aos combatentes. Eles têm equipamento de topo".
Durante a rápida visita à oficina onde são feitos todos os tipos de membros artificiais, Mataovskyi explica que, embora a clínica seja privada, as vítimas da guerra não pagam um cêntimo pela prótese, que é comparticipada pelo Estado ucraniano.

Lá em cima, Anna sobe um degrau de cada vez. Ainda precisa de se apoiar no corrimão, mas trabalha para tornar-se cada vez mais independente. "Em casa, ando a toda a hora, apesar de os médicos me repreenderem. Mas eu sinto-me confortável".

* com Rui Polónio (TSF)

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