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Dois norte-americanos capturados na Ucrânia enquanto lutavam ao lado das forças ucranianas "colocaram em perigo" soldados russos e devem ser "responsáveis por esses crimes", referiu esta segunda-feira o porta-voz do Kremlin, em entrevista à estação NBC News.
Dmitry Peskov prestou o primeiro comentário oficial por parte da presidência russa sobre o caso dos dois ex-militares norte-americanos, Alexander Drueke e Andy Huynh, segundo a NBC.
"Eles são mercenários e estiveram envolvidos em atividades ilegais no território da Ucrânia", realçou o porta-voz do Kremlin, em declarações em inglês, acusando os ex-militares de estarem "envolvidos em tiros e bombardeamentos" contra soldados russos que "colocaram a vida destes em perigo".
A mesma fonte acrescentou que estes crimes "devem ser investigados" e os norte-americanos "responsabilizados pelos crimes que cometeram".
Questionado sobre a natureza dos crimes imputados aos dois norte-americanos, Dmitri Peskov admitiu que ainda não são conhecidas as características dos seus crimes, assegurando, no entanto, que não estão abrangidos pelas Convenções de Genebra sobre prisioneiros de guerra por não pertencerem ao Exército ucraniano.
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A televisão estatal russa divulgou na sexta-feira um vídeo de dois militares veteranos dos Estados Unidos, que desapareceram na semana passada enquanto combatiam na Ucrânia, noticiou a agência Associated Press (AP).
As circunstâncias sobre a detenção dos ex-militares e quem os tem sob custódia não são ainda claras, e o porta-voz do Kremlin referiu apenas que estes estão nas "mãos das autoridades".
Sobre se os norte-americanos enfrentam a pena de morte, Peskov referiu apenas que isso "dependerá da investigação".
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, adiantou na sexta-feira que não sabia onde estavam os dois cidadãos, que se terão alistado ao lado de outros combatentes voluntários estrangeiros no Exército ucraniano.
Um porta-voz do Departamento de Estado confirmou no sábado que viu as fotos e vídeos dos dois norte-americanos "que supostamente foram capturados pelas forças militares russas na Ucrânia", assegurando à agência France-Presse (AFP) que o governo está a "acompanhar a situação de perto".
Drueke surge num vídeo a falar para a câmara no que parece ser um escritório, enviando uma mensagem para a sua mãe e onde conclui com uma piscadela de olho rápida.
Segundo Dianna Shaw, tia deste veterano das Forças Armadas dos EUA, o vídeo tem uma 'palavra-chave' e um gesto que Drueke e a sua mãe estabeleceram durante uma das suas campanhas no Iraque, para que ela soubesse que era realmente ele e que estava bem.
Drueke, que serviu no Exército dos EUA, e Huynh, que serviu nos fuzileiros, desapareceram depois do seu grupo ter sido apanhado debaixo de fogo pesado na região nordeste de Kharkiv, em 9 de junho.
A reportagem da televisão russa RT, que cita Alex Drueke, explica que os norte-americanos separaram-se do grupo e seguiram pela floresta, terminando numa vila onde foram abordados por uma patrulha russa e se renderam.
A RT, que transmite em inglês, acrescentou que estes foram detidos por forças separatistas apoiadas pela Rússia na região de Donbass, no leste da Ucrânia.
Três outros estrangeiros que lutam pela Ucrânia, dois britânicos e um marroquino, foram condenados à morte por um tribunal dirigido por separatistas em Donetsk, no Donbass.
Washington tem insistido que qualquer capturado deve ser considerado prisioneiro de guerra e protegido por garantias de tratamento humano e julgamentos justos.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 4.569 civis morreram e 5.691 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 118.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.