- Comentar
Depois de ver a sede assaltada por duas vezes em menos de 15 dias, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) decidiu convocar para o próximo sábado uma manifestação de protesto.
O presidente do Sindicato, Teixeira Cândido, explica à TSF que os ataques aos jornalistas têm-se multiplicado nas últimas semanas, e, além do sindicato, os ladrões também entraram em casa de vários jornalistas. O sindicalista não acredita que sejam roubos comuns, uma vez que em todos os casos apenas os computadores foram levados.
"A pergunta é quem é que está interessado em ter acesso aos computadores dos jornalistas, quem, por que razão e para que efeito. Qual é a utilidade que tem os computadores dos jornalistas para o cidadão comum?", questiona.
Ouça as declarações de Teixeira Cândido à TSF
Esta semana, em Luanda, sete jornalistas foram presos enquanto estavam a "cobrir uma manifestação dos bombeiros". O presidente do Sindicato afirma que a vida dos jornalistas é hoje mais difícil do que antes da subida de João Lourenço ao poder.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"Depois de se terem iniciado os assaltos às nossas residências, qualquer um de nós teme pela vida e integridade física. Hoje são os computadores assaltados, amanhã pode ser a nossa própria integridade física. Quem assalta a residência e não arromba portas e leva computadores, amanhã pode voltar para fazer outra coisa e qualquer um de nós pode temer pela sua vida", sublinha.
Teixeira Cândido diz que todos os jornalistas temem pela vida
O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) considerou esta semana que os profissionais da comunicação social estão a ser "atacados", anunciando uma marcha de repúdio para o dia 17 deste mês.
Teixeira Cândido deu conta, em conferência de imprensa, da ocorrência de dois assaltos este ano, ambos em circunstâncias por esclarecer, tendo nas duas ações sido furtado o computador principal do SJA, com a base de dados.
Segundo o sindicalista, foi feita participação ao Serviço de Investigação Criminal no primeiro assalto, contudo, no "sábado, dia 03 de dezembro, a sede do sindicato voltou a ser assaltada e dela levaram curiosamente o mesmo computador".
"E mais uma vez não há sinais de arrombamento da porta, o cadeado que assegura a primeira porta estava aberto, estava no chão, sem que tivesse sido arrombado, estava tudo intacto, e levaram o computador", referiu.
Teixeira Cândido frisou que a fechadura, comprada num mercado e não numa loja "exatamente de propósito" por suspeita, foi trocada há 15 dias, acrescentando que a sede do sindicato está junto do Ministério do Interior, no terceiro andar de um prédio com vários moradores.
O responsável sindical contou que dois outros jornalistas de um órgão de comunicação social angolano e outro estrangeiro foram igualmente assaltados este ano e foram furtados os computadores.
"Para o Sindicato dos Jornalistas Angolanos, a situação provavelmente seria episódica, seria eventualmente uma situação de menos importância não fosse o facto de, em março deste ano, outros jornalistas terem sido assaltados nas mesmas circunstâncias e das suas residências terem levado computadores", frisou.
Teixeira Cândido salientou que, em março, o jornalista e diretor do jornal Expansão, João Armando, viu a sua casa assaltada, à noite, quando se encontrava a dormir, tendo os assaltantes levado dois computadores.
"Disse o colega João Armando que tinha no seu escritório outras coisas de valor, tinha joias, mas a intenção parecia que era só os dois computadores. A nossa colega da Lusa, Raquel Rio, também viu assaltada a sua casa em março e da sua casa levaram também apenas só o computador", relatou.
De acordo com Teixeira Cândido, outro colega da rádio MFM, Romão de Jesus, depois de ter recebido um telefonema anónimo, em que proferiram ameaças, foi assaltado quando saía da redação para a paragem e levaram o computador.
Depois do primeiro assalto, Teixeira Cândido disse que recebeu uma mensagem na qual perguntavam se tinha percebido o aviso que lhe tinham dado.
"Estamos aqui na presença de um ato que obviamente traduz uma prática que não pode ser um crime de oportunidade, porque o objeto é apenas o computador e só a casa dos jornalistas é que tem sido assaltada", sublinhou.
O secretário-geral do SJA disse que na manhã de hoje o SIC esteve na sede do sindicato, "mas a direção do Sindicato dos Jornalistas Angolanos entendeu que vai fazer uma marcha de repúdio este sábado a uma semana para protestar contra quem quer que seja".
"Porque entendemos que a nossa atividade é legal, o exercício do sindicalismo está na Constituição e a nossa atividade é transparente, é pública, o que nós defendemos é a liberdade de imprensa, porque sem liberdade de imprensa não existimos enquanto profissionais. É verdade que a par disso defendemos condições sociais dignas, mas o nosso escopo fundamental, fundador da nossa identidade, que nos identifica, é a liberdade de imprensa", observou.
Teixeira Cândido considerou que a atividade sindical "não está fácil", relatando os casos de outros sindicalistas, nomeadamente dos sindicatos dos médicos e do tribunal supremo, que sofreram represálias, situações que representam "o condicionalismo que o sindicalismo está a atravessar".
"Para nós não há outra leitura, são vários colegas a sofrerem o mesmo assalto e entendo que sim, estamos a ser atacados. Continuo a manter a fé nos meus colegas que trabalham no sindicato, até que o serviço de investigação nos diga o contrário", salientou.